Renamo diz duvidar dos números do governo sobre ciclone Idai

José Manuel Moisés, vereador institucional do Conselho Autárquico da Beira, alerta que se surgir um novo Idai, a cidade que é capital da província de Sofala "poderá ser varrida do mapa geográfico do país".


Pessoas amontoaram-se em cima de telhados e no que restou dos edifícios arrasados pelos efeitos do ciclone Idai
Renamo diz duvidar dos números apresentados pelo governo moçambicano sobre o verdadeiro impacto do ciclone Idai. "A realidade no terreno é outra. Há corpos espalhados pelas águas. Pessoas por cima das árvores. Tudo o que até aqui tem sido anunciado sobre vítimas humanas, infraestruturas, bens e pessoas desaparecidas não passa de uma falácia com intenção de nos despistar da realidade", afirmou esta quarta-feira, em conferência de imprensa, em Maputo Juliano Picardo, assessor político do presidente da Renamo, Ossufo Momade, segundo o jornal online moçambicano Cartaz de Moçambique.
O Instituto Nacional de Gestão das Calamidades de Moçambique comunicou hoje que 40 mil pessoas já foram resgatadas, havendo ainda 347 mil pessoas em risco na província de Sofala, sobretudo em Buzi, que se arrisca a ficar submersa. Esta entidade, que situa o número oficial de mortos ainda nos 202, divulgou imagens de moçambicanos a serem transportados de helicóptero pelos membros das equipas de socorro mobilizados para o terreno. Há dias, o presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, saído da Frelimo, admitira que o número de mortos pode chegar aos mil.
Picardo, instado a contrapor números, disse ser prematuro fazê-lo, pois se o fizessem "estaríamos a ser hipócritas". O assessor do sucessor de Afonso Dhlakama na liderança do maior partido da oposição em Moçambique lamentou que haja comerciantes locais a aproveitar-se da situação para aumentar os preços dos bens e denunciou que o preço do chapa na Beira aumentou de 15 meticais para 30 meticais. No câmbio atual 1 euro são 70 meticais. Picardo, ainda segundo o Cartaz de Moçambique, apelou a que os apoios sejam canalizados também para os residentes da cidade da Beira, capital da província de Sofala, não apenas para os centros de acomodação. Segundo o assessor do presidente da Renamo a zona urbana da cidade, que ficou destruída em cerca de 90%, abriga muitas pessoas cujas residências ficaram sem teto e vivem agora momentos dramáticos.
Rafael Bie, ex-jornalista e atual assessor do ministro dos Recursos Minerais e Energia, Max Tonela, encontrava-se na Beira em trabalho - onde ainda continua - e contou, num artigo para o Cartaz de Moçambique, o que se passa no terreno. "A cidade da Beira em particular tornou-se refúgio de populações que conseguiram sair com vida de alguns distritos de Sofala, idas de Buzi, Bhamadanta, Mwanza, entre outros. Estão na cidade da Beira sem destino. Um grupo de desalojados intercetou o ministro dos Recursos Naturais e Energia, Max Tonela, pedindo mantimentos e abrigo, mas sobretudo clamava ao governante, um apoio às populações cercadas pelas águas", lê-se no artigo, datado de terça-feira.
"Estamos a pedir para irem salvar as pessoas lá no Buzi, nós escapámos da fúria das águas", diziam com lágrimas escorrendo a face. Exibiam a Max Tonela os seus telefones celulares, mostrando imagens do que realmente estava a acontecer. Simplesmente um drama humano. Não partilharam as imagens porque as três operadoras foram desativadas pelo ciclone", prossegue Rafale Bie, notando que é no aeroporto internacional da Beira que tudo acontece, sendo a base de coordenação das operações de resgate e salvamento. Aí estão funcionários da UNICEF, PAM, Cruz Vermelha, Crescente Vermelho, Instituto Nacional de Gestão das Calamidades. E jornalistas. Em busca de uma linha comunicação. A Tmcel anunciou ao início desta quarta-feira que já era possível captar rede telefónica na cidade da Beira.
Em declarações à rádio Voice of America, José Manuel Moisés, vereador institucional no Conselho Autárquico da Beira, reconheceu que a cidade está a viver uma "autêntica catástrofe" e a reconstrução irá levar anos. Afirmando ser impossível quantificar, para já, os prejuízos, o vereador declarou não ter dúvidas de que os custos "são muito avultados e, sozinho, o município não vai conseguir fazer nada".
Em 2018, em entrevista à mesma rádio, o presidente do Conselho Municipal da Beira, Daviz Simango, afirmara que para realizar um trabalho definitivo de proteção costeira o município local precisaria de pelo menos 600 milhões de dólares (cerca de 529 milhões de euros), valor que, com o Idai, aumentará substancialmente.
Um dos grandes desafios, declarou José Manuel Moisés à Voice of America, será conseguir dinheiro para garantir a proteção costeira, uma vez que parte dessa barreira foi duramente atingida pelo ciclone. Se tal não acontecer, o vereador alerta que se surgir um novo Idai, Beira "poderá ser varrida do mapa geográfico do país". Os prejuízos ainda estão a ser contabilizados pelo Conselho Municipal.
Entretanto, num artigo de opinião, datado de terça-feira, Marcelo Mosse, diretor do jornal online Cartaz de Moçambique, questiona-se sobre o paradeiro de Daviz Simango, que além de presidente do Conselho Municipal da Beira é também o líder do Movimento Democrático de Moçambique, MDM, o terceiro partido do país. "Espero que por artes de berliques e berloques o governo central não tenha vaporizado Daviz Simango. Seu sumiço é gritante. E não me venham dizer que ele está a ser censurado pelos canais de televisão (TVM, STV, Miramar) controlados pelo regime", escreveu o jornalista, interrogando-se: "Onde raio se meteu Daviz Simango?".
FONTE: DIÁRIO DE NOTÍCIAS

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