Quem está errado é o calçadão (Natal - RN)

Oceanógrafo do Ibama diz que equipamento foi construído sem levar em conta dinâmica costeira.
 
Várias são as opções possíveis para amenizar a destruição causada pelo avanço do mar. Mas todas são temporárias. Engorda poderia dar sobrevida de 30 a 40 anos. Foto: Fotos: Carlos Santos/DN/D.A Press

O calçadão da praia de Ponta Negra, que está interditado em alguns trechos por causa da força das marés altas, foi construído em lugar inadequado. Esta é a avaliação do oceanógrafo do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Luiz Bonilha, que ministrou palestra ontem dentro do projeto Doc Natal. Ele, inclusive, alerta para o fato de que, antes de se fazer obras que interfiram na dinâmica costeira, é preciso estudar a região e entender como se dá o equilíbrio na condução de sedimentos para áreas de praia. "Construir à beira-mar se constitui, a cada ano que passa, num risco cada vez maior", alerta.

Bonilha explica que o nível do mar sobe a cada ano. A previsão é que suba pelo menos dois metros nos próximos 20 anos, o que corresponde a cerca de 5 metros longitudinais. O fenômeno já ocorre hoje na costa potiguar. Em algumas praias do Litoral Norte potiguar, o mar já avançou horizontalmente (longitudinalmente) cerca de 20 metros. "Acho difícil em um século relocarmos todas as construções que existem nas proximidades da praia para regiões mais distantes. Ou seja, vai ser muito mais caro. Pode haver danos econômicos irreversíveis". Ele também diz que, apesar de a praia ser cada vez mais invadida por construções à beira-mar, "o mar procura o seu lugar. É o funcionamento natural do ecossistema. Não pode ser coibido", completa.

É mais prudente, afirma o estudioso, encontrar soluções que amenizem os efeitos do que já está construído. Encontrar uma forma de conviver com o problema, ou amenizá-lo. Porém, todas as soluções são temporárias. A engorda da praia, opção que no caso de Ponta Negra é defendida por estudiosos da UFRN e da própria prefeitura, teria efeitos provisórios. "Em 30 ou 40 anos é possível que houvesse novos problemas. Mas a engorda dá uma sobrevida maior à praia", explicou. Ele também citou outras soluções. Algumas, de elevado impacto, são a formação de Guias Correntes, como as que existem no Porto de Imbituba (SC), ou molhes, como os existentes na Costa da Europa. O encapamento, que consiste em colocar concreto na região de dunas, é uma opção resistente e já usada na região da Praia da Pipa, em Tibau do Sul, "mas uma hora ou outra vai cair também". Outra solução, de impacto localizado, é a construção de quebra-mares, uma estrutura de pedras submersa. Contudo, ele defende a engorda porque diz que é a opção que menos interfere no ecossistema costeiro.

O problema causado na orla de Ponta Negra traz danos econômicos e turísticos à cidade, mas o oceanógrafo defende que, desde que se pensou em usar aquela região, seria necessário observar a dinâmica da praia. "Para se fazer turismo de sol e de mar, é preciso não apenas pensar na questão ambiental, mas também entender e respeitar o ambiente onde se está construindo", criticou. "Infelizmente a situação tende a piorar. O calçadão está na área da praia pouco a cima do nível médio das marés altas".

Projeto

A palestra do oceanógrafo Luiz Bonilha aconteceu no auditório do Ibama, e abordou, entre outros assuntos, a situação das áreas costeiras do Rio Grande do Norte, regiões que estão sofrendo fortes impactos causados pela ocupação irregular de empreendimentos turísticos e industriais. A palestra faz parte do projeto Doc Natal Ambiente, que orienta documentaristas na elaboração de vídeos que tratem a temática meio ambiente. O projeto é uma iniciativa de analistas ambientais e de estudantes de cinema que abriram mão de produzir um documentário da maneira tradicional, individualista, para realizar uma obra compartilhada com os natalenses. O slogan do projeto é "O que está errado com o meio ambiente na sua cidade? Não fale, filme". 

Fonte: http://www.diariodenatal.com.br

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