Metade das praias do mundo podem desaparecer neste século. Em Portugal, areais podem perder até 60 metros
Praias da Zambujeira do Mar, na Costa Alentejana Créditos: Pedro Monteiro
Investigador da Universidade do Algarve é um dos autores do estudo comissariado pela União Europeia e publicado esta semana na revista Nature, que combina 35 anos de observações de satélite com projecções das tempestades do futuro, revelando um cenário dramático para a erosão costeira até 2100.
Sete cientistas do Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia, entre eles o investigador Theocharis A. Plomaritis, do Centro de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Algarve, assinam um estudo publicado na revista Nature Climate Change que apresenta a primeira avaliação global da dinâmica futura da erosão costeira a nível mundial, considerando todos os principais fatores envolvidos no fenómeno. Combinaram 35 anos de observações de satélite da evolução costeira com 82 anos de projeções relativos ao aumento da temperatura do ar e da subida do nível do mar, usando diferentes modelos climáticos, e simularam mais de 100 milhões de eventos de tempestades e quantificaram globalmente a erosão costeira resultante.
Os resultados indicam que metade das praias do mundo, muitas das quais em áreas densamente povoadas, podem desaparecer até ao final do século.
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A erosão costeira prevista para 2050 e para 2100, segundo o estudo “Sandy coastlines under threat of erosion”, publicado a 2 de março de 2020 na revista Nature.
“As praias arenosas ocupam mais de 30% da costa do planeta e servem como zonas-tampão, protegendo a costa e os ecossistemas costeiros das ondas e inundações. Têm uma função ‘amortecedora’ que se tornará cada vez mais importante com o aumento do nível do mar e da frequência de tempestades mais intensas, em consequência das alterações climáticas, refere o investigador da Universidade do Algarve, Theocharis A. Plomaritis, num esclarecimento à VISÃO.
Além de habitats importantes, as praias são áreas de lazer fundamentais para a economia de muitos países – nomeadamente de Portugal. “As alterações climáticas vão acelerar a erosão e mais da metade das praias do mundo podem desaparecer completamente até o final deste século”, refere o estudo. Contudo, se medidas como as previstas nos Acordos de Paris forem efetivamente implementadas, estes impactos poderão ser mitigados em valores até 40 por cento.
Contudo, mesmo se o aquecimento global for controlado, as sociedades precisarão se adaptar e proteger melhor as praias de areia da erosão. “A presença humana torna as praias menos resilientes”, referem os autores, lembrando que “as costas arenosas formam um ambiente extremamente dinâmico devido à alteração das condições das ondas, do nível do mar e dos ventos, além de fatores geológicos e antropogénicos”.
Por natureza, “as praias são resistentes à variabilidade climática natural, pois podem acomodar mares mais altos e tempestades marinhas, recuando e adaptando sua morfologia”, no entanto, as praias arenosas naturais estão cada vez mais pressionadas em resultado da construção urbana junto à costa. E com as “zonas de recuo” cada vez mais ocupadas, as praias perdem essa capacidade natural de acomodar ou recuperar da erosão.
Gâmbia, Paquistão ou El Salvador estão entre os países que perderão cerca de 80% das suas praias nos próximos 50 anos. Há ilhas que irão desaparecer – nas Antilhas prevêm-se avanços do mar na ordem dos 300 metros – e no Canadá, Austrália, México, Chile e Argentina a costa vai “encolher” cerca de 150 metros.
Em Portugal, as praias poderão perder até 60 metros – e muitos dos mais apetecíveis areais do país já não têm hoje, sequer, essa dimensão. A reposição artificial de areias (que já acontece hoje em vários locais, apesar dos seus elevados custos económicos), vai mascarar alguns impactos durante algum tempo, mas apenas por breves períodos, entre a primavera e o verão, ou entre tempestades.
Obras de requalificação do areal na Praia Dona Ana, em Lagos, no Algarve, em 2015Créditos: José Caria
A partir deste estudo, a Comissão Europeia reforçará as recomendações aos países-membros para analisarem a extensão das áreas afetadas, dos bens e seres humanos em risco nessas áreas e que tomem medidas adequadas para reduzir o risco de inundação.
Manter praias de areia saudáveis é uma das medidas mais eficazes de proteção costeira e é expectável que estes dados ajudem a juntar vários ambientes arenosos à Diretiva Habitats da CE ou à lista de áreas protegidas da rede NATURA. A demolição de áreas construídas junto à costa e a deslocalização de infra-estruturas existentes estarão cada vez mais na ordem do dia.
Palavras-chave:
FONTE: A VISÃO
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