REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE: COMPARANDO RESULTADOS APÓS CINCO ANOS DA CONSTRUÇÃO DE OBRAS DE ENGENHARIA COSTEIRA
Metropolitan Region of Recife:
comparing results after five years of coastal works
A Região Metropolitana de
Recife (RMR) é considerada a área mais crítica do Brasil com relação a erosão
costeira. Com uma população de 3,3 milhões de habitantes e uma densidade
demográfica de 1.203,26 hab./km² a RMR é uma área bastante antropizada. Estudos
apontam que mais de 60% do litoral do Estado de Pernambuco está com processo
erosivo.
Em 2013, foram construídas
obras de proteção costeira com o objetivo de controlar os processos erosivos
nos municípios de Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda e Paulista.
É importante observar que para
se obter uma melhor eficácia nos resultados nas obras de engenharia para
controle da erosão costeira em áreas urbanizadas, é necessário comparar o custo/benefício das obras
de proteção costeira, levando-se em conta de forma simultânea: o custo de implantação,
a disponibilidade do material a ser utilizado, o impacto ambiental, a
durabilidade e o custo de manutenção.
BREVE
HISTÓRICO
Em 2010, o Parlamento
Metropolitano de Recife realizou o I Seminário Nacional sobre o Avanço do Mar
com o objetivo de debater os problemas da erosão marinha na RMR. Na
oportunidade foram abordados temas como mudanças climáticas, histórico das
ações emergenciais realizadas em outras localidades brasileiras com este
problema e os impasses e desafios para o combate a erosão costeira em
Pernambuco. No final do encontro foi criada a Carta Metropolitana, posteriormente
encaminhada ao governo do Estado de Pernambuco, com as considerações para o
acompanhamento das políticas estaduais de enfrentamento à erosão marinha.
Em 2011, o Parlamento
Metropolitano de Recife realizou o I Seminário Internacional sobre Obras de
Recuperação de Praias e Contenção Costeira com o objetivo de conhecer
experiências de outras regiões tanto no Brasil como em Portugal, para uma ação
integrada eficaz e de baixo custo de manutenção. Foram debatidos temas como as
necessidades de intervenções imediatas como as existentes no Forte de Pau
Amarelo em Paulista. Após a conclusão do seminário foram encaminhadas propostas
ao Governo do Estado com propostas para evitar a erosão costeira.
Em 2012, o Governo de Pernambuco através da Secretaria de Meio Ambiente
e Sustentabilidade (SEMAS) apresentou o Relatório de Impacto Ambiental feito
pelo Instituto de Tecnologia de Pernambuco (ITEP) para acompanhar e coordenar
os estudos ambientais do Projeto de Recuperação da Orla Marítima dos municípios
de Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda e do Paulista. O objetivo do
projeto foi a análise e o controle dos efeitos das mudanças climáticas nos
respectivos municípios litorâneos, recuperando as praias erodidas repercutindo
no desenvolvimento socioeconômico e ambiental da região. O relatório apresentou
as diretrizes a serem perseguidas para obtenção dos resultados almejados. A
solução indicada no Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) foi a engorda
artificial e avaliou os diferentes tipos de impactos ambientais do
empreendimento. Foram elaborados 25 Programas
Ambientais para subsidiar o desenvolvimento da gestão da área. Todas as medidas
mitigadoras e de controle previstas para as fases de planejamento, implantação
e gestão foram adotadas para garantir o êxito da obra.
Engorda
na orla de Jaboatão dos Guararapes
Em fevereiro de 2013, a prefeitura
de Jaboatão dos Guararapes deu inicio a obra da engorda artificial das praias
de Barra de Jangada, Candeias e Piedade com recursos do Governo Federal e
Municipal. O contrato da Prefeitura foi de R$ 41,5 milhões para execução dos
serviços da engorda numa extensão de praia de 5,8 km. O volume de areia dragado
foi de aproximadamente 1 milhão de metros cúbicos, o equivalente a 84 mil
caminhões do tipo caçamba cheios.
Após a conclusão da engorda,
pouco antes do final dos trabalhos, o mar continuou a avançar em alguns trechos
da praia, levando parte da areia da engorda feita em quatro pontos do litoral.
Os quatro pontos
foram esses:
Fonte:
www.marluscosta.com,br
Na oportunidade a prefeitura
se posicionou e fez as devidas correções sem custos adicionais ao contrato num
período de 30 dias.
Em 2016, três anos depois da
conclusão da engorda da orla de Jaboatão dos Guararapes, o município teve que
refazer algumas partes da obra. As ocorrências foram nas proximidades do Hotel
Monza, em Barra de Jangada. A prefeitura teve que investir R$ 1,2 milhões para
repor 6 mil metros cúbicos de areia nas praias de Candeias e Piedade.
Engorda da praia de Jaboatão após cinco anos garantindo a
faixa de areia. Foto: Julio Jacobina/DP
Em 2018, alguns trechos da
orla voltaram a sofrer forte processo erosivo. Em Candeias a maior parte da
areia usada na contenção do avanço do mar foi levada pela água. Existe um
projeto da prefeitura para corrigir o problema com um custo de R$ 7 milhões. Há
também a necessidade de realizar o
enrocamento em Piedade, próximo ao Hotel Golden Beach. A obra prevê instalação
de cerca de 2 mil m3 de quebra-mar. Será construído um arrecife artificial de
140 metros de comprimento entre os arrecifes naturais, com o objetivo de reduzir
a correnteza e preservar a areia. Todos os investimentos para manutenção da
engorda estão em fase de captação de recursos.
Enrocamento na orla de Recife
A prefeitura de Recife realizou nos
últimos cinco anos o monitoramento e a manutenção do enrocamento das pedras que
fazem a contenção do mar de Boa Viagem. O valor gasto na ação é de cerca de R$
1,8 milhão por ano. O trecho com
enrocamento tem uma extensão de 2,5 km.
Enrocamento na praia de Boa Viagem em Recife. Foto Autoral.
A engorda da praia de Boa Viagem que irá
recompor 5 km da faixa de areia da orla, orçada em R$ 66 milhões, encontra-se
também em fase de captação de recursos.
Enrocamento na orla de Olinda
Em
2013, a prefeitura de Olinda executou obras de contenção costeira, dentro do
projeto de revitalização e a urbanização da orla, recompondo
os espigões existentes e construindo 1,65 km de enrocamento. O investimento em
obra de contenção costeira nos últimos cinco anos foi de R$ 6 milhões. Existe
um projeto de engorda para as praias de Olinda estimado em R$ 43 milhões, recurso
que poderá ser captado para realização das obras, sem previsão por enquanto.
Enrocamento
na praia de Rio Doce em Olinda. Foto Autoral.
Dissipador e Energia Bagwall na orla do Paulista
O problema da erosão costeira
no litoral do Paulista não foi corretamente sanado pelas inúmeras obras de
proteção que foram edificadas nas décadas de 1990 e 2000. A construção de
estruturas rígidas artificiais, aliada às alterações do suprimento sedimentar
das praias, contribuiu para um recuo médio de 100 m da linha de costa do
litoral de Paulista ao longo dos últimos 15 anos.
Na década de 90, foram
construídos espigões, quebra-mares e engorda artificial na praia do Janga. Após
a construção das referidas obras, quatro trechos da orla intervencionada
apresentaram forte processo erosivo numa extensão de 0,7 km. Ocorreu também a
transferência do processo erosivo para a vizinha praia de Pau Amarelo,
provocando destruição numa extensão de aproximadamente 5 km.
Com o agravamento do problema
da erosão na orla do Paulista, inclusive ameaçando o histórico Forte de Pau
Amarelo, a prefeitura municipal utilizou como mitigação de forma emergencial a
construção de um Dissipador de Energia Bagwall, para contenção da erosão
costeira na praia de Pau Amarelo.
Bagwall
contém o avanço do mar em frente ao Forte de Pau Amarelo em Paulista/PE. Foto
Autoral
Em agosto de 2013, a prefeitura
do Paulista executou a obra de contenção do Bagwall numa extensão de 4 km, nas
praias do Janga, Pau Amarelo e Conceição, com recursos dos governos Federal e
Municipal. Foram captados R$ 28 milhões junto ao Ministério da Integração
Nacional. O Bagwall, feito com
sacos biodegradáveis preenchidos de concreto usinado e bombeado em formato de
escadaria. O diferencial dessa tecnologia, é estancar a erosão costeira no
local da intervenção, devolvendo a praia aos banhistas, a técnica não exige
grandes investimentos em manutenção, como a engorda.
O levantamento costeiro da
orla do município do Paulista apontou um grande índice de erosão, a intervenção
da engorda está estimada em R$ 150 milhões.
O município está mobilizado para captar recursos junto aos governos
estadual e federal, para viabilizar a engorda das praias que hoje sofrem com a
erosão marinha.
COMPARANDO
OS RESULTADOS
Para realização de uma
comparação entre os resultados alcançados é preciso analisar o que foi feito
nos últimos cinco anos em termos de custos de implantação e manutenção de cada
obra, seus impactos ambientais e suas respectivas durabilidades.
ANÁLISE FIANANCEIRA DOS
INVESTIMENTOS
Para uma análise financeira
das obras realizadas nos últimos cinco anos na Região Metropolitana do Recife,
temos o quadro demonstrativo abaixo:
QUADRO
DEMONSTRATIVO FINANCEIRO DAS OBRAS COSTEIRAS NA RMR DE 2013 A 2018
OBRA
|
EXTENSÃO (km)
|
MUNICÍPIO
|
CUSTO DE IMPLANTAÇÃO
|
CUSTO DE MANUTENÇÃO
|
CUSTO TOTAL
|
CUSTO TOTAL POR KM
|
Engorda
Artificial
|
5,80
|
Jaboatão
dos Guararapes
|
R$
41,5 milhões
|
R$
1,2 milhões
|
R$
42,7 milhões
|
R$
7,36 milhões
|
Enrocamento
|
2,50
|
Recife
|
-------------------
|
R$
9 milhões
|
R$
9 milhões
|
R$
3,6 milhões
|
Enrocamento
|
1,65
|
Olinda
|
R$
5 milhões
|
R$
1 milhão
|
R$
6 milhões
|
R$
3,63 milhões
|
Bagwall
|
4,00
|
Paulista
|
R$
28 milhões
|
--------------------
|
R$
28 milhões
|
R$
7 milhões
|
Diante do quadro demonstrativo
acima apresentado é possível observar que as obras de enrocamento apresentaram
o menor custo de implantação R$ 3,03 milhões/km, o Bagwall custou R$ 7
milhões/km e a engorda artificial R$ 7,16 milhões/km.
O custo de manutenção da obra
de enrocamento foi a mais cara com um custo de R$ 3,6 milhões/km, a engorda
artificial teve um custo de R$ 210 mil/km e o Bagwall não teve custo de
manutenção no período.
O custo total investido nos
últimos cinco anos por km de praia ficou assim distribuído por município:
Jaboatão dos Guararapes
investiu R$ 7,36 milhões/km;
Recife investiu R$ 3,6 milhões
/km;
Olinda investiu R$ 3,63
milhões/km;
Paulista investiu R$ 7
milhões/km.
A análise financeira isolada da
questão, indica que o custo mais barato para obra de contenção costeira é o enrocamento,
seguido pelo Bagwall e depois pela engorda artificial.
ANÁLISE DOS IMPACTOS
AMBIENTAIS
Engorda
na orla de Jaboatão dos Guararapes
A alimentação
artificial de praias, conhecida também como “engorda artificial de praias”, é
uma solução de proteção costeira usada para evitar ou reduzir a erosão da linha
de costa. Sua utilização se dá quando se pretende preservar, alargar ou formar
praias e dunas compensando a erosão verificada, aumentando a largura da praia.
Este enchimento artificial pode atenuar os efeitos da erosão das praias a
jusante, uma vez que pode se constituir numa fonte adicional de sedimentos.
Do ponto de vista ambiental, os
resultados positivos da engorda das praias de Barra de Jangada, Candeias e
Piedade, demonstram que a experiência foi exitosa, reduzindo o forte impacto
visual causado pelas obras de enrocamento substituindo a pedra por areia,
devolvendo a população sua praia recreativa.
Enrocamento
nas orlas de Recife e Olinda
Utilizado como obra
emergencial, o enrocamento vem cumprindo seu papel na contenção da erosão
costeira nas orlas das praias de Recife e Olinda. Os impactos ambientais dessa
obra são os seguintes:
- A ocupação no terraço de
praia reduzindo o espaço de lazer para a população, isto é a praia fica
confinada;
- A dificuldade de acesso da
população ao mar, limitado apenas as escadas de madeira espaçadas ao longo do
trecho;
- As pedras do enrocamento acabam servindo de esconderijo e abrigo para os
ratos que se proliferam no local.
Barra
Mar Bagwall na orla do Paulista
O problema da erosão costeira no
litoral do Paulista não foi corretamente sanado pelas inúmeras obras de
proteção que foram edificadas nas décadas de 1990 e 2000.
A crescente
demanda por obras de proteção costeira no litoral do Brasil e os resultados
positivos obtidos nas quatro obras realizadas com o uso do Bagwall no
litoral de Alagoas decorrem do melhor custo/benefício (Souza, 2008) e levaram o
município do Paulista a optar por esta nova tecnologia de contenção.
Na área intervencionada,
após a construção da obra, o impacto ambiental foi baixo, a praia natural
recreativa foi devolvida à população, que antes estava limitada pela existência
de escombros, impossibilitando o uso desse importante equipamento de lazer.
ANÁLISE DA DURABILIDADE DAS
OBRAS
Engorda
na orla de Jaboatão dos Guararapes
A utilização desta técnica corresponde a soluções temporárias e de
emergência. Geralmente a alimentação artificial é utilizada associada a outras
obras de proteção costeira de forma complementar tais como: espigões,
quebra-mares e molhes. O objetivo dessas obras complementares é aumentar o
tempo de retenção dos sedimentos na praia, prolongando o tempo de reposição
periódica de sedimentos para manter a faixa de praia.
São soluções onerosas e de projeto difícil, não só pela diversidade de parâmetros envolvidos que deve considerar as zonas de empréstimo, os níveis energéticos, as características e o controle do material a depositar na praia, que compreende os ciclos periódicos de enchimento e emagrecimento, mas acima de tudo devido ao alto grau de incerteza quanto à durabilidade da intervenção.
São soluções onerosas e de projeto difícil, não só pela diversidade de parâmetros envolvidos que deve considerar as zonas de empréstimo, os níveis energéticos, as características e o controle do material a depositar na praia, que compreende os ciclos periódicos de enchimento e emagrecimento, mas acima de tudo devido ao alto grau de incerteza quanto à durabilidade da intervenção.
No caso da engorda de Jaboatão
dos Guararapes, é preciso corrigir alguns trechos que voltaram a ter erosão
marinha. Em Candeias, é preciso corrigir alguns trechos da engorda que voltaram
a ser engolidos pelo mar. Na praia de Piedade, está previsto a construção de um
Quebra-mar de 140 metros de comprimento entre os arrecifes naturais, para
tentar aumentar o tempo de retenção da areia na praia. O município de Jaboatão
dos Guararapes dispõe de projeto e precisa investir em obras complementares
para preservar a engorda de suas praias. Serão necessários mais de R$ 10
milhões para garantir o bom funcionamento da engorda nos 5,8 km da orla.
Enrocamento
nas orlas de Recife e Olinda
Enquanto as obras da engorda
artificial de praias não chegam, os municípios de Recife e Olinda deverão
continuar com as despesas da manutenção do enrocamento em suas praias.
Em Recife, desde a década de
1990, a solução emergencial do enrocamento foi implantada na praia de Boa
Viagem. Considerando que o custo de manutenção do enrocamento foi de R$ 1,8
milhão/ano, no período de 2000 a 2018, o município já teve despesas da ordem de
R$ 30 milhões com a manutenção da obra.
Barra
Mar Bagwall em Paulista
Toda obra de contenção
costeira por estar localizada numa área de alta dinâmica, deve ser monitorada
para garantir a eficácia da solução. A estrutura de contenção costeira do Barra
Mar Bagwall construída em Paulista, cumpriu seu papel nos últimos cinco anos. O
objetivo principal foi cumprido, a contenção do recuo da linha de costa.
É importante observar que em
alguns trechos das praias, após a construção da obra ocorreu o acúmulo de
sedimentos no terraço de praia, devido ao processo dissipativo induzido pela
estrutura construída no local.
Uma vantagem dessa estrutura é
que caso a engorda da praia seja implantada no litoral do Paulista, a estrutura
dissipativa ajudará a manter o sedimento na praia, aumentando a vida útil da
engorda.
CONCLUSÃO
Nos últimos cinco anos foram
investidos cerca de R$ 86 milhões em obras de contenção costeira na Região
Metropolitana de Recife. Para viabilizar o projeto do ITEP nos municípios que
não implementaram a engorda artificial serão necessários mais de R$ 250 milhões
para atender os municípios de Recife, Olinda e Paulista.
Em Jaboatão dos Guararapes, a
engorda obteve êxito no seu objetivo devolvendo a praia recreativa a população,
entretanto, há necessidade de realizar obras complementares para garantir o
grande investimento feito, evitando o risco de desperdiçar o investimento já
realizado.
Recife e Olinda, precisam
investir com urgência na engorda de suas praias, caso contrário, terão que
permanecer investindo alto na manutenção do enrocamento, sem melhorar a
qualidade ambiental de suas praias.
Paulista optou pelo Barra Mar
Bagwall de forma emergencial, que tem cumprido o seu papel, contendo a erosão
costeira onde foi instalado, sem transferir o processo erosivo para áreas
adjacentes, garantindo o acesso da população a praia recreativa. O desafio para
o município será investir recursos da ordem de R$ 150 milhões para engordar
suas praias. Em caso de dificuldade na captação destes recursos para engorda, o
município dispõe da tecnologia do Bagwall, para proteger sua orla com um melhor
custo/benefício.
FONTE: BLOG MARCO LYRA
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