Manchas de petróleo podem favorecer erosão de falésias no litoral da Paraíba, diz pesquisador
Oceanógrafo e professor da UFPB, Tarcísio Cordeiro, alerta para prejuízo no crescimento de recifes e
corais após petróleo bruto. Estruturas protegem praias e retiram energia das ondas.
Por André Resende, G1 PB
Pedras nas praias de Conde, Litoral Sul da Paraíba, apresentavam marcas de petróleo bruto
Foto: Divulgação/Prefeitura de Conde
As manchas de petróleo que se espalharam podem favorecer o processo de erosão no litoral da Paraíba e prejudicar diretamente as falésias das praias de Cabo Branco e Seixas, em João Pessoa. O oceanógrafo e professor da UFPB, Tarcísio Cordeiro, explicou que o petróleo bruto registrado no litoral do Nordeste, especificamente em seis municípios da Paraíba, podem prejudicar o crescimento de corais e recifes, as primeiras barreiras contra o avanço do mar em direção à costa.
Segundo relatório do Ibama divulgado até a sexta-feira (18), 16 praias e seis cidades da Paraíba tinham registrado algum vestígio do petróleo bruto que se espalhou pelo litoral do Nordeste. A Paraíba foi o primeiro estado do Nordeste a notificar as autoridades navais e de meio ambiente sobre a existência de óleo no dia 30 de agosto de 2019, na cidade de Conde, Litoral Sul do estado.
Embora tenha sido o primeiro estado nordestino, os secretários de Meio Ambiente dos municípios atingidos, assim como a Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema) convergem ao defender que a Paraíba pode ter sido o menos afetado com o vazamento de petróleo entre os estados da região.
Uma das explicações possíveis para o impacto reduzido no litoral paraibano é a dinâmica das principais correntes do oceano Atlântico na costa brasileira. Tarcísio Cordeiro explica que a Paraíba fica localizada em um ponto do continente onde a corrente Sul-Equatorial do Atlântico, que vem da África se bifurca gerando duas outras correntes que sobem em direção aos litorais do Norte e Sudeste do Brasil.
Poucos vestígios de petróleo foram registrados no litoral da Paraíba — Foto: Divulação/Prefeitura de Conde
“Aqui ela se bifurca, uma parte da vai dar origem à Corrente do Brasil, que vai em direção ao Sudeste e desce para a Argentina, a outra que era chamada de Corrente das Guianas, hoje é chamada Corrente Norte do Brasil que vai até a foz do Rio Amazonas”, explica o especialista.
Proteção das praias sob risco
O professor da UFPB explica que o petróleo levado até a praia acaba se fixando também em recifes e corais espalhados no litoral paraibano. Ele explica que, apesar do aumento do nível do oceano, em um contexto de aquecimento global, os corais e recifes conseguem crescer e acompanhar o aumento do nível. Porém, ao ser atingido pelo petróleo, o crescimento dessas estruturas fica prejudicada e a resistência que oferecia às ondas quando acompanhavam o nível do mar acaba.
“Quando os corais estão sadios, eles vão crescendo bem devagarinho, mas o suficiente para acompanhar a elevação do nível do mar. E nós temos que entender que os corais são a primeira defesa contra ressacas, por exemplo. Os corais retiram a energia das ondas, a praia fica mais abrigada, se os corais não tiverem saudáveis, crescendo, vão encolher”, avalia.
Panorama na Paraíba
As inspeções feitas pelo Ibama, Sudema e em parceria com as prefeituras locais e Capitania dos Portos indicaram que o quantitativo de óleo registrado nas praias paraibanas foi muito pequeno comparado às praias dos outros estados do Nordeste. O registro foi tão inferior que boa parte do material foi recolhido e apenas cinco das 16 praias da Paraíba com óleo ainda apresentavam vestígios até o dia 15 de outubro.
As praias de Conde, no Litoral Sul do estado, são as que apresentaram um registro maior por conta do material ter se fixado nas pedras e corais. A secretária de Meio Ambiente de Conde, Vescijudith Fernandes, explicou que embora ainda haja o registro, todas as praias do município estão próprias para banho.
A Prefeitura de Conde vem junto com o Ibama, desde do dia 15 de outubro, vistoriando as praias. "Havia alguns poucos pontinhos, que ainda vão ser retirados, mas tem muito pouquinho mesmo. Ficou a marca em pedras, e é aconselhado não mexer, porque pode danificar ainda mais. A mancha na pedra é como se fosse uma tinta que no momento não temos como remover".
Em João Pessoa, onde os dois principais pontos turísticos ficam afastados das praias, os corais de Picãozinho a 1,5 km da praia de Tambaú e os arrecifes do “Caribessa”, próximo à praia do Bessa, não foram afetados pelo petróleo. Muito embora o relatório do Ibama indique que a praia de Tambaú tenha registrado óleo e praia de Intermares, em Cabedelo, vizinha ao Bessa, também.
FONTE: G1 PB
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