Mudanças climáticas: uma ameaça e uma oportunidade

Por Maria d’Aires Soares, Chefe da Representação da Comissão Europeia em Portugal

Maria D'Aires 300 dpiA União Europeia tem um papel preponderante e único em vários temas globais. Alinhado com a nossa forma ímpar de ser, com base nos valores de justiça social, de solidariedade e de sustentabilidade, lideramos o debate e exercemos o papel de mediador honesto em questões globais, como é o caso das alterações climáticas.

Um tema que preocupa bastante a grande maioria dos portugueses, segundo um estudo do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa apresentado a 15 de dezembro. Os resultados mostram que os portugueses estão “preocupados” (43%) ou mesmo “muito preocupados” (56%) com as alterações climáticas.

Um dado interessante é que embora as alterações climáticas tenham consequências perigosas que já se sentem (por exemplo com o aumento das secas e das cheias em países como o nosso), cerca de 80% dos inquiridos em Portugal consideram as alterações não tanto como uma ameaça, mas sim como uma oportunidade para melhorar a qualidade de vida. Uma oportunidade para investir em energias renováveis e numa economia hipocarbónica. Duas grandes apostas da Comissão Europeia. Isso significa, por outro lado, desincentivar e diminuir o uso dos combustíveis fósseis, como o petróleo e o carvão. As políticas públicas terão de desempenhar o seu papel, mas também significa que cada um de nós deve estar disponível para fazer algumas mudanças importantes na forma como usamos a energia na nossa vida, nos transportes, para aquecimento e nos nossos negócios.

A conferência das Nações Unidas sobre alterações climáticas – conhecida como a COP21 – reuniu em Paris representantes de 195 países mais a União Europeia e terminou no passado 12 de dezembro com um acordo considerado histórico porque é global e também, pela primeira vez, legalmente vinculativo. Este acordo define um plano de ação ambicioso para limitar o aquecimento global bem abaixo dos 2°C.

Mas porque é que isto é importante? Porque se continuarmos na tendência atual de aquecimento global, sem ter uma ação urgente e universal, as consequências serão extremamente perigosas. Existem zonas do mundo que já sofrem hoje consequências muito visíveis, com o avanço do mar ou com catástrofes naturais sem precedentes. Muitas destas zonas estão em países mais vulneráveis, sem recursos para evitar ou lidar com as situações, acelerando a espiral da pobreza, os fluxos das migrações forçadas e potenciando novos conflitos. As alterações climáticas têm consequências concretas em praticamente todas as áreas da nossa vida.

A conferência COP21 durou cerca de 2 semanas, mas o acordo que se adotou é o resultado de um trabalho que vem bem antes disso. A comunidade internacional fez já um longo caminho para conseguir este acordo. Com muitos desafios, muitos debates, muitas tentativas e alguns insucessos. O Protocolo de Quioto teve, como é sabido, uma fraca participação e houve uma falta de acordo em Copenhaga em 2009.

A União Europeia fez questão, portanto, de criar condições, com muito trabalho de bastidores e prévio para que a maioria dos países, tanto os mais desenvolvidos como os em desenvolvimento, fossem a favor de uma ambição maior, o que foi chave para o fecho da conferência de Paris que foi considerado um sucesso.

Este Acordo de Paris define claramente a transição global para a energia limpa de forma definitiva e que os recursos têm de passar dos fosseis poluentes para as energias renováveis.

Como disse o Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, o mundo está hoje unido contra a luta contra as mudanças climáticas. E é algo que é urgente abraçar, como sublinha: “temos uma última oportunidade para deixar às gerações futuras um mundo que seja mais estável, um planeta mais saudável, sociedades mais justas e economias mais prósperas”.

Podemos e devemos ter orgulho no nosso papel, como europeus, neste processo. Temos sido líderes a nível global na ação em relação às mudanças climáticas e o Acordo de Paris reflete a ambição europeia.

Mas claro, tudo isto só conta realmente quando for posto em prática. As promessas têm de ser cumpridas. E isso é uma tarefa para todos nós. Estão preparados?

Fonte: oribatejo.pt

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