OS ESTERTORES DA GLOBALIZAÇÃO (Scroll down for English)

 Recebemos uma contribuição do CEO Branch Brazil do Instituto Smart City Business América  - ISCB, Jorge Barros, Ph.D, que de uma forma sucinta, discorre de maneira brilhante sobre a atual situação que vivenciamos e a Globalização. Recomendo a leitura para reflexão.


“O mais importante não é ver o que outros não veem, mas pensar o que outros não pensam sobre algo que todo mundo vê.” - Arthur Schopenhauer.


De acordo com os registros do European Higher Educational Area – Bologna Process, de meados do século passado até a atualidade, em todo o mundo foram produzidas aproximadamente 7,3 milhões de teses de mestrado e doutorado versando sobre o tema da Globalização. Parece que não faltou dedicação e nem quantidade de produção acadêmica, mas a julgar pelo crescente estreitamento mental dos pensadores do mundo livre, pela alienação dos formuladores de políticas públicas e pela quase total ausência de debates desse tema nos fóruns sociais, talvez falte a esses capacidade analítica, fidedignidade aos fatos e, principalmente, posicionamento estratégico. Se não, vejamos.

A maioria dos economistas, sociólogos, historiadores e analistas internacionais concorda que o fenômeno globalista contemporâneo acelerou-se no século XX, tendo sido mais claramente notado a partir da Terceira Revolução Industrial, iniciada nos idos de 1950, marcando também o nascimento da nossa conhecida Era da Informação. 

Conceituada teoricamente como um processo de expansão econômica, política e cultural a nível mundial, a Globalização anunciava-se como objetivando a expansão do comércio mundial na busca por vantagens mais competitivas. No campo da economia, esse movimento trouxe consequências concretas como o aumento da concorrência entre empresas e países, o aumento da circulação monetária nas principais bolsas de valores, a proliferação de empresas transnacionais e a criação dos grandes blocos econômicos. No campo cultural, entendendo a cultura como o conjunto de conhecimentos, crenças, leis, moral, arte e costumes de uma sociedade, esse movimento foi igualmente intenso e abrangente.

Entrementes, as consequências de facto hoje percebidas desse processo parecem não ser exatamente aquelas que foram inicialmente anunciadas. 

Alardeado midiaticamente como um processo propositivo de compartilhamento de valores culturais e vocações econômicas, o processo de Globalização mostra-se hoje como desigual e injusto, um modismo outrora assumido como inevitável e levado a efeito sem controle de qualquer instancia supranacional com autonomia para coibir os abusos que foram impunemente praticados pelos que detinham, e ainda detêm, o poder bélico e o protagonismo financeiro mundial. Ao fim e ao cabo, os que tinham maior poder ficaram mais poderosos e os que tinham menor poder ficaram ainda mais fragilizados; fez-se valer a força da pujança econômica e a maior capacidade de sobrepujamento cultural pelos países mais financeiramente estruturados que, sofisticamente, dinamizaram esse expansionismo, disseminaram seus próprios usos e costumes, induziram a prevalência e a dependência do consumo dos seus produtos manufaturados e trouxeram consequências significativamente negativas para a soberania, para o bem estar social, para a economia e para o patrimônio imaterial dos países menos abastados.

 E como se essas consequências fossem insuficientemente trágicas, a Globalização paradoxalmente enfraqueceu os seus próprios fundamentos, pois abriu flancos para uma ameaça ainda maior: na esteira da euforia globalista, ideologias tidas como já sepultadas ganharam fôlego de sobrevivência e revitalizaram suas estratégias predatórias de dominação.

Infiltrando-se sorrateiramente em movimentos legítimos como a sustentabilidade ambiental, a voz das minorias, a inclusão social, a equidade racial, entre outros, e desta vez tendo aprendido importantes lições das derrotas do passado, essas ideologias temerárias foram inteligentemente pondo em prática suas ações sub-reptícias, menos bélicas, mais sutis e mais eficazes, envenenando psicologicamente os berços das crianças no mundo livre ocidental, infiltrando-se nas nossas escolas fundamentais, promovendo a corrupção dos nossos adolescentes, enfraquecendo os jovens mentalmente, imbecilizando os adultos, desconstruindo a família e carcomendo iconoclasticamente os valores culturais que dão sentido patriótico às nações e à existência humana. Os prepostos dessa ideologia foram às compras, integral ou parcialmente, adquirindo e instrumentalizando nossas grandes empresas de mídia, subvertendo nossos espaços acadêmicos e subornando as organizações nãogovernamentais. Os doutrinadores dessas ideologias acenam com o estabelecimento de uma “nova ordem” na geopolítica mundial, como única saída para a cizânia psicossocial que eles mesmo criaram.

Para entendermos melhor como se constrói e como se desconstrói a identidade de um povo, pondo em prática uma estratégia como a Globalização, precisamos rapidamente revisitar o que a História do mundo tem para nos ensinar. 

Há cerca de 10.000 anos, desde que o ser humano passou a se agrupar em comunidades fixas, vilas e aldeias, cada um desses agrupamentos humanos foi moldando um conjunto de características coletivas próprias, derivadas do instinto de sobrevivência, da necessidade de padrões de sociabilização e das inter-relações geopolíticas. Segundo o Prof. Dr. Claude Lévi-Strauss em sua obra Anthropologie Structurale, os princípios éticos e morais dessas comunidades, assim como suas crenças religiosas, também fazem parte desse conjunto de valores aceitos como verdadeiros, sejam para explicar os fenômenos da natureza, para corroborar normas de comportamento socialmente aceitáveis ou para responder metafisicamente às indagações sobre suas existências neste planeta. 

Didaticamente, Lévi-Strauss sugere que observemos o mundo animal não humano, ambiente onde não há outra lei se não a da própria natureza. Assim notamos que onde não há lei civil, não há civilização. Se não há civilização, muito menos haverá racionalidade humana ou senso moral entre os conviventes. Na ausência desses preceitos, um agrupamento humano não se configura numa sociedade, mas apenas numa comunidade primitiva em que as relações são regidas pelos instintos básicos animais.

 Para se conviver civilizadamente numa comunidade humana, é portanto necessário que haja leis criteriosas de acesso, de circulação, de trocas econômicas e de compartilhamento cultural. É imprescindível respeitar o direito, o território, os valores e as crenças dos outros povos. Pessoas são diferentes, culturas são diferentes: nem melhores, nem piores, apenas diferentes; mas, se queremos viver pacificamente em comunidade, precisamos cumprir essas regras de convivência. 

Naturalmente sabemos, por empirismo e por pesquisa científica, que culturas nacionais não são estáticas; elas são dinâmicas, modificam-se. Não obstante e a despeito de serem passíveis de evolução ao longo do tempo, as culturas dos povos são soberanas e precisam ser preservadas. Seus preceitos atávicos não podem ser meros joguetes manipuláveis que se desconstrua ao sabor dos interesses de grupos ideologicamente predatórios ou de suas sórdidas conveniências de protagonismo global. Cultura nacional é patrimônio imaterial e inalienável de um povo. 

Fazer proselitismo ingênuo de um utopia anárquico-johnlenoniana onde existiria um “mundo sem fronteiras” é semelhante a tirar de alguém sua identidade, apagar sua memória e submetê-lo à viver numa comunidade onde se vaga sem qualquer parâmetro sócio-antropológico, um ambiente sem referências históricas, numa biosfera onde o indivíduo é apartado do sentimento de pertencimento como pessoa, como família e como membro de uma comunidade. Uma das inúmeras evidências disso é que nas últimas décadas, com o desenvolvimento da Globalização, passou a existir no mundo um fenômeno generalizado de mal-estar que foi pesquisado e conceituado pelo Prof. Dr. Sigmund Freud em sua obra Das Unbehagen in der Kultur. Esse constructo do pai da psicanálise é explicado como a perda da identidade cultural de um povo e de cada pessoa, refletido nas palavras de Freud como “Um sentimento oceânico de perda das fronteiras, assim como das perdas entre o indivíduo e o seu mundo.” 

Havendo pensamento crítico alinhado com capacidade de decisão e se minimamente ainda existir algum senso de autopreservação e patriotismo na civilização ocidental, é possível que ainda vivamos para ver um movimento de “Desglobalização” que salvaguarde o que sobrou da identidade cultural dos povos, assim como reverta o avanço predatório de ideologias falidas, travestidas de panaceia global. 

Se você achou esse texto um pouco (ou muito) confuso, não se preocupe; não é culpa sua essa dificuldade de entender esses conceitos. Você foi desde a infância trabalhado e preparado para não conseguir entender o que acontece no seu mundo. Entretanto, saiba que já passou da hora de repensarmos seriamente o “Globalismo”, porque nós já perdemos muito, mas ainda temos muito a perder. 

Jorge Barros, Ph.D 

SCB América/CEO Branch Brazil

FONTE: BLOG MARCO LYRA

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