Morro do Careca perdeu volume e está mais perigoso
Por Mirella Lopes
Por causa da erosão em sua base, que é a perda de sedimentos levados pelo mar, o Morro está mais íngreme e, portanto, mais difícil de ser escalado, oferecendo também maior risco de deslizamento.
“Desde 2014 vinha realizando pesquisas que demonstravam a redução de altura e volume do Morro do Careca, do material que recobria a duna. Fizemos medições com um instrumento a laser para saber o volume que estamos perdendo com os anos. Hoje, o professor Rodrigo Amorim fez nova medição e os dados devem ser divulgados após análise. Notamos que a areia que vem sendo carreada pelos ventos que vêm da Barreira do Inferno sumiu e percebemos uma inclinação mais acentuada, tive que me segurar com muita firmeza para não descer. Isso é ruim porque a areia que é levada para o topo não consegue se sustentar muito tempo no local, não tem a mínima estabilidade para se sustentar e a tendência é isso ir aumentando”, relata o professor da Engenharia Civil e Ambiental da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), Venerando Eustáquio Amaro, que também coordena o Laboratório de Geotecnologias Aplicadas Modelagem Costeira e Oceânica (GNOMO).
Morro do Careca I Imagem: Mirella Lopes
“Preocupa quando não há mais a praia como defesa, as ondas avançam sobre esse setor e retiram material [areia]. As falésias estão ficando mais perigosas, há risco de tombamento porque vai ficando mais instável. A cerca de proteção foi recomposta, mas o que acontece é que muitas pessoas não respeitam. Na visita que fizemos hoje vimos pessoas se escorando na sombra da falésia e até embaixo de buracos que se formaram no local”, alerta Venerando.
O Morro do Careca é formado por depósito de sedimentos de diferentes épocas ao longo de milhares de anos. A face branquinha e lisa que formavam o topo do Morro contém diferentes tipos de materiais, como antigas dunas chamadas de paleodunas (dunas fósseis), que não eram vistas porque acabavam sendo recobertas pela areia soprada da Barreira do Inferno.
“Agora vemos vários níveis de depósitos, com estratificação maior do que o imaginado. Como o Morro já foi bastante erodido, está com a inclinação bem alta, com muita movimentação do topo para a base... não tem mais a mesma feição, o volume está bem menor”, revela o pesquisador da UFRN.
Com a coleta mais recente, o grupo quer identificar o tipo de material que forma o Morro do Careca, o que dará uma ideia de quanto tempo a natureza levou para esculpir o formato pelo qual a duna ficou conhecida, com as datações dos extratos de cada tipo de material encontrado.
E a engorda?
A influência que a obra de engorda da Praia de Ponta Negra terá sobre o Morro do Careca será a de reduzir a erosão de sua base, evitando a formação das falésias que são vistas atualmente.
“A única coisa que a engorda fará é evitar que o mar bata diretamente na falésia, como acontece atualmente. Quando a areia da engorda ror colocada, a água chegará com menos energia. Hoje ela bate direto na base do Morro, vemos a base da falésia molhada. Isso ocorre em qualquer maré alta, não precisa nem ser uma ressaca”, detalha Venerando Eustáquio.
A obra
A obra de engorda e drenagem da praia de Ponta Negra foi orçada inicialmente em R$ 75 milhões, entre recursos da Prefeitura de Natal e do Governo Federal. Porém, segundo o Ministério do Desenvolvimento Regional, o valor subiu para cerca de R$ 108 milhões.
Com a engorda, que será realizada em três etapas, a promessa é de alargar faixa de areia da praia em até 100 metros, na maré seca, e 50 metros na maré cheia.
1ª etapa: Complementação do enrocamento, ou seja, dos blocos utilizados para contenção da água.
2ª etapa: A alteração da drenagem na região, com o objetivo de reduzir a força das águas pluviais que chegam à praia e, assim, minimizar a erosão costeira.
3ª etapa: Aterramento hídrico com cerca de 4,4 toneladas de areia, que será extraída de uma jazida de areia submersa, trazida de uma área do mar próxima à praia de Areia Preta, que teria o material adequado para este tipo de intervenção, isto é, uma areia com granulometria de média a grossa. Para tanto, será utilizada uma draga de sucção e, após a extração, a areia será transportada e depositada em Ponta Negra em trechos de 200 em 200 metros.
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FONTE: SAIBA MAIS
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