O que é e como funciona o alargamento de faixa de areia das praias?

Construção de aterro artificial requer estudos de impactos ambientais e envolve a superação de uma série de desafios. Entenda quais são

Texto: Juliana Nakamura

alargamento da faixa de areia
O alargamento da faixa de areia ajuda a minimizar a erosão costeira (foto: Felipe A C Peres/shutterstock)

Algumas cidades da costa brasileira, como Fortaleza (CE), Florianópolis e Balneário Camboriú (SC), têm investido em projetos para o alargamento da faixa de areia de suas praias. Por trás destas obras, que demandam recursos vultosos, há dois interesses principais. O primeiro é a necessidade de minimizar a erosão costeira, evitando problemas como a inundação de ruas devido à ressaca do mar. Há, ainda, a necessidade de revitalizar a orla, ampliar a oferta de lazer e fortalecer o turismo que tende a ser tão importante para a economia dessas regiões.
Em Balneário Camboriú, por exemplo, o plano é fazer com que a Praia Central, que hoje tem 25 metros de largura, ganhe 70 metros de faixa após o depósito de mais de 2 milhões de metros cúbicos de areia extraída de uma jazida a 15 quilômetros da praia.

COMO FUNCIONA?


Conhecido também como engorda artificial, o alargamento da faixa de areia consiste na construção de um aterro com areia de mesmo tamanho, densidade e granulometria do material original da praia. Na maior parte das vezes, a intervenção é associada a outras obras de proteção costeira, como a construção de espigões marítimos, quebra-mares e molhes. “Estas estruturas complementares desempenham um papel importante, ao aumentar o tempo de retenção dos sedimentos na praia, prolongando o tempo de reposição para manter a faixa de praia”, explica o engenheiro Marco Lyra, especialista em obras de proteção costeira.
Estas estruturas complementares desempenham um papel importante, ao aumentar o tempo de retenção dos sedimentos na praia, prolongando o tempo de reposição para manter a faixa de praia
Marco Lyra

Ele conta que, teoricamente, toda praia com processo erosivo pode se aproveitar do alargamento da faixa de areia. "No entanto, o alto custo deste tipo de obra, as dificuldades de atendimento aos parâmetros de projeto e as incertezas quanto à durabilidade da intervenção, são fatores limitantes", pondera Lyra, lembrando que também há outras soluções técnicas para conter a erosão costeira. “No Nordeste do Brasil, em especial em praias alagoanas, uma alternativa que vem se mostrando eficaz é o uso de contenção com uso de dissipadores de energia bagwall, que consistem na utilização de formas geotêxteis preenchidas com concreto ou argamassa bombeada”, cita.

VIABILIDADE TÉCNICA E ECONÔMICA
Todo projeto de engenharia para proteção costeira, independente da solução técnica adotada, deve considerar o custo de implantação e de manutenção, a disponibilidade de materiais, o impacto ambiental e a durabilidade.
Para o alargamento da faixa de areia os desafios começam ainda na elaboração de um projeto que considere uma ampla diversidade de parâmetros. "É preciso identificar as zonas de empréstimos submersas ou jazidas de areia, avaliar os níveis energéticos existentes no local da intervenção, e verificar as características e o controle do material que será depositado na praia. Além disso, é necessário utilizar modelos matemáticos que permitam garantir um tempo de retenção mínimo de cinco anos para eventual reposição de areia”, comenta o engenheiro.
Outro componente que não pode ser negligenciado é o impacto ambiental decorrente da obra. É imperativa, por exemplo, a realização de Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) bem fundamentado e que inclua o monitoramento obrigatório da obra antes, durante e depois de sua conclusão.
“Mas entre todas as dificuldades em projetos de alargamento de faixa de areia, a mais impactante é o custo de implantação da obra. Para se ter uma ideia, atualmente está sendo feita uma nova engorda na praia de Iracema, em Fortaleza, a um custo de mais de R$ 55 milhões”, informa Lyra.

CUIDADOS NA EXECUÇÃO

Durante a execução do aterro hidráulico, outros três procedimentos imprescindíveis listados pelo engenheiro Marcos Lyra são:
• Garantir que a areia utilizada seja compatível com a granulometria de projeto e livre de contaminação.
• O espalhamento da areia na praia com equipamentos pesados deve seguir um plano de ação previamente aprovado pelo órgão ambiental responsável, bem como ser fiscalizado e monitorado por profissionais habilitados, para evitar maiores riscos ao meio ambiente.
• Adotar rigor na avaliação da vulnerabilidade da praia e das estruturas costeiras, para um diagnóstico preciso em caso de degradação ambiental, em consequência de fortes ressacas.

COLABORAÇÃO TÉCNICA


engenheiro civil marco lyro

Marco Lyra — Engenheiro civil, é especialista em obras de proteção costeira com MBA em gestão ambiental de desenvolvimento sustentável. É palestrante, autor de vários artigos sobre erosão costeira, e consultor em projetos de controle de erosão costeira e recuperação de praias no litoral nordestino.

FONTE:


NOTA DE AGRADECIMENTO

Agradeço a Revista Digital Arquitetura, Engenharia e Construção Civil - AEC WEB, pela oportunidade de levar boa informação a seus leitores, de um modo especial a jornalista Juliana Nakamura.

 

Comentários

Mais visitados