MARÉ VERMELHA NA PRAIA DO CABO BRANCO

 Uma longa mancha vermelha apareceu na praia do Cabo Branco desde ontem. Seria uma Maré Vermelha? 

Moradores do Cabo Branco foram surpreendidos com uma forte mancha vermelha na praia.

Recebemos uma contribuição do nosso colega engenheiro civil Severino A. Santos Lima, graduado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), tendo o mesmo uma extensa lista de serviços prestados ao seu estado, tendo ocupado diversos cargos públicos, tendo inclusive ocupado o cargo de Diretor Presidente da URBAN na Prefeitura de João Pessoa.

Sua versão sobre o aparecimento  da longa mancha vermelha na praia do Cabo Branco é a seguinte:

"Não creio que a turbidez das águas no Cabo Branco ocorrida ontem (25/08/2020) seja MARÉ VERMELHA ou decorra das águas oriundas do rebaixamento do lençol freático por construtoras, como tem apregoado Noé Estrela, da Defesa Civil da PMJP. Não é Maré Vermelha porque uma importante característica desse fenômeno é a sua duração: várias semanas, podendo durar até um ano. Com relação às águas oriundas do rebaixamento do lençol freático executado por incorporadoras, menos ainda. Essas águas entram no sistema via bocas de lobo, situadas nas sarjetas, ou seja, essas águas escoam superficialmente pela linha d’água, até chegarem à rede. Não há vestígio algum, que possa encaminhar sequer indícios para tal nuto. Digo isso como engenheiro, e como tal, arrisco uma opinião (pitaco) para dizer como entendo tal fenômeno: turbidez das águas do mar, na zona de surfe".

Antes, porém, referir-me a esse belo, denso e didático trabalho da Geógrafa e Professora Christianne Reis, que acabei de ler. Penso que dará sustentação à minha opinião a respeito, senão vejamos: ela afirma que as ondas carregam energia e as correntes sedimentos, no caso, numa associação inextricável na qual ocorria (no período da pesquisa) erosão na falésia (convergência das ondas) e deposição na enseada. Isso significa dizer que algo que for feito lá falésia, para o bem ou para o mal, interfere na enseada, por conta dessa troca de energia: a Teoria Quântica pode até nos ajudar nessa compreensão, imagino!

Pois bem, depois de constatar que se trata de um trecho crítico e altamente vulnerável, agora impiedosa e cruelmente intervencionado pela Prefeitura de João Pessoa, mediante um suposto enrocamento interceptando o estirâncio, a autora concluiu o trabalho afirmando que “[...] a melhor maneira de conservar as praias, é assegurar um espaço para se mover em direção ao mar durante as fases de acresção e, na direção do continente durante as fases erosivas”: precisa e absolutamente o contrário daquela “coisa” executada lá na falésia e entorno, onde a Prefeitura está, infelizmente, “fazendo o que  nunca foi feito”.

Prossigo.

Na minha opinião, trata-se de um processo relacionado aos eventos marés, ondas e correntes, que atuavam na morfologia da falésia, há décadas, provocando o desbarrancamento de sua escarpa. O volume que se desagregou do talude é algo colossal!  Parte desse material, permaneceu para formar o terraço de abrasão, uma estrutura natural dispersora de energia. A outra parte foi transportada para a enseada, por suspensão ou por arrastamento, eis que a falésia é uma fácie bem estratificada, possui em sua estrutura vários tipos de sedimentos, inclusive finos e muito finos, de coloração diversa.

Em uma pesquisa realizada (1999) nesse setor, o também Professor e Geógrafo Paulo Rosa (já falecido), constatou a presença de turbidez nesse trecho da enseada que permaneceu na zona de arrebentação das ondas cerca de quatro dias. É curial perceber que se trata de um volume considerável, haja vista o tempo que o processo erosivo ocorria lá na falésia. Não é brincadeira!

E porque surgiu agora com tanta força? É que a “coisa”, executada com desprezo aos bons critérios de engenharia, equivale a um avanço abrupto, violento e indesejável da linha de costa em direção ao mar, criando, assim, uma linha de proeminência (um promontório antrópico), funcionando, destarte, como se fora um espigão, resultado: retenção de sedimentos à barlamar e erosão à sotamar, na enseada, mais visível no trecho onde se encontra o “monstro marinho” retirando, embalde, pedras. 

O “monstro marinho” retirando, embalde, pedras. 

É preciso tomar providencias urgentes para resolver o forte impacto ambiental ora existente na praia do Cabo Branco. 


FONTE: BLOG DE MARCO LYRA








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