Tempestade aumenta custos de proteção de comunidades costeiras

Durante mais de um século, para o bem ou para o mal, Nova Jersey liderou o desenvolvimento costeiro do país. Muitas das ilhas-barreira ao longo da costa foram cercadas por molhes de pedra, paredões de concreto e outras barreiras de proteção. Boa parte das comunidades costeiras do estado só possuem praias porque engenheiros as preenchem periodicamente com areia tirada do mar.

Mas agora, boa parte dessa areia se foi. Por meio de relatórios ainda em fase preliminar, pesquisadores costeiros afirmam que o Furacão Sandy chegou ao litoral, levando a areia das praias para as ruas – ultrapassando as ilhas-barreira e invadindo as baías atrás delas.

Mas enquanto essas cidades clamam por mais areia, cientistas avisam que a elevação do nível do mar tornará proibitiva a manutenção de praias artificiais. Até mesmo alguns defensores das praias artificiais pedem novas abordagens para a questão, especialmente em Nova Jersey.

Há muito tempo a prática é controversa.

Oponentes da manutenção dessas praias argumentam que praias não mantidas lidam melhor com as tempestades. A areia muda de lugar e as ilhas-barreira podem até mesmo migrar em direção ao continente. Mas a praia sobrevive, uma vez que prédios e ruas não são afetados.

Em comparação, projetos de assoreamento frequentemente desaparecem muito antes do esperado. Críticos afirmam que a melhor resposta para as tempestades costeiras é mover pessoas e edifícios para longe da água, uma tática conhecida como retrocesso estratégico.

Já os apoiadores desses projetos afirmam que as praias são parte da infraestrutura do país – assim como ruas, pontes e sistemas de esgoto – e, por isso, precisam ser mantidas. Eles afirmam que as praias atraem turistas e veranistas, trazendo enormes benefícios econômicos, que superam em muito os custos dos projetos de assoreamento. Além disso, argumentam, as praias absorvem parte da energia da tempestade, poupando as construções do continente.

Nova Jersey adotou de bom grado essa abordagem. Stewart C. Farrell, professor de geologia marinha no Stockton College, de Nova Jersey, afirma que desde 1985, 61 milhões de metros cúbicos de areia foram aplicados em 87 dos 155 quilômetros de praias artificiais do estado: um caminhão cheio para cada meio metro de praia.

Farrell e seus colegas calcularam que o trabalho custou mais de 800 milhões de dólares – sem levar em conta a inflação.

Geralmente, o governo federal paga por 65 por cento da costa; o estado e as cidades dividem o restante.

Neste momento em Nova Jersey, a maioria das praias constitui "diques de engenharia", afirmou Thomas Herrington, professor de engenharia oceânica no Instituto Stevens de Tecnologia em Hoboken, responsável por avaliar a proteção costeira do estado. Cerca de metade dos projetos das comunidades costeiras ainda estão em andamento, o que significa que as praias já foram aprovadas – ao menos em teoria – e deverão ser assoreadas sempre que necessário.

Mas até mesmo quando há verba para esse tipo de serviço, os engenheiros precisam encontrar areia. Em todo o país, isso está ficando cada vez mais difícil. O problema é especialmente grave em Nova Jersey.
"Descobrimos por meio de pesquisas geológicas – e Nova Jersey é o maior exemplo disso – que a areia presente na zona costeira, areia de alta qualidade, é um recurso extremamente escasso", afirmou S. Jeffress Williams, cientista costeiro do Centro de Pesquisa Geológica dos Estados Unidos e da Universidade do Havaí.

Existem bancos de areia nas áreas costeiras, mas os engenheiros precisam ir cada vez mais longe (e gastar cada vez mais) para encontrá-los, afirmou Williams, acrescentando que "em algum momento não estarão mais lá".

Ainda que seja teoricamente possível assorear uma praia com materiais tirados do continente, essa abordagem criaria novos problemas, afirmou Robert Young, geólogo costeiro e diretor do programa para o estudo de praias artificiais na Universidade Western Carolina.

"Caminhões cheios de areia são superpesados", acrescentou. "As estradas sofrem muito com isso." Além disso, retirar areia do continente "poderia criar crateras com quilômetros de diâmetro".

Howard Marlowe, famoso defensor dos projetos de assoreamento, concorda que o país precisa de "uma melhor forma de lidar com os volumes limitados de sedimento".

Marlowe é presidente da Marlowe & Co., que representa muitas das comunidades costeiras do Atlântico e do Pacífico. Em uma entrevista, afirmou que as fontes de areia deveriam ser geridas de forma "holística" – e a partir de uma base regional, não de cidade para cidade, como ocorre atualmente.

As autoridades deveriam ver bancos de areia, portos e áreas intercosteiras como possíveis fontes de areia, afirmou Marlowe, acrescentando que "é necessário haver uma abordagem interestadual".

Segundo ele, isso é especialmente verdadeiro em Nova Jersey, uma vez que as cidades de Nova York e Delaware também estão à procura de areia. Em outras partes do país, cidades brigam para saber quem tem o direito de utilizar a areia. Cidades da Flórida já foram à justiça para resolver o problema.

A cidade de Avalon, Nova Jersey, cerca de 30 quilômetros ao norte de Cape May, vai ao banco de areia de Townsends, ao norte da cidade, em busca de areia, de acordo com Harry deButts, que se aposentou em 2008 como diretor de serviços públicos da cidade e que agora trabalha meio período na frente de gestão emergencial do local. Segundo ele, Avalon divide a areia com a cidade de Sea Isle, que fica do outro lado do banco de areia.

DeButts afirmou que o Corpo de Engenheiros da Marinha dragou cerca de 370.000 metros cúbicos de sedimentos do banco de areia em 2003, e aplicou "mais algumas centenas de milhares de metros cúbicos" cinco anos mais tarde. A cidade deverá receber mais areia em dezembro, para reparar os danos causados pelo furacão Irene, no ano passado.

Segundo ele, "as praias cumpriram seu papel" durante o furacão Sandy, salvando os prédios de Avalon de danos causados por enchentes. A cidade havia construído uma duna com mais de 6 metros de altura, adotando o que chama de "programa educacional" para explicar as vantagens de salas de estar no segundo andar para os residentes cuja vista acabou sendo bloqueada.

Mas essa é uma ideia difícil de vender. Em Harvey Cedars, na ilha de Long Beach, proprietários de casas processaram o Estado pela perda da vista causada pelo projeto de assoreamento. O caso está sendo analisado pela Suprema Corte de Nova Jersey.

Nos locais onde as praias artificiais não foram capazes de proteger as comunidades, isso provavelmente ocorreu porque "essa tempestade ultrapassou os limites das construções", afirmou Herrington, do Instituto Stevens, que esteve trabalhando com o estado para avaliar as proteções costeiras. Segundo ele, os projetos de Nova Jersey são feitos para suportar um tipo de tempestade que ocorre em média a cada 75 anos.

Mas, à medida que o clima aquece, os níveis do mar continuam a aumentar e grandes tempestades podem tornar-se mais comuns. E Nova Jersey é especialmente vulnerável a forças tectônicas e a mudanças nas correntes oceânicas.

Quando as geleiras diminuíram, há cerca de 15.000 anos, a terra na região tornou-se mais alta e, agora, voltou a afundar. Enquanto isso, os padrões de circulação oceânica estão mudando de maneiras que empurram a água contra a costa atlântica.

"Não podemos sustentar um litoral no futuro, como fizemos no passado", afirmou Williams, da Geological Survey. "Sobretudo do ponto de vista da manutenção de uma praia."

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