Avanço do mar traça cenário apocalíptico

No Litoral, investida das águas representa o dobro da média mundial.

A influência humana e ações naturais das últimas cinco décadas fizeram o nível do mar no Litoral Paulista aumentar o dobro da média mundial. As previsões mais modestas para Santos indicam um cenário apocalíptico até o final deste século: a água ocupará a faixa pavimentada e imóveis próximos à orla podem ser invadidos pela força da maré.

Caso o avanço do mar continue neste ritmo, praias da região podem ficar apenas nas lembranças. A Ponta da Praia, em Santos, e o Gonzaguinha, em São Vicente, são as mais ameaçadas.

As análises foram apresentadas ontem (07/12) pela pesquisadora do Instituto Geológico de São Paulo (IG), Célia Regina de Gouveia Souza. A palestra da especialista encerrou os trabalhos deste ano do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Condema).

Célia explica que, nos últimos 50 anos, o nível no mar subiu 40 centímetros, frente a uma média de 20 centímetros no resto do mundo. "Na década passada, o pico (de alta da maré) foi superior ao registrado em 30anos".
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Proteção


Para minimizar os impactos das águas nas cidades litorâneas paulistas, a pesquisadora sugere uma legislação própria sobre o tema. "O ideal seria uma faixa de 50 metros de proteção de praias", cita Célia. A medida seria similar à executada na Espanha. O país europeu determinou que num território de 100 metros em frente ao mar nada pode ser construíd.

Célia Regina, do Instituto Geológico, prevê consequências graves
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Por outro lado, estudiosos indicam que, até o final deste século, os oceanos deverão subir até 1,8 metro. "Se fizer uma regra de três (cálculo matemático para comparações de valores) com os números locais e esta previsão, temos um cenário assustador".

Ela argumenta que a sedimentação na Ponta da Praia é um processo natural iniciado na década de 1920. "Porém, a construção de pavimentos próximos à faixa de areia acelerou esta ação".

As ondas são as responsáveis por arrastar parte dos sedimentos, que são acumulados em outros pontos. "Há épocas que a Praia do Góes tem mais faixa de areia", diz Célia. No entanto, é no Gonzaga que o material mais se concentra.

Aquecimento

A pesquisadora salienta que a elevação do nível do mar resulta do aquecimento natural do planeta. Mas este processo é acelerado por ações humanas, como a emissão de gases causadores do efeito estufa.

"O fenômeno gera a expansão térmica oceânica, que tem efeito pior(para o aumento do nível do mar) que o derretimento de geleiras". Célia detalha que estas ações vêm diminuindo, gradativamente, a faixa de areia em pelo menos 20 praias paulistas.

Como consequência, a pesquisadora sinaliza um cenário ainda mais grave. Além da perda de espaço habitacional, haverá a extinção de ecossistemas, morte de espécies de animais e vegetais (em especial os marítimos) e redução dos recursos hídricos. "Ficarão mais escassas as áreas de captação de água".

Ressacas

Outro fenômeno que pode ter consequências na perda da faixa de areia é a ressaca marítima. Pelos estudos da pesquisadora, no último ano o evento teve maior duração, foi mais intenso e devastador.

Normalmente, as ressacas ocorrem em épocas de maré alta e nas estações mais frias (de abril a agosto). "Em 2010, a temporada (de ressaca) começou em fevereiro e terminou em dezembro. E ocorria em estações de lua atípica".

Junto com as ressacas e o aumento do nível do mar, a dragagem do cais santista também é indicada como uma das possíveis causas da perda de faixa de areia da Ponta da Praia. "Aguardamos o laudo da Codesp com o impacto da dragagem. Este estudo norteará as ações públicas naquela área", explica o secretário municipal de Meio Ambiente, Fábio Nunes. A previsão é que o documento seja finalizado neste mês.
Fonte:  Instituto de Pesca de SP | http://www.pesca.sp.gov.br

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