Avanço do mar no Açu preocupa (RJ)
O litoral de São João da Barra sofre há décadas com o fenômeno de transgressão marinha. A praia de Atafona sempre foi a mais castigada pela força do mar, mas o outro extremo do litoral sanjoanense também sofre e teve mais um trecho tragado pelas ondas. No Açu, desde o último fim de semana, o avanço do mar levou parte de uma rua e deixou imóveis condenados. Moradores resistem às investidas do oceano e continuam a morar em trechos interditados pela Defesa Civil do município. A localidade abriga o maior complexo portuário da América Latina e, para quem vive por lá, a construção do Porto do Açu influenciou para que o processo de erosão ocorresse mais rápido. A Prumo Logística, responsável pelo empreendimento, nega que haja correlação entre a construção do porto o estreitamento da faixa de areia na costa.
O estabelecimento comercial e também residência de Loize Pereira, 33 anos, está à beira de um barranco que se formou na última semana. Ela conta que nos últimos dias o mar levou uma rua que tinha em frente ao bar. Mesmo assustada com a força do mar e velocidade que a região foi atendida, Loize decidiu ficar no prédio, ainda que orientada pela Defesa Civil para sair. “Eles queriam que eu fosse para um abrigo. Só saio daqui se eu conseguir um aluguel social. Então preferi continuar aqui e pelo visto vou ter que morar no mar. Se chegar até aqui, quero saber para onde eu vou?”, indagou.
O ambientalista Aristides Soffiati lembrou a construção de espigões na Barra do Furado — onde o mar avançou mais de um lado, enquanto outro crescia — para evidenciar o problema enfrentado atualmente no Açu. Soffiati relatou ainda que ressacas sempre aconteceram no litoral do 5º distrito sanjoanense, sendo que o mar recuava depois. Agora, o Açu é afetado pela erosão costeira, com intensidade nunca registrada. Para ele, embora a Prumo negue, há influência entre a erosão e a construção do porto na localidade. “O Eduardo bulhões (geógrafo) fez um estudo para o Ministério Público Federal e mostrou que existe uma corrente que leva sedimentos do Açu para o norte em uma época do ano e em outra traz sedimentos para o sul. Os espigões do complexo portuário funcionam como uma barragem, impedindo que isso aconteça”, afirmou.
A campista Rosania Teixeira, 63 anos, contou que frequenta a praia do Açu há mais de duas décadas. Amiga da comerciante Loize, ela estava no bar na última sexta-feira e contou estar impressionada com a velocidade e a força destrutiva das ondas. Rasania relatou que nesse período em que visita a praia também acompanha o fenômeno da transgressão marinha. No entanto, nunca foi tão rápido como agora e para ela tem uma explicação. “Em menos uma semana o mar levou a rua que tinha aqui na frente. Foi muito rápido. Depois que começou a cavar e colocar pedras para a construção do porto, o mar tem avançado mais depressa”.
Fonte: Folha Online
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