A causa da erosão nas praias de Itapoá

As pessoas mais antigas, entre elas os veranistas que frequentam Itapoá desde os anos 60, contam como eram as praias de Itapoá, especialmente em relação à “largura” da faixa de areia. Falam que algumas tinham dezenas, centenas de metros. Hoje, reduzidas como estão, é difícil imaginar que o mar já esteve tão afastado. Inúmeras fotos da época comprovam os testemunhos.

Erosão no litoral deixou de ser novidade. A costa brasileira, notadamente nas desembocaduras dos estuários, baías e rios sofre constante variação em razão da dinâmica do mar, que no movimento das marés vai levando e trazendo a areia da praia. Segundo os entendidos, é erosão quando leva e, progradação quando devolve.

A erosão em Itapoá era atribuída a causas naturais e periodicamente incrementada por fenômenos também naturais como o Niño e a Niña no Oceano Pacífico, causadores de alterações climáticas no continente sul-americano. Também a intervenções humanas, a exemplo do fechamento do Canal do Linguado que condicionou uma única comunicação da baía da Babitonga com o oceano.

Há quem diga que a percepção do processo erosivo não era evidente, pois, naquela época, as áreas erodidas não estavam ocupadas. Não existiam edificações frente à praia e nem equipamentos urbanos como atualmente.

No entanto, a partir dos anos 80 e mais acentuadamente nos últimos anos, o processo erosivo acelerou-se e, em curto espaço de tempo, expressivos trechos, agora urbanizados, passaram a sofrer os efeitos da energia das ondas. Residências e obras públicas foram destruídas nas fortes ressacas, fazendo com que alguns proprietários construíssem gabiões e proteções de pedras na praia.

Em 2002, a prefeitura, preocupada com o fato, encomendou ao Laboratório Lecost, ligado a Universidade Federal do Paraná –e com larga experiência no acompanhamento dos processos erosivos no litoral paranaense – um diagnostico sobre as causas da erosão nas praias de Itapoá.

O Lecost, além das causas naturais, e em face da aceleração do processo, identificou que outro motivo estaria provocando a erosão. Evidências levaram a formulação de uma “hipótese” na qual a erosão tinha muito a ver com o aprofundamento do canal de acesso ao Porto de São Francisco do Sul.

Em 2004, a prefeitura e alguns proprietários, por força de ações judiciais do Ministério Público Federal em razão da edificação de gabiões e anteparos de proteção contra as ressacas, encomendaram novo estudo ao Lecost para comprovar o avanço do mar e a indicação de medidas preventivas.

Novamente foi constatada a gravidade do avanço do mar sobre a praia e reafirmada à hipótese anterior em relação ao canal de acesso ao Porto de São Francisco do Sul. Recomendaram ações imediatas e permanentes de monitoramento, através de perfis em diversos pontos da costa. Infelizmente, essa recomendação não foi acatada.

Quando do processo de licenciamento para novo aprofundamento do canal, o IBAMA condicionou ao Porto de São Francisco do Su, a contratação e apresentação de estudo técnico sobre a erosão em Itapoá e de alternativas para alargamento da faixa de praia, considerando o uso do material arenoso proveniente das dragagens.

O estudo, elaborado pela empresa Coastal Planning & Engineering do Brasil, foi concluído no final de agosto passado. Com a ressalva de que não é possível afirmar que toda a erosão das praias de Itapoá está associada à dragagem do canal de acesso, reconhece expressamente que tanto o aprofundamento quanto as dragagens para desassoreamento e manutenção do canal contribuem significativamente com a erosão das praias.

Confirmou também que, conforme as análises das amostras coletadas, os sedimentos arenosos do canal são compatíveis com os das praias de Itapoá, podendo ser utilizados para execução de obras de engordamento de praia.

Destacou ainda que para minimizar os problemas em curto e médio prazo e principalmente para mitigar os impactos do canal, o engordamento de praia é alternativa viável.

Portanto, a “hipótese” levantada pelo Lecost em 2002 – embora tardiamente – está confirmada. O canal de acesso ao Porto de São Francisco do Sul é causa de erosão nas praias de Itapoá e, senão é a única, certamente o é pela aceleração do processo erosivo nas últimas décadas.

O canal foi aprofundado mais uma vez e os navios estão com o acesso garantido ao porto, porém comprometendo o maior patrimônio natural de Itapoá que está sendo tragado pelo mar. As praias encolhem a olhos vistos e em alguns trechos quase desapareceram.

O assunto é de conhecimento da Prefeitura de Itapoá, da Comissão Especial da Câmara de Vereadores, da Secretaria de Desenvolvimento Regional – Joinville, do Governo do Estado de Santa Catarina, do IBAMA responsável pelo licenciamento ambiental e do Porto de São Francisco do Sul responsável pelas obras no canal de acesso.

Os estudos solicitados foram realizados. Na continuidade sugerem a elaboração de projetos de engenharia para a realização do engordamento dos trechos indicados pela Coastal. Isso demanda tempo e recursos.

Resta a pergunta: Quem e quando os fará? O Porto de São Francisco do Sul? A resposta parece ser óbvia.

Há uma década a questão está em pauta. O discurso político esgotado frente à gravidade e a urgência de providências. O que era “suposição” agora é realidade. A erosão não é virtual, a praia de fato está indo embora. Falta apenas atitude política seguida de ação por parte do Poder Público responsável em buscar a melhor solução para Itapoá e suas praias.
Fonte: http://correiodolitoral.com

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