Barreiras de contenção não resistem ao avanço do mar em Ponta Negra

 
“É dinheiro jogado fora. É como espuma jogada ao vento”. Foi assim que a barraqueira Damiana Felícia da Silva, 48, resumiu o trabalho de colocação de dez sacos de areia como medida de caráter emergencial para evitar novas destruições, nas marés altas, do calçadão de Ponta Negra.

Afixados na sexta-feira passada, os primeiros sacos de contenção foram engolidos pelo mar logo no dia seguinte. Ontem, quando a reportagem foi ao local, constatou que não havia um saco sequer de pé. Apesar disso, o trabalho de afixação dos 400 novos sacos foi reiniciado ontem pela Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Semopi). A pretensão é colocar 1.400 sacos em toda faixa afetada para conter o avanço do mar, enquanto não chegam as verbas a União para a reconstrução do calçadão da principal praia de Natal.

Segundo o secretário adjunto de Operações, Caio Múcio Pascoal, além da colocação dos sacos como medida emergencial, a Prefeitura de Natal pretende uma solução definitiva que é a reconstrução do calçadão e execução de um plano que evite a demolição no futuro. Ainda ontem, a prefeita de Natal, Micarla de Sousa, iria entregar ao Ministério da Integração Nacional e à Defesa Civil Nacional toda documentação solicitando a autorização do estado de calamidade pública para o calçadão por parte do governo federal. “Ela preferiu levar em mãos a Notificação Preliminar de Desastre (NPRED) e a Avaliação dos Danos (AVADAN) que relatam todo o problema vivido pela cidade, levando anexo relatórios sobre os danos materiais e ambientais, com fotografias e matérias publicadas pela imprensa sobre a destruição do calçadão”, disse Caio.

Comerciantes criticam eficácia da solução

Entrevistados pela reportagem, alguns barraqueiros revelaram-se reticentes com relação à funcionalidade dos sacos de areia e a forma como foi feita. “Essa parede de saco não chega a um metro de altura, isso é inútil, além disso, a impressão que se tem é que esqueceram de amarrar a boca dos sacos e veio a água e esvaziou tudo”, tenta explicar o barraqueiro Alexandre Moura dos Santos. “Um serviço como esse, tem que se ter sacos muitos grandes e o que estão colocando é pequeno”. Para a barraqueira Damiana Felícia, ao invés de sacos, a Prefeitura deveria fazer uma barreira de pedras para conter as marés altas.

Solicitada por integrantes do trade e por comerciantes da orla, a implantação dos sacos reiniciou ontem após a baixa-mar e recomeça hoje. Segundo dados da Semopi, os sacos confeccionados pela empresa Big Bag medem 0,90 x 0,90 x 1,50cm e custam R$ 30 a unidade. O custo total apenas com os sacos pode chegar a R$ 28 mil. “Para afixação, é feita uma vala, permitindo que cerca de 50 centímetros dele fique enterrado, para assegurar a base de sustentação. Vamos fazer uma barreira de dez em dez sacos com fila dupla para servir de contenção e de sequeiro para quando for iniciado o serviço de reconstrução”, explica Caio.

A prefeitura está disponibilizando uma retroescavadeira e uma caçamba para auxiliar nos trabalhos de contenção do mar e a Marinha do Brasil também disponibilizou dez fuzileiros navais na execução do serviço.

Quiosques são relocados até sexta-feira

Além disso, também deverão ser retirados sete quiosques localizados na área interditada do calçadão e transferência para pontos seguros do próprio calçadão previamente definidos pela Associação dos Quiosqueiros e Conselho Comunitário de Ponta Negra. O trabalho de remoção dos quiosques está sendo feito pela Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur). A previsão do secretário Luís Antônio é de que até o final desta semana a remoção seja concluída, tendo em vista que é um processo demorado e cuidadoso para não danificar o equipamento. Já a Defesa Civil do Estado fez o isolamento das áreas degradadas, primeiramente com telas e depois com tapumes, numa extensão de 500 metros.

Enquanto as verbas federais não chegam os barraqueiros, turistas e banhistas de Ponta Negra procuram se adaptar à situação. Os proprietários das barracas, apesar de alimentarem esperanças de que os problemas rapidamente se resolvam, ficam reticentes porque diariamente estão sentindo no bolso sua clientela diminuir. “Acho que pior nãofica. O jeito é esperar e cobrar uma atitude do Poder Público”, disse a quiosqueira Rosineide Lima, que há 11 anos tem ponto local. O pedinte Francisco de Assis Lima, 50, também está com dificuldade de trabalhar no local. Ele diz que o ‘ganha o pão’ vendendo CD, mas quando o movimento está fraco, costuma pedir auxílio. Deficiente físico, Assis se locomove em um skate, enfrentando agora muitas dificuldades para transitar de um lado a outro no calçadão.

Vivendo também o problema, os turistas reclamam e também apresentam solução. O professor universitário e delegado corregedor, Wesser Francisco, de Belo Horizonte, sugere a redução do IPTU para o contribuinte, já que paga seus direitos e não vê as obras acontecerem.
 
Fonte: riograndedonorte.net

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