Investigador simula avanço do mar sobre a costa portuguesa

Algoritmo desenvolvido aponta para perigo de extinção de algumas praias

Carlos Coelho
 Carlos Coelho, investigador do departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro (UA), desenvolveu uma inovadora ferramenta que projecta o futuro da localização da linha costeira portuguesa. O cenário traçado aponta para uma redução considerável da largura de algumas praias entre Cortegaça e Mira e aparecimento de novas aberturas entre o mar e a ria de Aveiro.
“Com base em dados recolhidos e estudados relativos à evolução da linha de costa nos últimos 10 anos, e partindo do princípio que as condições actuais se vão manter, daqui a 30 anos poderá haver a sul da Vagueira a ligação entre a laguna de Aveiro e o mar”, afirma o investigador.

As previsões a 30 anos foram feitas por um modelo numérico de simulação do avanço do Atlântico sobre a linha de costa para dois trechos costeiros entre Cortegaça e a Praia de Mira, precisamente a zona do País onde mais se sentem os efeitos da erosão costeira.

“O modelo numérico de simulação de evolução de linha de costa projecta diferentes cenários em função dos muitos processos físicos que existem no litoral. Para aperfeiçoar o modelo, recorremos a informação registada desde há 50 anos, altura a partir da qual a UA tem dados mais objectivos”, explica Carlos Coelho.
 
Projecção para a localização da linha de costa no ano 2040
Variações do volume de sedimentos erodido às praias e às dunas, variações dos perfis de praia e da linha de costa estão a ser usados para calibrar o modelo às condições especificas das praias do litoral de Aveiro. Com base ainda em informação relativa à agitação marítima, condições meteorológicas, nível médio das águas do mar, morfologia dos terrenos costeiros, intervenções humanas de defesa costeira, entre muitos outros factores foram efectuadas simulações com o objectivo de projectar cenários de evolução de linha de costa a um horizonte temporal de 20, 30 ou mais anos.

Uma das grandes vantagens do simulador de Carlos Coelho é poder ser calibrado para projectar a futura linha de costa tendo também em conta mil e um cenários de protecção costeira edificada pelo Homem. Perante as projecções, pode-se assim optar pela estratégia de protecção que melhores resultados apresenta.

O modelo numérico “está em adaptação constante”, diz o investigador. Uma vez que ainda existem limitações no conhecimento e na tradução numérica de todos os processos envolvidos na erosão costeira, é importante monitorizar pois “quanto mais dados tivermos e mais minuciosos forem, melhor podemos calibrar o modelo de forma a obtermos melhores projecções”, sublinha.

Futuro sem praias
Linha de costa em Labrego
No que respeita às praias, a ferramenta desenvolvida por Carlos Coelho aponta que o areal das frentes urbanas protegidas tenderá a desaparecer e nos restantes troços a linha de costa recua e o mar avança, com a exceção do troço litoral entre as praias de São Jacinto e a Torreira onde o molhe norte, à entrada do Porto Comercial de Aveiro, segura uma grande quantidade de sedimentos.

O cenário é validado por Cristina Bernardes:“Tentando projectar o futuro tendo por referência o passado, com o actual défice de sedimentos que chega às praias, a linha de costa vai continuar a recuar se não se fizer nada”. Segundo a investigadora do departamento de Geociências da UA, “tal como dizem os modelos de simulação, poderemos ter no futuro ruturas permanentes no cordão dunar ou no dique arenoso que separa a laguna do mar”.

Ano após ano, Cristina Bernardes tem assistido à redução significativa da largura das praias e da barreira arenosa. “Há praias que pura e simplesmente desapareceram nos últimos tempos”, lembra a investigadora. Entre a Costa Nova e a Vagueira, por exemplo, nos últimos 52 anos, a linha de costa recuou 73 metros. “Dá uma taxa de recuo de 1,5 metros por ano e não é dos sectores mais críticos”, afirma. É que entre Maceda e o Furadouro, no mesmo período de tempo, houve um recuo de 120 metros.
Fonte: http://www.cienciahoje.pt

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