Análise Socioespacial do Litoral Sul de Pernambuco: notas de um trabalho de campo
Por: Ranniery Pinheiro Alves1, Jane Roberta de Assis Barbosa2, João da Silva Generino3 e Maria Ana Paula Freire da Silva4
Fonte: http://www.iqe.org.br | Instituto Qualidade de Ensino
Este texto é produto de uma reflexão iniciada nos encontros de Formação Continuada de Professores em Serviço do Programa Qualiescola II – convênio firmado entre a Secretaria Municipal de Educação/Recife e Instituto Qualidade no Ensino com vistas à melhoria na qualidade do ensino de Geografia. O litoral sul de Pernambuco, mais especificamente, os municípios de Jaboatão dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, vem ganhando uma nova situação geográfica, que se intensificou a partir de 1980 e continuam em ritmo mais acelerado (2005-2011) devido, principalmente, ao Complexo Portuário de Suape e seu entorno.
A realização do trabalho de campo foi precedida pelo estudo do Caderno Conceito e Ação, Volume I, e por um arcabouço teórico-metodológico com base na Geografia Nova, tendo como referência a concepção de paisagem entendida como resultado cumulativo de tempos e uso de técnicas, constituída por fatos do passado e do presente, formada por cores, sons, odores, formas e movimentos (Santos 2008). Some-se a isto a ideia de situação geográfica em Silveira (1999), definida pela localização material e relacional de um evento que conduz à pergunta pelo processo que o gerou, considerando assim, o momento histórico que o permeia.
A primeira parada foi na Praia de Piedade onde se observou a partir da paisagem e dos dados levantados previamente o aumento no número de imóveis (década de 80); o avanço do mar (década de 90); e o número significativo de imóveis voltados a atender trabalhadores de Suape, além da realização de uma obra do Governo Federal para a reestruturação da orla. É importante destacar que o avanço do mar sobre a costa destruiu a praia local. O mar chega ao muro dos prédios à beira mar, provocando desvalorização imobiliária e interferindo negativamente na qualidade de vida dos moradores e frequentadores do local.
A Praia do Paiva caracterizada no seu processo de ocupação inicial pelas casas de veraneio (década de 1940), atualmente é marcada pela presença de condomínios de alto padrão, os quais convivem com a poluição do Rio Jaboatão, que recebe dejetos de indústrias. A implantação do projeto turístico/imobiliário composto por capital privado, na Reserva do Paiva, exigiu a construção de uma ponte e de uma via. Tais obras, além de possibilitarem a criação de um nova rota para o litoral sul, ofereceram condições para a ocupação da praia local, onde também foi observado um processo acelerado e recente de abrasão marinha com a destruição da faixa de praia e a queda dos coqueiros mais próximos à orla.
Já a Praia de Suape tem o turismo de sol e mar, viabilizado pelo Projeto Costa Dourada no âmbito do Programa de desenvolvimento ao Turismo - PRODETUR/NE sua principal dinâmica. A pesca artesanal continua bastante significativa.
Em se tratando do Complexo Portuário e Industrial de Suape, a partir da análise da paisagem local, é possível perceber a forte influência das obras constantes e toda infraestrutura criada com vistas ao refino do petróleo e escoamento da produção. O complexo implantado a partir da década de 1970, como uma opção de transferência e operação do Parque de Combustíveis da Petrobrás do Porto do Recife para uma área mais afastada do centro urbano para que permitisse a operação de grandes navios. A partir de 2005, a área do Complexo de Suape ganhou maior dinamicidade com a implantação dos projetos e da construção da Refinaria Abreu e Lima, do Estaleiro Atlântico Sul e da Petroquímica da Petrobrás, que obrigaram os poderes públicos a pensarem a ampliação e dinamização da infraestrutura (rodovias, ferrovias, telecomunicações, energia, saneamento, etc.) e com isso, milhares de empregos e grande movimentação de máquinas transformaram o lugar em um verdadeiro canteiro de obras de proporções agigantadas e com grandes alterações ambientais, não sendo possível visualizar a compatibilidade entre o discurso e a prática preservacionista.
Outro local visitado, que nos chamou bastante atenção, é a sede do Município de Ipojuca, que apresenta um aspecto urbano altamente desordenado, sendo perceptível a falta de planejamento mais eficiente do uso e da ocupação do território. A desigualdade socioespacial é exposta na paisagem urbana, ou seja, em oposição à sede do Município de Ipojuca, o Distrito de Porto de Galinhas, com seu elevado valor turístico e imobiliário, apresenta-se melhor estruturado, viabilizando a realização da atividade turística e justificando a sua importância no cenário nacional e internacional como um verdadeiro “paraíso tropical”.
É importante ressaltar, na realização dessa atividade a pesquisa produzida para gerar uma análise mais criteriosa da paisagem com a qual iríamos nos deparar, o exercício prático das concepções teórico-metodológicas discutidas no decorrer dos vários encontros de formação e a percepção crítica a respeito das transformações no território da Região Metropolitana de Recife/PE, ocasionada pelas várias obras ali realizadas (Complexo Industrial e Portuário de Suape, Projeto Costa Dourada, Projeto Reserva do Paiva) que se por um lado criam milhares de empregos, por outro criam uma nova situação geográfica e acentuam as desigualdades socioespaciais existentes.
Concluímos com esta atividade, que a dinâmica econômica aliada aos incentivos do Estado se impõe sobre o uso socialmente justo do território, a despeito da preservação ambiental e interesses das populações residentes nas áreas analisadas, transformando-se em um laboratório vivo para o ensino da geografia com vistas a formação continuada e à realização de atividades com alunos do Ensino Fundamental II, público-alvo do Programa Qualiescola II.
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A realização do trabalho de campo foi precedida pelo estudo do Caderno Conceito e Ação, Volume I, e por um arcabouço teórico-metodológico com base na Geografia Nova, tendo como referência a concepção de paisagem entendida como resultado cumulativo de tempos e uso de técnicas, constituída por fatos do passado e do presente, formada por cores, sons, odores, formas e movimentos (Santos 2008). Some-se a isto a ideia de situação geográfica em Silveira (1999), definida pela localização material e relacional de um evento que conduz à pergunta pelo processo que o gerou, considerando assim, o momento histórico que o permeia.
A primeira parada foi na Praia de Piedade onde se observou a partir da paisagem e dos dados levantados previamente o aumento no número de imóveis (década de 80); o avanço do mar (década de 90); e o número significativo de imóveis voltados a atender trabalhadores de Suape, além da realização de uma obra do Governo Federal para a reestruturação da orla. É importante destacar que o avanço do mar sobre a costa destruiu a praia local. O mar chega ao muro dos prédios à beira mar, provocando desvalorização imobiliária e interferindo negativamente na qualidade de vida dos moradores e frequentadores do local.
A Praia do Paiva caracterizada no seu processo de ocupação inicial pelas casas de veraneio (década de 1940), atualmente é marcada pela presença de condomínios de alto padrão, os quais convivem com a poluição do Rio Jaboatão, que recebe dejetos de indústrias. A implantação do projeto turístico/imobiliário composto por capital privado, na Reserva do Paiva, exigiu a construção de uma ponte e de uma via. Tais obras, além de possibilitarem a criação de um nova rota para o litoral sul, ofereceram condições para a ocupação da praia local, onde também foi observado um processo acelerado e recente de abrasão marinha com a destruição da faixa de praia e a queda dos coqueiros mais próximos à orla.
Já a Praia de Suape tem o turismo de sol e mar, viabilizado pelo Projeto Costa Dourada no âmbito do Programa de desenvolvimento ao Turismo - PRODETUR/NE sua principal dinâmica. A pesca artesanal continua bastante significativa.
Em se tratando do Complexo Portuário e Industrial de Suape, a partir da análise da paisagem local, é possível perceber a forte influência das obras constantes e toda infraestrutura criada com vistas ao refino do petróleo e escoamento da produção. O complexo implantado a partir da década de 1970, como uma opção de transferência e operação do Parque de Combustíveis da Petrobrás do Porto do Recife para uma área mais afastada do centro urbano para que permitisse a operação de grandes navios. A partir de 2005, a área do Complexo de Suape ganhou maior dinamicidade com a implantação dos projetos e da construção da Refinaria Abreu e Lima, do Estaleiro Atlântico Sul e da Petroquímica da Petrobrás, que obrigaram os poderes públicos a pensarem a ampliação e dinamização da infraestrutura (rodovias, ferrovias, telecomunicações, energia, saneamento, etc.) e com isso, milhares de empregos e grande movimentação de máquinas transformaram o lugar em um verdadeiro canteiro de obras de proporções agigantadas e com grandes alterações ambientais, não sendo possível visualizar a compatibilidade entre o discurso e a prática preservacionista.
Outro local visitado, que nos chamou bastante atenção, é a sede do Município de Ipojuca, que apresenta um aspecto urbano altamente desordenado, sendo perceptível a falta de planejamento mais eficiente do uso e da ocupação do território. A desigualdade socioespacial é exposta na paisagem urbana, ou seja, em oposição à sede do Município de Ipojuca, o Distrito de Porto de Galinhas, com seu elevado valor turístico e imobiliário, apresenta-se melhor estruturado, viabilizando a realização da atividade turística e justificando a sua importância no cenário nacional e internacional como um verdadeiro “paraíso tropical”.
É importante ressaltar, na realização dessa atividade a pesquisa produzida para gerar uma análise mais criteriosa da paisagem com a qual iríamos nos deparar, o exercício prático das concepções teórico-metodológicas discutidas no decorrer dos vários encontros de formação e a percepção crítica a respeito das transformações no território da Região Metropolitana de Recife/PE, ocasionada pelas várias obras ali realizadas (Complexo Industrial e Portuário de Suape, Projeto Costa Dourada, Projeto Reserva do Paiva) que se por um lado criam milhares de empregos, por outro criam uma nova situação geográfica e acentuam as desigualdades socioespaciais existentes.
Concluímos com esta atividade, que a dinâmica econômica aliada aos incentivos do Estado se impõe sobre o uso socialmente justo do território, a despeito da preservação ambiental e interesses das populações residentes nas áreas analisadas, transformando-se em um laboratório vivo para o ensino da geografia com vistas a formação continuada e à realização de atividades com alunos do Ensino Fundamental II, público-alvo do Programa Qualiescola II.
Mais fotos:
1Professor de Geografia da Rede Municipal de Ensino de Recife. Especialista em Educação Ambiental.
2Consultora do Instituto Qualidade no Ensino – IQE. Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana pela USP.
3Professor de Geografia da Rede Municipal de Ensino de Recife. Especialista em Geografia Urbana.
4Professor de Geografia da Rede Municipal de Ensino de Recife. Especialista em Ensino de História.
2Consultora do Instituto Qualidade no Ensino – IQE. Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana pela USP.
3Professor de Geografia da Rede Municipal de Ensino de Recife. Especialista em Geografia Urbana.
4Professor de Geografia da Rede Municipal de Ensino de Recife. Especialista em Ensino de História.
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