SOS ATAFONA – COMENTÁRIOS SOBRE A AUDIÊNCIA PÚBLICA DO DIA 04/03/2019
Conforme
prometi aos amigos do SOS Atafona, segue abaixo nossos comentários sobre o que
assistimos no vídeo da Audiência Pública.
Audiência Pública sobre erosão costeira realizada na Câmara de Vereadores com participação maciça da população de São João da Barra
Foto: Leonardo Ferreira / Portalozk.com
Introdução
Toda obra costeira de grande
porte antes de ser projetada, deveria seguir o ritual utilizado na Audiência
Pública de São João da Barra/RJ. Uma reunião com todos os atores envolvidos no problema
para o debate livre da questão, onde devem ser apresentados os projetos para
análise e discussão das possíveis soluções. É importante observar o uso do
plural, isto é, mais de um projeto.
Para seguir a orientação do
CEM – Coastal Engineering Manual (USA – Army Corps of Engineers) – que para os
engenheiros costeiros, é um manual de instruções a ser seguido. Não é a receita
do bolo, mas conduz o engenheiro projetista a evitar erros nos procedimentos e
nas decisões a serem tomadas.
De acordo com o manual do CEM,
para planejar uma obra costeira é preciso responder a apenas duas perguntas: qual
é o problema? e qual é o projeto que se está tentando realizar? Por mais banal
que pareça estas são as mais importantes e mais difíceis perguntas a responder.
Audiência
Pública
A principal discussão na
Audiência Pública foi em torno de se encontrar a viabilidade para escolha da
obra costeira a ser executada. O Governo só deverá investir recursos quando encontrar uma solução
técnica adequada, com estudo de viabilidade econômica, onde os benefícios sejam
maiores que os custos.
No
momento, o município de São João da Barra pretende escolher para praia de Atafona, um plano para resolver o
problema da erosão costeira e está analisando duas propostas a do INPH e a do
Professor Eduardo Bulhões da UFF. A diferença do custo das obras é
relativamente grande. A proposta do INPH tem uma estimativa de R$ 180 milhões.
A proposta do Professor Eduardo Bulhões, está estimada em R$ 16 milhões, menos
de 10% da proposta do INPH.
Um
dos grandes entraves de ambas as propostas sem levar em consideração os custos
de implantação, é o licenciamento ambiental das intervenções. Todas necessitam
de EIA/RIMA, possivelmente a Licença Ambiental só deverá ocorrer após um ano na
melhor das hipóteses.
A
proposta apresentada na Audiência pelo professor Eduardo Bulhões, tem na sua
concepção, a proteção costeira com uso de Dunas para recomposição do sistema
praia, utilizando a engorda artificial com uso de areia com granulometria
compatível existente na área. A estimativa inicial do volume a ser utilizado na
engorda artificial é de 400 mil metros cúbicos de areia para praia de Atafona,
já incluindo eventuais perdas.
Durante
o debate, foi colocada a necessidade de intervir também na praia do Açu, que se
encontra com forte processo erosivo que surgiu após a construção do porto.
Considerações Importantes
Para
escolha da obra de engenharia costeira a ser utilizada, é importante observar
de forma concomitante os 5 itens fundamentais abaixo:
-
Durabilidade mínima de 5 anos;
-
Disponibilidade do material a ser utilizado;
-
Baixo Impacto Ambiental;
-
Custo de Implantação da obra;
-
Custo de Manutenção da obra.
O
gestor deve escolher a solução que tenha o melhor custo-benefício, para que o
resultado final seja alcançado, isto é, o controle da erosão costeira na praia.
A proposta do Professor Eduardo Bulhões com o
objetivo recuperar a praia de Atafona é interessante, utilizando alimentação
artificial de praias com areia, também conhecida como “engorda artificial de
praia”, é uma solução
de proteção costeira usada para evitar ou reduzir a erosão da linha de costa. A
técnica consiste na colocação artificial de material sedimentar
preferencialmente de mesmo tamanho, densidade e granulometria do material
original. Sua utilização se dá quando se pretende preservar, alargar ou formar
praias e dunas compensando a erosão verificada, aumentando a largura da praia.
Este enchimento artificial pode atenuar os efeitos da erosão das praias a
jusante, uma vez que pode se constituir numa fonte adicional de sedimentos.
É preciso
identificar a jazida, os níveis energéticos, as características e o controle do
material a depositar na praia. Geralmente a alimentação artificial é utilizada
associada a outras obras de proteção costeira de forma complementar tais como:
espigões, quebra-mares e molhes. O objetivo dessas obras complementares é
aumentar o tempo de retenção dos sedimentos na praia, prolongando o tempo de
reposição periódica de sedimentos para manter a faixa de praia.
Não
foi debatido na Audiência o que fazer no período de mais de 1 ano com a erosão
costeira existente, colocando em risco pessoas e bens.
A
pergunta a ser feita é a seguinte: - Existe alguma obra emergencial que poderia
ser feita e aproveitada pela obra que viria posteriormente para conter o avanço
do mar?
A
resposta é sim. É possível utilizar o dissipador de energia Sandbag em caráter
emergencial na contenção da erosão costeira, evitando mais danos a pessoas e
bens, durante o período de espera do licenciamento em Atafona. Como o Sandbag é
uma obra aderente e longitudinal a linha de costa de baixíssimo impacto
ambiental, um estudo ambiental simplificado da intervenção, é mais rápido para
a obtenção da Autorização Ambiental do que o EIA/RIMA. O custo de implantação
da obra é de R$ 3 milhões/km de extensão. O tempo para execução da obra é de
180 dias para uma extensão de 1 km.
A
vantagem da utilização do dissipador de energia Sandbag em caráter emergencial é
que ele funciona como um anteparo que contém o avanço do mar na linha de costa,
e por dissipar a energia das ondas, promove a deposição de sedimentos na praia,
isto é, com o acúmulo de sedimentos, o perfil de praia tende a emergir formando
a berma, ajudando também na recuperação da duna.
Caso
haja sedimento compatível no local, a alimentação artificial com areia para
formação da duna conforme o projeto do professor Eduardo Bulhões, seria
excelente para recuperação da praia com o alargamento da faixa de areia,
aumentando a vida útil da obra para eventual manutenção.
É
recomendável que se verifique onde já foram utilizadas no Brasil as alternativas
propostas como solução para Atafona, e quais foram os resultados obtidos,
principalmente observando o impacto ambiental e o custo de manutenção da obra feita.
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