Mar conquista metro e meio todos os anos no litoral aveirense (Portugal)

Praias são cada vez mais estreitas. Recuperar o que as ondas levaram tem custos insuportáveis, resta tentar manter o que existe

Portugal está a perder a costa litoral aveirense e vai começar a deslocalizar populações das frentes urbanas ameaçadas pelo avanço do mar. Todos os anos avança, em média, um metro e meio.

Mar conquista metro e meio todos os anos no litoral aveirense
Bairro dos pescadores em Esmoriz vê o mar avançar
foto ZULAY COSTA/JN
Parte do bairro de Esmoriz, em Ovar, dará o exemplo que ninguém quer seguir e, dentro de dois anos, 30 famílias que habitam na primeira linha de casas serão mudadas para um bairro social que custará 2,2 milhões de euros à Câmara.

As constantes monitorizações de especialistas e as emergências pontuais - como quando o mar galgou a duna e a estrada junto ao labrego (a sul da Vagueira), em 2011, para se unir à ria - mostram um "desequilíbrio do sistema" com muitos culpados: alterações climáticas, aumento do nível do mar, barragens que retêm sedimentos, extração de areias e eventos naturais.

Cristina Bernardes, investigadora do Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro (UA), tem constatado a "redução significativa da largura das praias e dunas". A taxa média de recuo é de 1,5 metros por ano, mas muito mais acentuada em algumas zonas. Entre Maceda e Furadouro, deverá avançar 5,3 metros por ano, em média. Segue-se a zona entre Esmoriz e Cortegaça, com média de 1,5 m/ano e o areal entre a Costa Nova e Vagueira, com média de 1,4 m/ano. Em contraciclo, o areal entre a Torreira e S. Jacinto deverá aumentar seis metros por ano, prevê o Plano de Ordenamento da Orla Costeira (POOC) 2013/23. Em causa a influência da construção do molhe norte do Porto de Aveiro.

Recuperação insuportável

Mas podemos recuperar a costa que o mar levou? "É possível, mas tem custos que o país não pode suportar. A opção é tentar manter o que existe através de um cenário voluntarista de manutenção, em vez de um reativo de emergência ou um voluntarista de antecipação", explica Fátima Alves, investigadora do Departamento de Ambiente e Ordenamento da UA, que tem ajudado a elaborar o POOC Ovar-Marinha Grande, um documento que deverá ficar pronto até final deste ano e planear as ações para 2013/2023.

Para além da manutenção da linha de costa e salvaguarda das faixas de risco face à ocupação humana, o plano pretende valorizar praias, proteger a riqueza da biodiversidade e potenciar atividades económicas e turísticas. Tanto em terra como no mar. "Pela primeira vez, o POOC será articulado com o ordenamento marítimo, estabelecendo uma ligação à economia do mar e articulando a criação de zonas de aquacultura, pesca xávega e energias renováveis, entre outras, com o turismo das praias e biodiversidade", diz Fátima.

A próxima década deverá ficar marcada pela deslocalização da frente do bairro piscatório em Esmoriz, rotação do parque de campismo de Cortegaça, construção de nova defesa aderente a sul da Barra, manutenção e monitorização de todas as estruturas de defesa de costa, realimentação artificial (colocar areia nas praias mais erodidas), 14 intervenções de prolongamento de defesa aderente, aumento das praias qualificadas e com vigilância e o reconhecimento de duas praias com aptidão para o surf (Labrego e Poço da Cruz).

Fonte: http://www.jn.pt

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