Avanço do mar destrói barracas, iluminação e muros em Iguape (CE)

Comunidade local reivindica construção de espigão, o que é contestado por especialista em erosão

Aquiraz. Uma imagem do caos que está acompanhada de prejuízos materiais, e desponta para ser mais um trecho do litoral degradado. O fato decorreu do avanço do mar em Iguape, Aquiraz, derrubando muros de casas de veraneio e pousadas, barracas, coqueiros e postes. Na memória dos moradores, não há lembrança de um período anterior em que a erosão foi tão intensa e destruidora.

A erosão marinha começou em agosto passado e permanece ainda neste mês. | Fotos: José Leomar
A força dos ventos e a energia que exerce sobre as ondas do mar foram verificadas desde agosto passado e permanecem ainda neste mês. Para a comunidade local, a situação requer a construção de um espigão, a fim de que mais prejuízos e danos não sejam sofridos.

A comerciante Carina Freitas Santos, de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, não esconde seu desapontamento pela situação vivida em Iguape. Sua família arrendou uma pousada, localizada na Avenida Governador Plácido Castelo, onde antes um calçadão contornava as barracas, as casas e as pousadas.

O sonho de bons negócios, gerados pelo mar cristalino e de águas mornas, se transformou no inverso de um paraíso. As ondas que se deslizavam com delicadeza pela praia pareceram, de repente, mudarem de humor, tomadas por uma fúria violenta.

Os danos ainda não foram totalmente contabilizados por Carina. A voracidade das ondas se projetou nas calçadas, ultrapassando os muros de contenção praia, atingindo, por fim, os muros e o acesso dos hóspedes àquela praia.

"É muito triste para nós falarmos sobre isso, porque, quanto mais se divulga o que está acontecendo aqui, mais as pessoas se afastam", disse um barraqueiro que não quis se identificar. Ele entende que é um fenômeno natural que é comum na região, e pode ser revertido pela ação do homem, por meio, principalmente, de um espigão.

Areia

O secretário de Turismo de Aquiraz, Eric Vasconcelos, disse que a primeira ação da administração foi promover a retirada de areia, inclusive, a que estava impedindo o acesso à praia vizinha de Barro Preto.

Segundo Eric, foi constatada que a erosão mais intensa aconteceu em Iguape, com a destruição de barracas e de três postes da rede de energia elétrica. Estes foram instalados pelo Governo do Estado e fazem parte de um conjunto de sete que iluminam a orla com a forma estilizada de um veleiro.

"Realizamos uma ação imediata, que era aquilo que podíamos fazer de imediato, inclusive, em áreas onde há um grande fluxo de turistas", afirmou o secretário de Turismo.

Eric diz desconhecer iniciativa para construção de maiores investimentos para obras de contenção, e minimizou os efeitos da erosão para uma área inferior a dois quilômetros de extensão.

Seca

Para o diretor do Laboratório de Ciências do Mar (Labomar), mantido pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Luiz Parente, o fenômeno não é atípico e tem relação com a seca, que atingiu fortemente a região.

"Com a seca, houve alteração no clima, na massa de ar, na aceleração dos ventos e na força das ondas. Essas ficam mais altas e avança sobre a costa", explica o diretor do Labomar.

No entanto, observa que nem todo fenômeno de erosão é causado exclusivamente por razões naturais. "O fenômeno de erosão torna-se um problema para o homem (risco natural) quando este constrói algum tipo de referencial fixo (estrada, prédio ou outro tipo de construção permanente) que se interpõe na trajetória de recuo da linha de costa", ressalta Parente.

Ele acrescenta que, deste modo, o problema de erosão é, de certa maneira, provocado pelo homem, pois, se ninguém morasse próximo à linha de costa, este problema não existiria. Em escala mundial, alguns autores estimam que cerca de 70% das linhas de costa do mundo estejam experimentando erosão. Este fenômeno tem despertado a atenção de cientistas e planejadores em todo o mundo, a compreensão de suas causas e o que fazer para minimizar os prejuízos materiais. No caso de Iguape, não vê como uma situação isolada, já que o processo foi bem intenso no Litoral Oeste, em Caucaia, e também na parte Leste, como na praia de Icapuí.

Parente questiona a importância de se construir grandes obras, inclusive no modelo de "Bag wall", como aconteceu na praia do Icaraí, em Caucaia. "Não foi uma solução positiva para aquele trecho do litoral e não seria adequado para Iguape", disse.

Na sua opinião, o manejo do problema de recuo da linha de costa tem sido feito de maneira espontânea e desordenada, a partir de intervenções de proprietários individualmente ou por meio de Municípios, normalmente após o problema já ter atingido proporções alarmantes.

"Estas intervenções desordenadas, normalmente, se dão através de colocação de muros e espigões nas áreas atingidas. Geralmente, implicam no dispêndio de somas elevadas e em prejuízo estético em áreas já densamente ocupadas como as regiões metropolitanas", destacou.

Mais informações:

Prefeitura Municipal
Rua Francisco Câmara, 332, Centro - Aquiraz - CE
Telefone: (85) 3361-1865
prefeitura@aquiraz.ce.gov.br

MARCUS PEIXOTO | REPÓRTER 
Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/

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