O muro da discórdia no Litoral Sul (PE)

Ministério Público de Pernambuco instaura procedimento para investigar construção à beira-mar que não tem licença da Prefeitura de Ipojuca

Ao cavar a fundação do muro e remexer a areia da praia, provocou-se uma mancha escura na água do mar
Uma obra de contenção do mar feita pelo condomínio Ekoara Residence na beira-mar de Muro Alto, Ipojuca, será investigada pelo Ministério Público de Pernambuco. A construção do muro não tem autorização da Secretaria de Meio Ambiente e Controle Urbano. Para especialistas em gerenciamento costeiro, ainda que fosse autorizado, o projeto - assim como outros do litoral pernambucano - é inadequado do ponto de vista ecológico, por se tratar de um muro de concreto em área costeira, estrutura que pode aumentar ainda mais o processo erosivo da praia.

A obra começou a chamar atenção da população porque a máquina que está cavando a fundação do muro, ao remexer a areia, provocou uma mancha escura na água do mar. Isso acontece porque a água do subsolo tem tonalidade marrom. 

A Promotoria de Justiça do município foi acionada e averiguou que não se tratava de mancha de óleo. Mas informou que vai instaurar procedimento para verificar se houve dano ambiental. “No laudo da Guarda Municipal ficou constatada a construção irregular de um muro para conter os avanços do mar”, informou o MPPE, por nota. 

Segundo a assessoria de comunicação da prefeitura, a obra foi interditada e o condomínio notificado em 21 de setembro. Ontem, contudo, a reportagem do Diario esteve no local e a máquina estava cavando areia. “O município acionou o Ministério Público de Pernambuco para que as providências cabíveis ao referido órgão fossem realizadas”, completou a assessoria de comunicação de Ipojuca. 

Por e-mail, o síndico do Ekoara, Daniel Q. Albuquerque, disse que “a destruição ocorrida no mês de julho, com ondas de 3m de altura que atingiram o litoral pernambucano, nos motivou a fazer o muro de contenção.” 

A condômina Suely Domingues acrescentou que os proprietários fizeram um estudo, através da empresa Eficaz, e apresentaram ao município, que, segundo ela, autorizou a construção. “Estamos defendendo nosso patrimônio. Quando a maré está cheia, as pessoas não podem passar porque não existe faixa de areia. E o nosso muro prevê a construção de uma passarela, que poderá ser usada pela população. E nós já recuamos cinco metros para construir esse muro”, justificou Suely. 

Segundo ela, outras medidas já foram realizadas, sem sucesso. “Colocamos bagwall, mas com o tempo a água do mar vai arrastando. Outros condomínios usam canos de ferro, muros de concreto e pedras. E só resolve por um tempo”, disse Suely.

Estratégias erradas para conter o mar
Ao longo de Muro Alto, residências, condomínios e hotéis têm estratégias para impedir o avanço da água do mar utilizando concreto, pedras, bagwall ou canos de ferro e aço. Todas as alternativas são inadequadas, segundo a coordenadora estadual do gerenciamento costeiro da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Andrea Olinto. 
“O problema se estende a todo o litoral pernambucano. As construções avançam, aumentam a metragem quadrada e depois justificam que o mar está avançando,” lembra.

“Quando o mar avança e encontra areia, ela amortece e absorve a água. Se o mar encontra uma barreira, carrega a areia e aumenta o processo erosivo”, explica Andrea. 
Segundo ela, a única saída é recuperar a faixa de areia, como na orla de Jaboatão. “Assim é possível manter o equilíbrio de ir e vir da água do mar. O resto são medidas paleativas.” 
Quanto ao avanço do mar em Ipojuca, a Secretaria municipal de Meio Ambiente informou que foi dado “início a uma parceria com a CPRH para iniciar um projeto de contenção.”

Fonte: DP

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