SINAL AMARELO: Coral originário do Oceano Pacífico ameaça equilíbrio marinho (AL)

Órgãos ambientais fazem monitoramento da costa litorânea de Alagoas; danos podem ser irreversíveis

Coral-sol é ameaça espécies da fauna marinha de Alagoas
Uma espécie aparentemente frágil e de cores vibrantes tem preocupado ambientalistas e ameaçado o equilíbrio da costa centro-norte de Alagoas. Conhecida por ser predadora de corais, ela chegou ao estado de Sergipe e, agora, representa um risco real à biodiversidade marinha e a dezenas de cidades costeiras alagoanas.

Introduzida no Brasil nos anos 80, por meio de navios-sonda ou plataformas de petróleo que tinham como ponto de partida o Oceano Pacífico, a Tubastraea coccineaou "coral-sol", como é mais conhecida a espécie, encontrou o ambiente propício para reprodução nas águas do Rio de Janeiro, de onde se espalhou para diversos estados.

A principal característica deste tipo de espécie, segundo especialistas, é a capacidade de proliferação. Aliado ao grande poder de reprodução, há o fato de não existirem predadores naturais. A soma dos dois fatores pode provocar danos irreversíveis à Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais, entre Alagoas e Pernambuco.

APA Costa dos Corais pode ser afetada pela
chegada do coral-sol | FOTO: INSTITUTO AQUA TER
É que a APA, como é chamada a área, é a maior faixa contínua de corais do país e, caso o "coral-sol" se instale e se prolifere no local, ela pode ser drasticamente reduzida ao longo dos anos, o que causaria um forte desequilíbrio marinho, com o desaparecimento de espécies típicas da região, além do avanço do mar sobre as cidades.

Para evitar que o "coral-sol" chegue ao estado, o Ministério Público Federal (MPF) fez uma recomendação e ambientalistas montaram uma força-tarefa para fazer o monitoramento subaquático e vistoria em navios. O grupo é formado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), Instituto do Meio Ambiente (IMA), Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh) e Universidade Federal de Alagoas (Ufal).

"Nos últimos anos, o Porto de Maceió passou a receber plataformas de petróleo, que são a principal porta de entrada da espécie. Foi, então, criada uma comissão, para vistoriar as plataformas e evitar que o coral se instale e comprometa o ecossistema", explica Ricardo César, coordenador de Gerenciamento Costeiro do IMA.

Juliano Maurício diz que danos ao meio ambiente são incalculáveis
FOTO: EDUARDO ALMEIDA
Com recifes comprometidos, mar deve avançar sobre cidades

O receio dos especialistas se deve à capacidade de proliferação do "coral-sol". Com uma estrutura frágil, a espécie libera pólipos que são responsáveis pela reprodução sempre que entra em atrito com superfícies mais rígidas. Esses pequenos fragmentos poderiam ser levados pela correnteza marítima e rapidamente se espalhar pela costa.

O biólogo Juliano Maurício explica que, num cenário hipotético, depois de se fixar no litoral alagoano, o "coral-sol" começaria a "matar" outras espécies que existem atualmente no habitat e que, a longo prazo, o mar avançaria sobre as cidades. 

"Imaginemos os estragos que poderiam ser provocados por 10 ou 20 anos de reprodução da espécie. O processo de erosão costeira seria acelerado e os prejuízos seriam incalculáveis. Hoje podemos observar que o mar já está muito próximo da faixa de areia em alguns trechos. Imagine com o possível avanço do mar", pondera.

Ricardo César fala em impacto ambiental,
social e econômico | FOTO: ARQUIVO PESSOAL
De acordo com o coordenador de Gerenciamento Costeiro do IMA, Ricardo César, o litoral centro-norte de Alagoas estaria sujeito e completamente vulnerável à erosão. Ele explica que seriam afetadas, pelo avanço do mar, as cidades localizadas entre Maceió e Maragogi.

"É importante destacar que o desequilíbrio ambiental provocaria danos não só ao meio ambiente, mas provocaria problemas sociais e econômicos. Quantas famílias que vivem do turismo e da pesca seriam prejudicadas? De qual atividade econômica essas pessoas sobreviveriam? Como calcular esse impacto?", questiona Ricardo César.

Sem corais, espécies da fauna marinha desaparecem

A principal consequência ambiental provocada pela alteração da dinâmica costeira é o desaparecimento de espécies da fauna marinha. É que os corais encontrados em Alagoas abrigam animais que dependem dessa estrutura para sobreviver.

Matheus Gonzalez afirma que espécies
poderiam desaparecer | FOTO: ARQUIVO PESSOAL
"O próprio coral é uma espécie que seria reduzida Mas, as consequências devem se estender a peixes e crustáceos. Essas espécies poderiam desaparecer sem o habitat natural, causando um grande desequilíbrio", afirma Matheus Gonzales, superintendente de Meio Ambiente da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh).

Gonzales cita como exemplo o "camarão-palhaço", uma espécie de crustáceo que pode ser encontrada em Alagoas e que, segundo ele, poderia desaparecer sem a estrutura rígida que é formada pelos corais existentes no estado.

O biólogo Juliano Maurício diz que, assim como acontece com o "camarão-palhaço", existem espécies que só podem ser encontradas em determinados tipos de corais, como é o caso do "coral de fogo", que sofreriam uma redução significativa. 

"Nos casos em que não houvesse o desaparecimento dos animais, haveria, no mínimo, uma grande redução. Um ponto que precisa ser lembrado é que algumas dessas espécies só podem ser encontradas em Alagoas", lembra o biólogo.

Mergulhadores fazem vistoria em navio atracado no porto de Maceió
FOTO: CORTESIA/IMA
Monitoramento tenta evitar chegada do "coral-sol" a Alagoas

Para evitar que o "coral-sol" chegue a Alagoas, uma força-tarefa formada por integrantes de órgãos ambientais e órgãos de fiscalização vem realizando ações preventivas em navios-sonda e plataformas de petróleo que chegam ao estado. As embarcações que atracam no Porto de Maceió passaram a ser vistoriadas por mergulhadores desde o início do ano.

"O MPF [Ministério Público Federal] fez uma recomendação e nós fizemos uma primeira vistoria em uma embarcação que está atracada no porto para checar se a espécie estaria encrustada no casco do navio, mas nada foi encontrado. Nós estamos planejando, agora, novas vistorias", diz Ricardo César, coordenador de Gerenciamento Costeiro do IMA.

O biólogo Fillype Quintela foi um dos mergulhadores que participaram da inspeção. Ele explica que os trabalhos consistiram na vistoria da parte externa do navio-plataforma Aban Abrahan.

Porto de Maceió recebe navios-sonda e
plataformas de petróleo | FOTO: CORTESIA/IMA
"A inspeção é feita por profissionais especializados, porque, quando identificamos a espécie, é necessário fazer a remoção. Mas, a retirada, se não for feita da forma adequada, pode facilitar a proliferação. Existe uma técnica para remover o 'coral-sol'", acrescenta.

O biólogo Juliano Maurício diz que, além das vistorias preventivas, existem barreiras naturais que dificultam a chegada da espécie no estado. O profissional ressalta, no entanto, que não se pode minimizar o fato de que o "coral-sol" chegou a Sergipe.

"O Rio São Francisco é uma dessas barreiras naturais. O 'coral-sol' está presente na Bahia e foi encontrado em Sergipe, mas o Rio São Francisco dificulta a chegada dele em Alagoas. Porém, as vistorias são importantes instrumentos para preservar o meio ambiente marinho", diz.

Fonte: Gazeta Web

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