Restinga, desconhecida e ameaçada

Destruição de parte da vegetação remanescente em Matinhos abre a discussão sobre a preservação desse ecossistema
Fotos: Walter Alvez/Gazeta do Povo / A restinga ajuda a conter o avanço da areia e a entrada do mar
A restinga ajuda a conter o avanço da areia e a entrada do mar
Um caso ocorrido no Litoral do Paraná no dia 16 de dezembro de 2001 gerou polêmica e levantou a questão da importância dos cuidados com um ecossistema pouco conhecido, mas presente em boa parte das praias. Em uma denúncia, o professor Rangel Angelotti, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), afirma que máquinas da prefeitura de Matinhos utilizadas para retirar a areia acumulada nas calçadas teriam, naquele dia, destruído uma faixa de restinga da praia brava de Caiobá.
No Balneário Riviera, pedras para conter avanço do mar e, em Caiobá, área que teria sido alterada pela ação das máquinas: IAP diz que ocorreram mudanças mínimas
No Balneário Riviera, pedras para conter avanço do mar e, em Caiobá, área que teria sido alterada pela ação das máquinas: IAP diz que ocorreram mudanças mínimas
A restinga, presente nas dunas das praias e considerada Área de Preservação Permanente (APP), é um ecossistema formado por um tipo de vegetação que nasce entre o ambiente marinho e o terrestre. “Ela protege a cidade do avanço tanto das areias [provocado pelos ventos], quanto do mar e os danos que podem ser causados por ressacas”, explica o professor.

De acordo com Angelotti, houve descaso do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) em autorizar a operação de máquinas no local e provocar a retirada do ecossistema. “Matinhos já sofre com a erosão e a prefeitura ainda destrói essa barreira natural”, reclama. Por ironia, no mesmo local existe uma placa colocada pela prefeitura e IAP que alerta a população sobre a preservação do local.

Resposta

Sobre a autorização para o uso das máquinas, o IAP informa que ela foi dada apenas para a remoção de areia de uma parte da calçada próxima à restinga. Segundo o Instituto, após a denúncia do professor foi realizada uma vistoria no local e constatou-se que os danos da intervenção foram mínimos. O IAP fez um relatório e o enviou à prefeitura delimitando onde as máquinas podem passar, onde é permitido depositar areia e quais atividades de manutenção podem ser realizadas no local. A Secretaria de Meio Ambiente de Matinhos foi procurada pela reportagem para falar sobre o caso, mas ninguém foi encontrado.

Sobre a sujeira nesses locais, o IAP informou que a responsabilidade da retirada do lixo do local é das prefeituras dos municípios, que têm recebido ajuda da Operação Verão na coleta de lixo e limpeza da orla e das restingas.

Projeto de engorda não saiu do papel


A ausência da vegetação nas areias de Matinhos é um dos motivos que levam a cidade a ter terrenos quase cobertos pela água do mar. Casas na beira-mar, próximas ao centro da cidade e ao Balneário Flo­­rida, que apresenta áreas com erosões avançadas, sofrem com a ameaça de ressacas. “A especulação imobiliária destruiu as restingas”, afirma o professor Angelotti.

A empresária Maria do Carmo Chemin de Oliveira, moradora da região, diz que se não houvesse pedras na areia, a água já teria avançado mais e destruído terrenos que ficam de frente para o mar. “Minha casa e a dos vizinhos está com o piso rachado”, diz ela, que participa do movimento Matinhos Pede Socorro.

Ela e outros moradores re­­clamam da demora na realização das obras para a revitalização da orla de Mati­­nhos. Um projeto, já aprovado, faria a “engorda” da praia entre os balneários de Caiobá e Flórida, áreas afetadas pela erosão. As obras, entretanto, dependem de um projeto de responsabilidade do governo do Paraná. “Esperamos isso por muito tempo e não temos resposta”, disse o também empresário João Carlos Bencz.

De acordo com o governo do Paraná, a demora para a concretização do projeto ocorre porque o governo anterior tinha apenas um projeto básico, que não englobaria todas as necessidades e estudos para as obras. Em novembro de 2011, o governador Beto Richa autorizou a liberação de verba para a contratação de uma empresa que fará os estudos necessários ainda este ano. Segundo o governo, o processo deve ser longo.

IAP sinaliza locais contra estacionamento

O Instituto Ambiental do Paraná começou a colocar placas de sinalização ao longo da orla paranaense para evitar o acesso de veículos automotores na faixa de areia e a destruição de vegetação das áreas de restinga. O trabalho é realizado em parceria com municípios, moradores e o Batalhão de Polícia Ambiental da Polícia Militar.

Onde há placas indicativas, o infrator está sujeito à multa mínima de R$ 5 mil, para carro ou motocicleta. O valor pode chegar a R$ 50 mil, em casos de reincidência. A fiscalização também verifica e manda retirar construções sobre essas áreas.

Denúncias sobre a presença de veículos sobre a vegetação de restinga podem ser feitas pelo telefone 0800-643-0304 .


Por Rodrigo Batista | Fonte: Gazeta do Povo

Comentários

Anônimo disse…
Também participo do Movimento "Matinhos pede socorro!". Estão nos criticando apenas por exercermos a democracia que nos é de direito. É vergonhoso o descaso pelo nosso litoral. Se alguma medida fosse tomada em 2011, na grande ressaca que destruiu a Av. Beira Mar, não teria chegado ao ponto que chegou. O grande problema é que quando se trata de obra pública, muita gente quer levar vantagem em cima, por isso nunca nada é feito. Agora o circo vai pegar fogo! Estamos cientes que este "blá,blá,blá" do Governo é só para nos "acalmar" e novamente será "empurrado" com a barriga o problema. Jamais deixaremos isto acontecer. Vestimos a camisa de verdade para esta situação e não desistiremos enquanto não vermos a obra concluída. Nosso proximo manifesto acontecerá no dia 19/02 (domingo de carnaval) em frente ao Material de Contrução Santa Mônica, na Av. Paranaguá, Baln. Flamingo. Distribuiremos adesivos a partir das 10:00hs e ao meio-dia sairemos em carreata até o SESC Caiobá. Esperamos que muita gente engrosse este movimento. O ex Governador Orlando Pessuti manifestou-se em sua página no dia 12/01. Será um xeque-mate? Acesse: http://www.pessuti.com.br/noticias/atraso-na-engorda-da-praia-de-matinhos-podera-chegar-a-tres-anos-afirma-wilson-lipski/
Anônimo disse…
Apenas uma correção: A grande ressaca foi no ano de 2001 e não 2011 como foi postado. Ou seja, de lá para cá já se passaram 11 anos.

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