Avanço da maré preocupa moradores

Poderia ser apenas um momento de contemplação, mas, além da beleza da paisagem, o que a estudante de Odontologia Maria do Céu Barreto admira é o avanço da maré. Da varanda do apartamento onde mora, no Edifício Fernando Sampaio, na Avenida Beira Mar, ela pode observar como o cenário mudou. Antes, aquele trecho do calçadão era ocupado por várias pessoas que faziam atividade física. Hoje, a água impede que isso aconteça.

Mas não pense que o avanço só atrapalhou os hábitos saudáveis dos moradores. Na verdade, muitos dos que residem ali estão, de fato, preocupados com a situação. "A maré esta cada vez mais alta e, consequentemente, a quantidade de água na rua cada vez maior, formando até poças", destaca Maria do Céu Barreto.

Para ela, apesar de os especialistas dizerem que não há risco, há, sim, chances consideráveis de a água invadir o local, pois a maré está mais alta a cada dia e a água, ultrapassando o muro de contenção, que, por sinal, é baixo. "Dá medo de o mar invadir, por isso me preocupo sim. Com a natureza não podemos brincar, nem nos descuidar", opina Maria do Céu.

Desvalorização de imóveis pode ocorrer devido ao avanço da água


Segundo a estudante Maria do Céu Barreto, de fato, a maré sobe demais e a água chega a invadir a Avenida Beira Mar, no trecho entre o Iate Clube de Aracaju e a Avenida Anízio Azevedo, causando transtornos aos que estão caminhando na calçada ou esperando o ônibus no ponto. Por causa disso, ela admite que ficaria mais tranquila se houvesse uma maior proteção contra o mar. "Porque não aumentam o muro para que a maré bata e não jogue água na calçada, na rua e não forme poças na avenida?", questiona. A jovem revela que não chegou a pensar em se mudar, mas diz que não está satisfeita com a situação.

Para Ivã Soares, diretor da Legislar Imobiliária, a preocupação faz sentido. Ele explica que o mar deve continuar avançando e invadindo a avenida. "Dá para perceber que a água está quase chegando ao lado oposto, onde ficam os residenciais", comenta Ivã Soares. De acordo com ele, o avanço da água pode, sim, desvalorizar os imóveis da região. "Até o momento, não mudou nada. Mas o mar está revolto e isso pode, de fato, desvalorizar a área, caso nenhuma providência seja tomada", avalia. "A depender do que fizerem de agora em diante, poderão surgir efeitos nada agradáveis para quem tem imóveis ali e muito menos para o mercado", acrescenta o diretor da Legislar.

Vale ressaltar que a situação é, de fato, preocupante, pois a Avenida Beira Mar, no Bairro Treze de Julho, é uma das regiões de maior valorização imobiliária. Aliás, é lá que está o metro quadrado mais caro da capital. "A região próxima ao Iate Clube sempre foi menos valorizada do que aquela do início da avenida. Mas, de qualquer forma, é muito procurada também", afirma Ivã. Por enquanto, não houve queda na procura pelos imóveis dali, e preço também continua o mesmo: cerca de R$ 6.500 o metro quadrado de área construída.

INSPEÇÃO


Depois de toda a imprensa - inclusive o Cinform - noticiar esse avanço do mar e a explosão das ondas sobre a avenida, o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, do PC do B, realizou uma visita técnica no local no mês de outubro e anunciou medidas de segurança para evitar a destruição da balaustrada. Na área, a Prefeitura construiu, abaixo da mureta, um muro de contenção que, segundo Edvaldo, é reforçado constantemente para evitar infiltração e o consequente afundamento da avenida.

Além disso, o prefeito informou que uma empresa de consultoria foi contratada e que os técnicos farão uma análise completa da área. A partir disso, o projeto das obras que fará proteção da muralha será licitado. "Enquanto isso, fazemos a manutenção, um trabalho que visa a evitar a erosão, especialmente cimentando a mureta. Imediatamente, o risco é pequeno, mas temos que tomar todas as precauções, todos os cuidados, para que possamos não ver nenhum problema grave", diz o prefeito.

O engenheiro Armando Bezerra, da equipe de consultoria, explicou, à época da visita, que o estreitamento na entrada da foz do rio Sergipe elevou o nível da água, decorrendo no avanço da maré. "É como se espremessem o canal, o que elevou o nível de água. A dinâmica do mar é essa: acumula e retira. Acumula com assoreamento e retira na erosão. É um equilíbrio natural. A urbanização quebra essa dinâmica", aponta.

Segundo ele, a barreira de proteção para o mangue do Bairro Treze de Julho ou o molhe construído na Atalaia Nova também podem ter contribuído para que o mar esteja avançando sobre a avenida. A previsão é de que a proteção da mureta custe aos cofres públicos R$ 5 milhões. Os recursos devem ser captados junto ao Governo Federal. O ponto de ônibus naquele trecho da avenida será retirado para outro local.

Foto Ivve Rodrigues / Fonte: Cinform

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