Praias correm risco de desaparecer na Serra (ES)

Estudo revela que Capuba, Costa Bela, Jacaraípe e Manguinhos têm erosão severa.

Balneário de férias, recanto de turistas, ponto de passagem do dinheiro que entra e sai pela movimentação do comércio, principalmente no verão. Nos últimos anos o município, conhecido principalmente pelo seu extenso litoral, está tendo que conviver com uma realidade: a erosão de quatro das suas praias.

O estudo “Erosão e Progradação do Litoral Brasileiro”, realizado em todo o país, revela que Capuba, Costa Bela, Jacaraípe e Manguinhos já foram atingidas pela erosão de forma severa.

“O estudo aponta um diagnóstico sobre os processos que estão afetando a zona costeira com indicação das áreas mais críticas. A marinha de costa é muito dinâmica e ela está sempre respondendo aos processos demográficos, a curto e longo prazo”, explica Dieter Muehe, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e coordenador do estudo.
Na praia de Costa Bela, foram colocadas barreiras para conter o mar, mas não tem adiantado | Foto: Vitor Jubini
A situação mais crítica é em Jacaraípe, onde o mar avança e, em alguns pontos, já destruiu o calçadão e acabou com a faixa de areia. Em Capuba, em algumas partes da praia, o mar também avança. Em Costa Bela, há quatro anos foram colocadas imensas pedras na faixa de areia para conter o mar, mas não adiantou. Quase não existe mais areia. E em Manguinhos, uma das mais famosas do Estado, o trecho mais atingido é próximo ao restaurante Vagão, onde o mar avança. Em nenhuma há previsão de obra.

Prevenção


Quem mora nos balneários tem visto mesmo a faixa de areia desaparecer – e os banhistas também. “Em Jacaraípe o calçadão está desabando. E em alguns pontos a faixa de areia que chegava a quase dez metros sumiu”, conta o comerciante Hudson Diniz.

Em todo o Estado o levantamento aponta que há continuidade dos processos erosivos. “A tendência tem sido agravada pela intensa urbanização. O uso inapropriado é também responsável por eventos erosivos”, diz Dieter Muehe.

Para ele, são necessárias medidas preventivas como respeitar faixa de construção e colocar areia de características próximas à que existe, para ter resistência maior. “A erosão é uma resposta aos processos que acontecem há anos, como construções que já entraram dentro do perímetro marítimo. O mar, na verdade, está recuperando o que é dele”, alerta Muehe.

Obras só devem começar no ano que vem


As obras para conter a erosão nas praias de Capuba, Costa Bela, Jacaraípe e Manguinhos só devem acontecer em 2013. De acordo com o secretário de Meio Ambiente da Serra, Claudio Denicoli, o termo de referência para contratação da empresa que realizará o estudo em todo o litoral já está pronto.

A previsão é de que a análise das causas comecem daqui a 60 dias. “Através do estudo poderemos diagnosticar as causas, soluções e impactos da erosão em todo o litoral do município. O processo será em 60 pontos de todo o balneário, de Carapebus a Nova Almeida”, explica Denicoli.

Segundo o secretário, a prefeitura não está fazendo nenhum tipo de monitoramento nas praias que já foram atingidas pela erosão de forma severa. A previsão da prefeitura é de gastar R$ 1,2 milhão com o estudo, que terá informações sobre os 23 quilômetros de litoral.

Obras

Em Jacaraípe, a previsão é que o calçadão seja reformado no próximo ano. Com o estudo pronto, será realizada uma audiência pública para comunicar à população as ações que serão realizadas no local, a fim de resolver o problema. “As obras devem começar em novembro. Ou se a população preferir, depois do verão de 2013”, diz o secretário.

No bairro, o estudo vai apontar a intervenção mais adequada que deverá ser feita: a construção de um novo píer, o engordamento da praia com mais areia, a ampliação do píer existente ou até a construção de um muro subterrâneo para quebrar a força das ondas.

Em alguns pontos da praia de Jacaraípe, o mar já destruiu o calçadão e também acabou com a faixa de areia. Comerciantes da orla reclamam que os banhistas sumiram e do prejuízo que vêm amargando. As obras no calçadão têm previsão para começar em 2013, após estudo encomendado pela prefeitura. | Foto: Vitor Jubini

Problema antigo

A erosão nas praias da cidade se estende com o passar do tempo. Em Costa Bela, para tentar conter o avanço do mar, foram colocadas há quatro anos, imensas pedras na faixa de areia. “O mar está cada vez mais agressivo. Nem as pedras estão contendo o avanço. E também não temos mais faixa de areia”, conta José Bocaiuva, morador do bairro.

Em Jacaraípe o problema é o mesmo. “Ano passado a erosão destruiu o calçadão e não foi realizada nenhuma obra. Apenas jogaram areia”, diz Hudson Diniz.

O futuro do litoral

Situação das praias
  • Capuba
Em algumas partes da praia o mar avança sobre a faixa de areia. Segundo estudo nacional, é uma das praias em situação grave. Não há previsão de obras.
  • Costa Bela
Há quatro anos foram colocadas imensas pedras na faixa de areia para conter o avanço do mar. O mar continua avançando e não existe mais faixa de areia. Não há previsão de obras.
  • Jacaraípe
É o balneário com a situação mais crítica do município. O mar avança e em alguns pontos já destruiu o calçadão e também acabou com a faixa de areia. Estudo contratado pela prefeitura vai apontar a intervenção mais adequada: a construção de um novo píer, o engordamento da praia com mais areia, a ampliação do píer existente ou até a construção de um muro subterrâneo para quebrar a força das ondas. As obras no calçadão, com previsão para serem iniciadas em 2013, serão realizadas com base nas soluções apresentadas no estudo.
  • Manguinhos
A área mais crítica da orla fica próxima ao restaurante Vagão de Manguinhos. O mar avança sobre a faixa de areia. Também não há previsão de obras.

Ações preventivas

De acordo com Dieter Muehe, coordenador do estudo “Erosão e Progradação do Litoral Brasileiro”, é necessário começar a prevenir a erosão respeitando a faixa de construção e colocando areia de característica próxima à existente para ter mais resistência.

Construções

De acordo com o professor é preciso que se respeite o limite para construções nas orlas brasileiras. Para área urbana são 50 metros a partir da praia para criar uma zona, espécie de para-choque, e criar uma estética da paisagem natural que deverá ser preservada. Em áreas não-urbanas o limite é de 200 metros a partir da praia.

Projeto
Será realizado um estudo, a pedido da prefeitura, para diagnosticar o efeito da erosão em todo o litoral. Através do estudo serão apresentadas causas, soluções e impactos.

Valor
A previsão da prefeitura é de gastar R$ 1,2 milhão somente com o estudo

Audiência

Com o estudo pronto será realizada em Jacaraípe uma audiência pública para comunicar à população os efeitos e o que será feito para resolver a situação

Projeto Orla
É uma iniciativa do Ministério do Meio Ambiente. O projeto busca aplicar as diretrizes gerais de ordenamento do uso e ocupação da orla marítima em escala nacional

Análise

O ambiente quer recuperar o que é dele

Existem praias que possuem um comportamento agressivo e outras que são mais rasas e não são tão erosivas. De uma forma geral, o processo de erosão é quando na praia existe um monte de areia e o mar com ondas fortes tiram essa areia e levam para um outro local. Se as ondas são fracas, nada é retirado.

Em algumas cidades acontece a ocupação indevida, que podem gerar comportamentos (por períodos) de erosão. O mar não é violento, como costumam dizer. É a ocupação irregular que não deveria ter acontecido naquela determinada área, que chamamos de área de dinâmica de praia. Pode ser que ocupamos um lugar que não era para ser ocupado. E com isso o próprio ambiente se encarrega de recuperar aquilo que é dele. Tudo é uma questão de equilíbrio.

Renato David Ghisolfi, doutor em Oceanografia e professor do curso na Ufes
Fonte: gazetaonline.globo.com

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