Avanço do mar em Lauro de Freitas é apontado como dramático em estudo (RJ)

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Se você é proprietário de uma residência nas avenidas Praia de Itamaracá, Praia de Guarapari ou Praia de Guarujá poderá deixar para os seus descendentes uma casa à beira-mar, bem de frente para a praia.

Já se você mora nas avenidas Praia de Copacabana, Praia de Tambaú ou Praia de Mucuripe, trate de se mudar nos próximos 200 anos porque até lá estará tudo debaixo d´água devido ao aumento do nível do mar – se nada for feito para reduzir as emissões de poluentes no planeta.

O aumento da temperatura média do globo terrestre, causado pelas emissões de carbono, está levando ao degelo nos polos e consequente elevação do nível do mar.

Mesmo que alguma coisa seja feita a partir de agora para que a temperatura média aumente apenas 2ºC – em vez dos 4ºC previstos – até o ano 2100, toda a avenida Praia de Copacabana acabará debaixo d´água, embora a Tambaú se salve. Nesse cenário menos catastrófico, a praia estará onde hoje existe o rio Sapato.

A projeção é da Climate Central, uma organização de pesquisa e jornalismo sem fins lucrativos que oferece informação científica sobre a mudança climática no planeta. O objetivo é alertar o público e os responsáveis pela formulação de políticas climáticas e de produção de energia.

A organização desenvolveu uma ferramenta que permite prever a elevação do nível do mar em todas as áreas costeiras do planeta segundo dois cenários prováveis: aumento da temperatura média em 2ºC ou 4ºC até 2100.

Se você ficou preocupado – porque mora na av. Praia de Copacabana – ou muito animado, porque tem casa na Itamaracá, leve em conta que o horizonte de 200 anos é apenas uma estimativa. Os cientistas avisam que é mais fácil prever a quantidade de gelo que vai derreter nos polos do que a velocidade em que esse gelo derreterá. Muitos outros fatores desconhecidos podem acelerar ou retardar esse prazo em centenas de anos.

Certo mesmo é que o nível do mar está subindo e vai subir muito mais ainda, não importa o que se faça, porque algum grau de poluição ambiental ainda existirá por muito tempo no planeta. O esforço é apenas para reduzir o aumento da temperatura, não para eliminá-lo.

Quem gosta da arquitetura do Centro Panamericano de Judô, em Ipitanga, por exemplo, deve se apressar para fazer uma visita. Em qualquer caso, de acordo com a projeção, ele vai sumir sob as águas. Na melhor das hipóteses, metade da rua Elza Paranhos ficará submersa e será possível mergulhar no Atlântico pulando do muro do aeroporto.

Já Buraquinho simplesmente deixará de existir. Onde hoje existe um bairro inteiro haverá uma bela baía, com a foz do rio Joanes transferida para a ponte da Estrada do Coco – isso no cenário mais otimista. No pior cenário, com aumento de 4ºC em vez de 2ºC, a baía de Buraquinho será a porta de entrada de um grande estuário, transformando Lauro de Freitas numa península.

Parte do litoral de Camaçari irá se transformar numa ilha que vai de Busca Vida à entrada de Arembepe. A vila mesmo, vai para debaixo de água, haja o que houver. Dê adeus também a Guarajuba, a Itacimirim e à Praia do Forte. A BA-099 vai se transformar numa bela estrada à beira-mar.

COP21

A elevação da temperatura em apenas 2ºC é um objetivo internacional de longa data e corresponde ao que muitos especialistas consideram um sucesso no controle das emissões de gases de efeito estufa. O aumento de 2ºC corresponde, nesta análise, a um aumento de 4,7 metros no nível do mar.

Um aquecimento de 4ºC, que acontecerá se nada for feito, corresponde a uma elevação de 8,9 metros no nível do mar. Algo entre 2ºC e 4ºC deverá resultar como compromisso internacional na Conferência do Clima que acontece em Paris, França, até 11 deste mês – a COP21. O atual compromisso dos países na redução das emissões aponta para um aquecimento de 3ºC, ou 6,4 metros no nível dos oceanos.

Para a maioria das ilhas do planeta – e para a orla de Lauro de Freitas e Camaçari – bom mesmo seria limitar o aquecimento global a 1,5ºC. Mesmo assim, o oceano subiria 2,9 m. As projeções levam em conta o aquecimento causado apenas por dióxido de carbono, um poluente ambiental de longo prazo.

Se nada mudar – nem mesmo para pior – o planeta será submetido a uma carga de 2,4 gigatoneladas de carbono por volta de 2100 – ou 3,67 vezes o mesmo peso de gás carbônico. Isso corresponde a 3,3ºC de elevação no aquecimento e 7,1 metros a mais no nível dos oceanos.

Esses números são estimativas centrais numa larga escala de possibilidades, avisam os cientistas. Mas se nada mudar, a quantidade de emissão de poluentes continuará a aumentar em 2100.

O objetivo da COP21 é obter um mínimo de redução nas emissões de carbono em todo o planeta, limitando o aumento da temperatura a 2,3ºC (cinco metros de elevação nos oceanos). As emissões de poluentes atingiriam o auge por volta de 2060 e depois cairiam.

Na improvável hipótese de os governantes dos grandes países poluidores – China e Estados Unidos – assumirem o compromisso de cortar mais a poluição ambiental, poderíamos limitar o aquecimento global a 1,7ºC (2,6 metros). O pico aconteceria em 2040.

O melhor cenário possível – e também o menos provável por afetar criticamente a economia da maioria do planeta – seria um corte radical nas emissões, limitando o aquecimento a 1,1ºC (2,4 metros) – o que poderia salvar a avenida Praia de Copacabana, mas não as residências da orla.

Nesse caso, o auge das emissões seria atingido dentro de cinco anos, declinando daí em diante, até chegar a zero em 2080. Depois disso ainda seria necessário remover carbono da atmosfera em grande escala – o que pode ser extremamente difícil e caro, pelo menos a partir da tecnologia atual.

A projeção para este mês de dezembro de 2015 aponta um aquecimento acumulado de 0,8ºC e 1,6 metros de elevação no nível dos oceanos. E continuamos jogando poluentes na atmosfera a uma taxa que vem aumentando quase todos os anos. Os efeitos da atual elevação dos oceanos já são visíveis em largas áreas costeiras do nordeste brasileiro, com calçadões e mesmo casas destruídas pelo avanço do mar.

O aumento já verificado causou impactos ainda maiores no resto do mundo: quase metade das calotas polares do Ártico derreteram, milhões de hectares de árvores no Oeste americano morreram devido a pragas relacionadas ao calor e os maiores glaciares no Oeste da Antártida – com dezenas de milhões de metros cúbicos de gelo – começaram a se desintegrar. Mesmo que os níveis de carbono parassem de aumentar hoje, a temperatura continuaria a subir em cerca de 0,5ºC.

China

Diminuir em Lauro de Freitas os efeitos da catástrofe já contratada para todo o mundo depende essencialmente do que decidirem os dirigentes dos países que mais poluem o planeta. O mesmo é dizer que a China – país que mais emite carbono – decidirá quem vai morar à beira-mar em Vilas do Atlântico daqui a 85 anos.

É real a esperança de que a China embarque na redução dos poluentes, mesmo à custa de se prejudicar economicamente, porque a China será também o país mais afetado pela futura elevação dos oceanos. Cerca de 145 milhões de pessoas vivem hoje em áreas que estarão submersas em 2100 se a temperatura subir os 4ºC previstos.

Se o aumento ficar limitado a 2ºC, cerca de 64 milhões de chineses ainda terão que se mudar, mas o desastre fica consideravelmente reduzido. Outras 12 nações têm mais de 10 milhões de pessoas, cada uma, vivendo em locais que estão em risco – principalmente India, Bangladesh, Vietnam, Indonésia e Japan.

Já nos Estados Unidos, 25 milhões a 34 milhões de pessoas poderiam ser afetadas pelo aquecimento de 4ºC, incluindo a maioria dos residentes em mais de 1,5 mil cidades, 25 delas com mais de 100 mil habitantes. Limitar o aquecimento a 2ºC pode reduzir o número de afetados em mais de 10 milhões.


Custo desenvolvimento

Cerca de 45 mil terão participado da conferência de Paris-Le Bourget, a 21ª dedicada ao tema. Há 20 mil pessoas credenciadas. As demais poderão participar de debates, visitar exposições e ver filmes numa área dedicada à sociedade civil que será construída perto do centro de conferências.

O desafio do clima, sempre relegado a um tema próprio de “ecochatos”, é um dos mais complexos que o mundo alguma vez enfrentou, mas as alterações climáticas encontram-se agora no topo da agenda global e dos líderes de países, cidades, setor privado, sociedade civil e religiões.

Durante o processo de preparação da conferência, mais de 150 países submeteram metas nacionais de redução da emissão de carbono para a atmosfera. Juntos, esses países respondem por 90% das emissões globais.

Um acordo em Paris seria um ponto de partida decisivo no modo como todos os países – atuando em conjunto, com base num acordo transparente e legal – traçarão um caminho para limitar o aumento da temperatura global em 2ºC. Sem um acordo global será impossível limitar o aquecimento do planeta.

As chamadas Contribuições Internacionais Nacionalmente Determinadas (INDCs, na sigla em inglês), constituem a proposta de cada país para formar uma base de redução de emissões de poluentes.

O ponto central da conferência de Paris, contudo, não é convencer os governantes a reduzir a emissão de poluentes, mas decidir quem vai pagar o custo da consequente redução da atividade econômica e da substituição de tecnologias sujas.

Para isso, deverá ser estabelecido um pacote de financiamento destinado aos países em desenvolvimento. A expectativa é que os países desenvolvidos expliquem como concretizar o compromisso assumido na Conferência de Copenhague de mobilizar US$ 100 bilhões por ano até 2020 para apoiar os países em desenvolvimento. O investimento para o período pós 2020 também deverá ser debatido.

O debate econômico é, afinal, o único que interessa tanto aos países desenvolvidos e maiores poluidores, quanto aos menos desenvolvidos e que reivindicam, no fundo, o direito de poluir para se desenvolver – ou serem ressarcidos por abrir mão dessa meta.

Aconteça o que acontecer, de acordo com as projeções da Climate Central, a orla como a conhecemos vai deixar de existir. 

Fonte: Vilas Magazine

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