Falando da temporada | Itapoá - Santa Catarina

Na temporada geralmente não fico em Itapoá. E não é por não gostar do calor, chover muito ou ficar incomodado com as multidões que chegam à praia.

Penso que uma cidade com pouco mais de 16 mil habitantes, ao receber durante 30/45 dias, um contingente de pessoas dez vezes maior, não tem como atender às necessidades e desejos de todos, sejam visitantes ou moradores.

A infraestrutura existente não é suficiente e nem está preparada para uma demanda de tal dimensão. Desconsiderar essa realidade é o mesmo que, como ouvi recentemente, acomodar um elefante num pires de café.

Decido abrir mão do espaço a favor das pessoas sejam elas turistas ou veranistas, pois as considero, ao contrário do que julgam alguns moradores, importantes para o desenvolvimento de Itapoá. Levo em conta também, o privilégio de morar na cidade o ano inteiro, pois muitos dos que vem na temporada, sequer imaginam o quanto isso é prazeroso. Itapoá é muito mais do que um simples verão. Depende do olhar.

Mas, dessa vez foi diferente. Circunstancias fizeram com que permanecesse em Itapoá. Compromissos diversos e um motivo poderoso: a linda netinha só poderia vir à praia em janeiro. Argumento suficiente para o avô coruja ficar.

Sabendo das limitações procurei adaptar-me a realidade da melhor forma possível. Evitar as saídas e passeios nos horários de “pique”, as idas ao banco e aos locais de grande aglomeração na praia, procurar caminhos e horários alternativos e outros cuidados semelhantes.

Para minha surpresa, quase não faltou água em casa; o conserto do motor da cisterna foi providencial. A luz faltou apenas em alguns momentos. A internet não sobrecarregou. Também não tive vizinhos barulhentos e inconvenientes. Fora o intenso movimento, no geral foi até tranquilo e sem muita neura.

Entretanto, as inúmeras criticas feitas nos blogs locais e, principalmente, a manifestação de um turista me deixou apreensivo. Na verdade muito preocupado.

Esse turista, que passou doze dias em Itapoá, lamentou indignado o estado em que encontrou a cidade.

Em suas palavras: “… as praias estão horrorosas, – ou melhor, o restinho das praias que ainda sobraram – sujas, cheias de lixo, esgoto a céu aberto. Isso para dizer o mínimo. Nem há espaço para se armar um guarda-sol, pois o mar está tomando conta de tudo. Caminhar pelas praias, então… é impossível, pois não há mais continuidade e as pedras colocadas para evitar a erosão das propriedades tomaram conta do espaço”.

Criticou ainda: “… faltam placas indicativas para se chegar aos pontos de interesse, faltam calçadas, faltam garis nas ruas, faltam nomes nas ruas… as ruas de ligação entre as várias praias alternam asfalto com bloquetes e… longos trechos em terra [provavelmente referiu-se ao trecho próximo ao Bamerindus, o conhecido Elo Perdido]…”

Disse mais: “… para chegar à baía da Babitonga [Vila da Glória] é uma vergonha nacional: quilômetros de estrada em terra, esburacada, quase impossível de trafegar… uma pena…”

Atribuiu a culpa à prefeitura que não se interessa pelos turistas e por extensão ao prefeito que entende está matando a galinha de ovos de ouro de Itapoá, o turismo. Foi categórico: “… se ele[o prefeito] pensa que o novo porto suprirá as necessidades da população, está redondamente enganado.”

Expectativas frustradas? Possivelmente… Insatisfação? Certamente.

Nas minhas costumeiras “pedaladas” na praia ficou inevitável olhar mais atento ao entorno. E vi o que ele viu e o que todos deveriam ver: a praia realmente está com sérios problemas.

Não é fácil ouvir críticas. Algumas de fato são absurdas. Tanto quanto podem ser os comentários nos blogs contra a presença dos turistas, generalizando-os como baderneiros irresponsáveis e predadores da cidade. Inclusive com gente torcendo para que chova direto até o Carnaval no intuito de afastá-los. Outras, as construtivas e francas, são necessárias. Elas nos fazem refletir. Pensar no porque das reclamações, e também nas possibilidades de revertê-las.

Pequena, média ou grande Itapoá será cidade turística e portuária. As pessoas viverão aqui e, certamente, vão querer qualidade de vida.

Entretanto, não dá para imaginar turismo em Itapoá sem seu atrativo maior, ou seja, a praia bem conservada. Para isso é preciso aprender a escutar as opiniões das pessoas com serenidade e disposição, para transformá-las em instrumentos de aperfeiçoamento e desenvolvimento.

Opiniões favoráveis ou não, sempre existirão. Algumas criticas podem ser maldosas, inconsequentes, sem fundamentação e até suspeitas. E as “culpas” geralmente são atribuídas aos gestores públicos responsáveis pela administração da cidade. Outras como as do turista citado servem para serem pensadas por todos, indistintamente.

Ou deixamos rolar tal qual faz o avestruz na contrariedade: enfia a cabeça num buraco e espera que tudo se resolva.

Por Werney Serafini
Fonte: gazetadeitapoa.com

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