Como enrocamento acelerou erosão da Praia de Ponta Negra

 


Mirella Lopes



Era julho de 2012 quando, durante um período de maré alta, a força do mar destruiu parte do calçadão da Praia de Ponta Negra, na Zona Sul de Natal. Na época, dentre as várias opções colocadas em discussão, os gestores da Prefeitura do Natal optaram por fazer o enrocamento, que é a colocação de pedras ao longo da faixa de areia para amortecer a força das ondas do mar durante as marés altas.

A medida pode até ter contido a destruição do calçadão, mas com o tempo, ela acabou por acelerar a erosão do Morro do Careca, cartão postal da cidade para o mundo, e da Via Costeira.

O processo também foi agravado porque a decisão, que era provisória, tornou-se permanente e sem qualquer tipo de acompanhamento.

Praia de Ponta Negra com pedras do enrocamento e Morro do Careca ao fundo I Foto: Mirella Lopes

“Quando enrijecemos a praia, com a colocação de muros e o enrocamento, por exemplo, jogamos aquela força da maré para a frente e laterais dessas estruturas. Quando decidiram colocar as pedras, tinham consciência de que acelerariam a erosão, mas não se preocuparam em acompanhar esse processo logo em seguida, como defendíamos em 2012”, revela Venerando Eustáquio Amaro, professor da Engenharia Civil e Ambiental da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).

A erosão do Morro do Careca ocorre quando há avanço do mar e as ondas carregam parte da areia que fica em sua base, cavando a duna que, atualmente, apresenta falésias em sua base com mais de dois metros de altura.

Como o enrocamento com pedras foi colocado apenas em alguns trechos da praia, as ondas avançaram com mais intensidade sobre as áreas vizinhas, como o Morro do Careca, que pela dinâmica da costa e de ocupação de bares e restaurantes na área vizinha, não possui proteção.

Morro do Careca, na Praia de Ponta Negra I Foto: Mirella Lopes

Passou muito tempo, tentaram outras coisas nesse período. Temos um artigo que vai sair em breve e mostra que o fato das pedras terem ficado na linha de costa, acelerou erosão na Via Costeira. A engorda será colocada ao longo de quatro quilômetros da praia e a preocupação, agora, é como essa estrutura será finalizada, ela precisa de outras obras de engenharia. As demais áreas vão continuar sendo erodidas, precisaremos avaliar o monitoramento da área, o contexto precisa ser acompanhado porque as áreas vizinhas estão interligadas”, defende Verando, que também coordena o Laboratório de Geotecnologias Aplicadas Modelagem Costeira e Oceânica (GNOMO).

Uma das preocupações é que o enrocamento que faz parte da obra de engorda de Ponta Negra intensifique o processo de erosão da Via Costeira.

Não estamos falando de obra que não vai interferir no ambiente vizinho, mas em todo o setor porque ela é imensa e pega uma zona dinâmica e com muita energia”, ressalta o pesquisador.

E ainda tem o sistema de drenagem que é preocupante. Já contei mais de 30 galerias de drenagem entre o Morro do Careca e o calçadão, num espaço de cerca de três quilômetros. Agora, a Prefeitura de Natal diz que só foram encontradas 14 em 4,5 quilômetros. Mas, no EIA/RIMA [Estudo de Impacto Ambiental e do Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA)] tinha mais de 24. Algumas sumiram no levantamento, elas estão embaixo das rochas e lugares que não estão sendo computados, mas vão aplicar energia de erosão no aterro. Nas últimas chuvas, as caixas de contenção já estavam vazando por cima. Não há sentido fazer a engorda se a drenagem não estiver pronta”, acrescenta Venerando.

Praia de Ponta Negra com marca na areia de saída de água pluvial I Foto: Mirella Lopes

A engorda

A obra de engorda e drenagem da praia de Ponta Negra foi orçada inicialmente em R$ 75 milhões, entre recursos da Prefeitura de Natal e do Governo Federal. Porém, segundo o Ministério do Desenvolvimento Regional, o valor subiu para cerca de R$ 108 milhões.

Com a engorda, que será realizada em três etapas, a promessa é de alargar faixa de areia da praia em até 100 metros, na maré seca, e 50 metros na maré cheia.

1ª etapa: Complementação do enrocamento, ou seja, dos blocos utilizados para contenção da água.

2ª etapa: A alteração da drenagem na região, com o objetivo de reduzir a força das águas pluviais que chegam à praia e, assim, minimizar a erosão costeira.

3ª etapa: Aterramento hídrico com cerca de 4,4 toneladas de areia, que será extraída de uma jazida de areia submersa, trazida de uma área do mar próxima à praia de Areia Preta, que teria o material adequado para este tipo de intervenção, isto é, uma areia com granulometria de média a grossa. Para tanto, será utilizada uma draga de sucção e, após a extração, a areia será transportada e depositada em Ponta Negra em trechos de 200 em 200 metros.

FONTE: SAIBA MAIS









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