Obras de contenção do mar agravam a erosão em Olinda
Pesquisa aponta que os chamados espigões têm efeito contrário ao pretendido na orla da cidade
Avanço está controlado, mas profundidade aumentou em até três metros. Foto: Mandy Oliver/Esp.DP.
Avanço está controlado, mas profundidade aumentou em até três metros. Foto: Mandy Oliver/Esp.DP.
As obras de contenção do avanço do mar na Praia de Bairro Novo, em Olinda, construídas desde a década de 1950, estão ampliando a erosão da praia. A conclusão foi do pesquisador Luis Augusto de Gois em sua tese de doutorado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Geociências da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O efeito reverso de intensificação do processo erosivo é provocado pelos espigões, braços de terra artificiais que saem perpendiculares do calçadão em direção ao mar. Segundo Gois, na praia de Bairro Novo, há trechos em que há mais de três metros de profundidade logo na linha do mar que tangencia o continente. Além disso, os espigões não estão recebendo qualquer manutenção por parte da Prefeitura de Olinda.
"Além de não defender a costa nem permitir a recuperação da praia, essas estruturas estão intensificando o processo de erosão e trazendo um custo muito grande à administração de Olinda, não apenas para mantê-las, porque elas exigem manutenção, mas por estarem aumentando o processo erosivo. Podemos dizer que hoje elas só beneficiam os comércios da orla”, sentenciou o pesquisador. O trabalho foi orientado pelo professor Valdir do Amaral Vaz Manso.
Iniciados na década de 1950, os espigões foram construídos para tentar apaziguar os problemas de avanço de mar e erosão causados pelas obras de ampliação do Porto do Recife. Na época, a praia de Bairro Novo, inclusive, era utilizada para banho, algo impensável hoje já que a área recreativa tem apresentado cotas negativas, ou seja, está abaixo do nível do mar. A pesquisa, que durou quatro anos, reúne dados compilados desde 2010.
"Essas estruturas foram construídas com a finalidade de reter a areia do mar das chamadas correntes de deriva, que transportam sedimentos. Mas elas não estão retendo esses sedimentos e estão intensificando o processo erosivo não apenas na praia, mas também na plataforma continental, a parte do mar em contato com o continente, ficando muito profundo logo na área onde as pessoas tomariam banho. Depois que os espigões foram construídos, ficou praticamente impossível tomar banho na praia de Bairro Novo”, defendeu Gois.
Já os enrocamentos aderentes, barreira de pedras paralela ao calçadão que protege do avanço do mar, têm feito a defesa da linha de costa, mantendo-a estabilizada, e impedido o avanço do mar na praia de Bairro Novo. Apesar disso, apresenta sucessivos problemas de abatimentos, decorrentes da fuga de material por sob os espigões, provocando uma grande quantidade de desmoronamentos.
ENGORDA
Para eliminar o processo erosivo e recuperar a praia, Luis Augusto recomenda que num primeiro momento sejam feitas ações imediatas que contemplem a supressão gradativa dos espigões para promover a ampliação da faixa de areia. “O processo de chegada de areia, sem os espigões, pode favorecer a regeneração da praia e, num segundo momento, poderia ser estudado o engordamento artificial da faixa de areia, como aconteceu em outras cidades da Região Metropolitana do Recife”, sugeriu o pesquisador.
Para eliminar o processo erosivo e recuperar a praia, Luis Augusto recomenda que num primeiro momento sejam feitas ações imediatas que contemplem a supressão gradativa dos espigões para promover a ampliação da faixa de areia. “O processo de chegada de areia, sem os espigões, pode favorecer a regeneração da praia e, num segundo momento, poderia ser estudado o engordamento artificial da faixa de areia, como aconteceu em outras cidades da Região Metropolitana do Recife”, sugeriu o pesquisador.
Estudo aponta falta de manutenção
Em sua tese A interferência das estruturas de proteção da costa na preservação dos sedimentos costeiros da Praia de Bairro Novo, Olinda-PE, Luis Augusto de Gois também mostra que, além dos efeitos reversos causados pelos espigões enquanto estruturas de proteção, eles não estão recebendo qualquer manutenção da atual gestãode Olinda. A falta de manutenção pode provocar acidentes como já ocorreu em outras ocasiões. “Não estamos vendo a olhos nus. Mas o que está acontecendo por debaixo daqueles espigões é que os sedimentos vão sendo retirados aos poucos, podendo provocar desmoronamentos. E se isso acontecer, será um processo muito mais oneroso”, explicou o pesquisador.
Questionada, a Prefeitura de Olinda informou que está em processo de licitação a escolha da empresa que fará o serviço de manutenção dos espigões da praia de Bairro de Novo. “Os problemas que podem ser acarretados pela falta de serviços são diversos, incluindo acidentes com mortes. O processo de licitação e estamos aguardando apenas ser aprovado para os trabalhos voltarem a ser realizados”, disse a administração municipal, por nota.
O processo de pesquisa consistiu na análise das duas maiores obras de defesa da faixa costeira presentes na Praia de Bairro Novo: os espigões e os enrocamentos. A orla tem uma sequência de 31 espigões alternados por uma muralha de enrocamento aderente que se desdobra pelos dois quilômetros de extensão da beira-mar.
A orla olindense tem sido uma das áreas mais afetadas da Região Metropolitana do Rrecife pelos fenômenos naturais da erosão e recuo da sua linha de costa. O maior responsável por essa deterioração foram as obras de ampliação do Porto do Recife, afetando desde o istmo da Praia de Del Chifre até a Praia do Janga, em Paulista. Por conta disso, a costa de Olinda foi também a que recebeu o maior número de intervenções na linha do mar, para tentar deter fenômenos como erosão e avanço do mar. Para Luis Augusto de Gois, essas intervenções, contudo, representam uma ameaça à estabilidade de toda a extensão litorânea do município.
FONTE: DIÁRIO DE PERNAMBUCO
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