As várias faces do aterro hidráulico da Praia Central de Mararataízes (ES)
O dia 07 de dezembro de 2009 ficará marcado na memória de muitos capixabas como o dia do início da redenção da praia Central de Marataízes, pois foi nesse dia, numa ensolarada manhã de segunda-feira, que a Draga Dinamarquesa Gefion R, iniciou o serviço de engordamento hidráulico da faixa de areia da praia. Por sinal, uma faixa que até então era praticamente inexistente em função da erosão marítima.
Foto: Renato Alves
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Apenas para nos situarmos no tempo e em relação à história dessa praia, devemos nos relembrar que, pelo menos de forma mais intensa, seu processo erosivo despontou aos olhos na década de 70. Tempos depois, o governo municipal na gestão administrativa de Ananias Vieira tentou conter a erosão através do depósito de centenas de grandes pedras envoltas em uma estrutura de arame ao longo de boa parte da margem da avenida costeira, porém, além de ineficaz, o projeto se mostrou maléfico também nas questões relacionadas à segurança dos banhistas e a estética da praia, pois além de não conter a erosão, as pedras dificultavam o acesso ao que restava de praia, e os arames na medida em que se deterioravam e apodreciam, se tornavam um perigoso ingrediente nesta mistura. Com a deterioração contínua e cada vez mais acelerada da praia, no ano 2000 a erosão chegou a colocar em risco parte das moradias e comércio da orla, demonstrando a urgência de uma intervenção no processo erosivo, que teve reinício com a contratação em 2004, através do governo do Estado do Instituto Nacional de Pesquisas Hidroviárias – INPH.
Concluídos os estudos necessários, a obra foi iniciada em 2008 objetivando a construção de dois espigões (um em cada extremidade da praia), três quebra-mares e, por fim, o aterro hidráulico com o propósito de aumentar a faixa de areia da praia.
Em Marataízes, uma das correntes marítimas dominantes é a que corta a costa no sentido norte-sul, de modo que em função desta característica, tenho que a erosão da praia Central é resultante, dentre outros fatores, do quebra-mar existente na foz do rio Itapemirim, uma vez que as areias do rio que antes escorriam diretamente para a costa e lentamente se dirigiam até a praia Central, com a construção do quebra-mar da Barra, estas areias passaram a ser conduzidas a um leito mais profundo e próximo as correntes marítimas e assim levadas para longe da praia.
Nesse sentido, dois serviços deveriam também ser feitos neste momento. O primeiro com relação à Dragagem, pois esta poderia estar sendo feita de modo a sugar a areia que atualmente assoreia o leito da foz do rio Itapemirim, pois assim, além de recuperar a praia também recuperaria o porto da Barra. O segundo dos serviços, vem na direção da prevenção, pois uma vez que acreditamos que a erosão da praia Central também está relacionada com o espigão da Barra, o Município deveria promover um processo sistêmico e ininterrupto de lançamento das areias da foz do rio Itapemirim para o outro lado do quebra-mar da Barra, diretamente na linha da praia, interrompendo assim a atual condução dessas areias diretamente nas correntes marítimas.
Noutra direção, temos que nos remeter a qualidade da areia que está sendo depositada na praia Central, de modo que cabe aqui um breve comentário sobre as características do rio Itapemirim, uma vez que as areias que atualmente estão sendo depositadas na costa através do aterro hidráulico são oriundas deste manancial. Pois bem, sabendo que o Itapemirim tem suas nascentes na Serra do Caparaó e que a partir de lá corta 17 municípios que juntos possuem mais de 500 mil habitantes, e que muitos desses municípios lançam a totalidade ou quase totalidade de seus dejetos sanitários in-natura em seu leito, bem como os oriundos da agropecuária, temos que tal areia deva ser objeto de uma ampla pesquisa sobre sua qualidade e potencial infectológico, ainda mais quando em vários anos temos que os índices de coliformes fecais, DBO, turbidez, resíduos sólidos, fosfato e ferro total ficaram acima dos limites estabelecidos pelas Resoluções do Conama.
Como noticiado, de acordo com o projeto, Marataízes deverá ter uma reposição de faixa de areia no mínimo legal, ou seja, teremos 50 metros de largura de faixa de areia, depositadas numa extensão de costa que gira em torno de 3 quilômetros, portanto, além de verificarmos a qualidade da granulação e tom da areia, uma vez que a original é clara, fina e macia e a que esta sendo reposta tem apresentado uma granulação muito mais grossa e escura, temos também que nos preocupar com a qualidade sanitária da mesma.
Outro aspecto que não podemos nos afastar é quanto ao impacto ambiental na flora e fauna marítima. Em Balneário Camboriú, que também passou recentemente por um processo de engordamento da praia, uma universidade local detectou uma série de problemas ambientais de tamanha monta, que se viu forçada a emitir um alerta avisando que “embora naquele momento os impactos observados tivessem ocorrido principalmente sobre os organismos habitantes na zona dragada e da faixa aérea da areia da praia, não se deveria descartar a possível existência ou ocorrência futura de efeitos negativos na fauna do infra-litoral (zona submersa rasa), em função do escoamento e mobilização do sedimento fino disponibilizado pela dragagem e pelo aterro, do possível acúmulo da elevada quantidade de matéria orgânica oriunda da zona de dragagem em setores localizados da praia ou da enseada, e de efeitos crônicos sobre a fauna, relacionados à toxicidade revelada pelos testes de laboratório executados no CTTMar”.
Dito tudo isso, é claro que os benefícios que se espera sejam proporcionados à população pelo serviço que está sendo realizado é incontestável, contudo, tais benefícios não podem nos afastar de observar certas premissas que são fundamentais para que o benefício esperado seja completo e não apenas parcial.
Fonte: maratimba.com
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