Podem tempestades extremas proteger praias da subida do nível do mar?
Tempestades extremas, cada vez mais frequentes devido às alterações climáticas, causam danos no litoral, dunas, bens e infraestruturas. Mas, pelos vistos, também há um lado positivo, pois ajudam a proteger as praias do impacto da subida do nível do mar. Como? Saiba mais aqui!
A natureza surpreende-nos em muitas ocasiões. As tempestades extremas, cada vez mais frequentes devido às alterações climáticas, causam danos no litoral, dunas, bens e infraestruturas. Mas os cientistas acabam de descobrir o seu outro lado positivo: ajudam a proteger as praias do impacto da subida do nível do mar, já que arrastam areia nova de águas mais profundas ou de praias próximas.
O estudo, que abre um novo olhar sobre tempestades extremas, foi conduzido por Mitchell Harley do Laboratório de Investigação da Água da Universidade de New South Wales e publicado no Nature Communications Earth & Environment.
"Sabemos que tempestades extremas provocam uma erosão costeira extensa e danos nas propriedades da orla marítima. Mas pela primeira vez olhámos não só acima da água, onde os impactos de tempestades extremas são fáceis de ver, mas também abaixo da água", indica Harley. O que os investigadores descobriram foi que centenas de milhares de metros cúbicos de areia entram nos sistemas de praia durante estes eventos, semelhante à escala que os engenheiros utilizam para alimentar artificialmente uma praia.
Uma nova forma de olhar para as tempestades extremas
Em colaboração com investigadores da Universidade de Plymouth e da Universidade Autónoma de Baja California, o estudo examinou três áreas costeiras: uma na Austrália, outra no Reino Unido e outra no México. Cada uma foi sujeita a uma sequência de tempestades extremas, seguidas de um período mais ameno de recuperação da praia.
Perdas muito significativas de areia
No Reino Unido, desde 2006 que os investigadores analisam a praia de Perranporth, na Cornualha. Aí, o impacto dos invernos extremos de 2013/14 e 2015/16 causou perdas muito significativas de areia do sistema de dunas e das praias intermareais. No entanto, em 2018 a praia tinha ganho 420.000 metros cúbicos de areia.
Uma das questões chave que os gestores costeiros e os cientistas enfrentam prende-se com o quanto uma linha de costa pode mudar devido à subida do nível do mar, enquanto é planeada a resposta aos impactos crescentes das alterações climáticas.
Assista o vídeo no link: https://youtu.be/WAv-c9zNCWM
A regra de Bruun tornou-se obsoleta
No passado, utilizava-se uma abordagem simples conhecida como "regra Bruun", que afirma que para um dado metro de subida do nível do mar, espera-se que a linha costeira recuasse entre 20 e 100 metros ou mais, dependendo do declive. Através da regra de Bruun, projetou-se que a subida global do nível do mar causada pelas alterações climáticas causaria um grande recuo ou perda de quase metade das praias arenosas do mundo até ao final deste século.Alterações climáticas e linhas de costa
As alterações climáticas ameaçam as zonas costeiras, que já se encontram sob tensão devido à atividade humana. A subida do nível do mar altera a forma das linhas costeiras, contribui para a erosão costeira, destruição gradual da terra pelo mar e leva a inundações e a mais intrusão subterrânea de água salgada. Os oceanos mais quentes e mais ácidos também são suscetíveis de perturbar os ecossistemas costeiros e marinhos.
A erosão costeira tem-se verificado por todo o globo, ameaçando assim as zonas costeiras. Por exemplo na Europa, um quinto da costa já está severamente afetada, com as costas a recuar entre 0,5 e 2 metros por ano, e em alguns casos mais extremos até 15 metros. A erosão costeira tem efeitos dramáticos sobre o ambiente, ameaça habitats e vida selvagem e sobre a atividade humana, como é o caso do turismo.
Durante décadas, as áreas costeiras têm experimentado intensa urbanização e forte crescimento populacional. A União Europeia adiciona cerca de 68.000 km de costa, três vezes mais do que os Estados Unidos. Segundo a Agência Europeia do Ambiente, quase metade da população da UE vive a menos de 50 km do mar. Além disso, a costa é o destino de férias mais popular da Europa.
Para que os decisores políticos tomem as medidas adequadas, é importante compreender melhor os efeitos das alterações climáticas nas comunidades e recursos costeiros, pelo que a realização de investigação, recolha de dados e monitorização do estado das costas são essenciais.
Medição do recuo das linhas de costa
A Agência Espacial Europeia, ESA, tem vindo a desenvolver vários produtos para melhor monitorizar a Terra e a atmosfera. De acordo com o programa de Ciência da Observação da Terra, da ESA, o projeto “Coastal Change from Space” fornece informações importantes sobre as alterações costeiras em todo o mundo e permite um serviço global de monitorização da erosão costeira, avaliação dos riscos ambientais, e investigação sobre o potencial impacto das alterações climáticas na costa, incluindo a subida do nível do mar e o efeito de sistemas meteorológicos cada vez mais dinâmicos.
Aproveitando imagens de satélite recolhidas ao longo de 25 anos, incluindo dados das missões Sentinel-1 e Sentinel-2 do Copernicus, a equipa mapeou 2.800 km de litoral analisados em quatro países: Reino Unido, Irlanda, Espanha e Canadá. Com os novos desenvolvimentos é possível que cada pixel de cada imagem de satélite tenha muito mais precisão no solo, bem como para identificar onde o litoral está localizado em cada data específica.
Confira imagens no link da ESA EarthObservation abaixo:
https://twitter.com/ESA_EO
A frequência das imagens das missões Sentinel-1 e Sentinel-2 tornou possível observar as mudanças ocorridas nas linhas costeiras. Estes resultados foram validados por uma equipa de cientistas independentes dos quatro países usando dados de observação de campo e conhecimento local. As 30.000 imagens obtidas estão a ser analisadas para ajudar os cientistas a entender melhor os processos locais nas regiões costeiras.
A próxima etapa será usar estes conjuntos de dados para melhorar o desempenho de modelos e adicioná-los a outras informações morfológicas sobre áreas costeiras para melhorar as previsões e facilitar o uso de estratégias de mitigação fundamentadas.
FONTE: tempo.pt
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