Cidade da Beira recusa-se a dar como perdida luta contra avanço do mar (Moçambique)

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A Beira recusa subjugar-se às frequentes invasões das águas do mar e, segundo o presidente do município da segunda maior cidade moçambicana, «a guerra não está perdida», prometendo não baixar a guarda nesta luta titânica e constante.

“Nós temos a consciência de que é um trabalho duro, mas temos feito o possível e, graças a esse trabalho, é que de facto a nossa cidade continua a salvo”, declarou à Lusa Daviz Simango, edil da Beira e que já viu o pátio do seu gabinete alagado por várias vezes.

A cidade da Beira trava há vários anos uma luta contra a invasão das águas do mar, que atinge bairros de caniço e também dezenas de luxuosas moradias, desalojando famílias, que várias vezes foram forçadas a refugiar-se em telhados de casa ou em prédios vizinhos.

Ondas de grande dimensão associadas à subida da maré projetam uma enorme quantidade de água do mar para os bairros da Praia Nova e Chaimite B, uma área habitacional de caniço com problemas de ocupação desordenada e grave défice de saneamento, onde as latrinas disputam espaços com os poços tradicionais para água de consumo, e parte da Ponta-Gêa, uma zona residencial de elite.

“Desde 2013 vivemos afogados”, descreve Custódio Cláudio, 41 anos, um morador de Chaimite B, enquanto mostra pratos, cadeiras e um balde com alimentos junto ao teto de uma casa de caniço de três metros quadrados, cercada por água salgada.

“Quando a maré enche fugimos e regressamos quando vaza”, conta à Lusa Custódio Cláudio, que continua a surpreender-se com o rápido avanço das águas do mar para as zonas habitadas.

A cidade viu o seu mangal, que servia de barreira natural de proteção contra a invasão das águas, totalmente destruído por populares, que cortaram as plantas para a construção de habitações e para lenha e, desde então, a entrada do mar nos bairros mais vulneráveis passou a ser uma rotina.

“Há três dias que as águas invadem as casas todas as manhãs e todas as tardes”, diz Luísa Evaristo, que, tal como a vizinha Cecília Manuel, receiam uma catástrofe num dia em que as “águas invadam as casas à noite, enquanto as pessoas dormem”.

Com os pés “rasgados” pela filária e envolvida pelo mau cheiro que se apoderou do bairro, Cecília Manuel apela para uma intervenção do Conselho Municipal, para reassentar as vítimas em zonas de expansão da cidade da Beira, um assunto que divide o município por causa do aparecimento de eventuais oportunistas.

A cidade da Beira foi construída sobre um pântano, na confluência dos rios Púnguè e Búzi, e abaixo da cota do nível do mar, estando agora a enfrentar uma luta sobre o avanço das águas do mar, provocado, além da destruição dos mangais, pela obstrução dos canais e esporões.

“Parte do mangal foi destruído e deu lugar a estas habitações cujos proprietários reclamam hoje pela invasão das águas”, declara Susana Tiago, acrescentando que há 15 anos “era impensável que a água fosse chegar ao prédio Cooperativa”, na altura a quase 600 metros da praia.

Para o arquiteto Marcelo Amaro, os próximos cinco anos são cruciais para a recuperação da Beira, com projetos concretos para descongestionar a zona de invasão das águas do mar, com a reabilitação de canais de respiração e esporões da cidade, além da construção de estruturas de defesa.

Em 2013, a construtora portuguesa Teixeira Duarte iniciou um ambicioso projeto de construção de esporões de pedras, após o primeiro plano, que construiu cinco quilómetros de murro de alvenaria, mostrar-se insustentável para mitigar o problema.

Contudo Daviz Simango reconheceu que a escassez de fundos tem travado várias iniciativas para desenvolver a luta, estando em curso contactos com parceiros, e evitar que a sua cidade ceda ao oceano.

Fonte: Lusa | luso-fonia.com

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