Moçambique: um ciclone em cima de uma crise económica

O impacto do ciclone Idai vai ampliar a travagem a fundo da economia moçambicana, iniciada em 2016 após um escândalo massivo de corrupção.

Foto: IFRC via Reuters

A tragédia humanitária em Moçambique causada pela massiva tempestade Idai aterra em cima de uma crise económica que desde 2016 reduziu o crescimento do país de uma média próxima a 8% ao longo das duas décadas anteriores para menos de metade.
O início da travagem a fundo da economia moçambicana aconteceu com a descoberta em 2016 de mais de mil milhões de dólares em empréstimos ocultos contraídos pelo governo. Os empréstimos foram feitos por bancos internacionais – o Credit Suisse e o russo VTB – para financiar um negócio de proteção costeira e uma frota de pesca de atum. Ambos os negócios nunca chegaram efetivamente a arrancar e foram as tentativas de mascarar o incumprimento dos empréstimos que levaram à descoberta dos valores.
A investigação judicial que se seguiu – que em Moçambique já fez 18 arguidos, entre ex-ministros e família do ex-presidente Armando Guebuza – apurou que o montante de dívida escondida superava 2 mil milhões de dólares. Há um processo de decorrer também nos Estados Unidos (onde houve lesados que compraram obrigações das empresas moçambicanas) contra o facilitador do negócio, os dois bancos envolvidos e o ex-ministro das Finanças moçambicano.
O caso levou o FMI a retirar os preciosos empréstimos de apoio a um dos países mais pobres do mundo, que entretanto começou a falhar pagamentos na sua dívida soberana. Em Janeiro deste ano o ministro das Finanças Adriano Maleiane acenou com um atraso de dez anos nos pagamentos. A dívida superior a 110% do PIB é a quarta maior de África.
A descoberta em 2010 de enormes reservas de gás natural ao largo de Moçambique, a par do ritmo de crescimento do país, levaram a otimismo e elogios ao país. A diretora do FMI, Christine Largade, elogiou em 2014 a "performance impressionante" da economia. O escândalo de corrupção foi um revés brutal do ponto de vista financeiro e da imagem externa.
A este problema somou-se o aumento da tensão interna entre o governo dominado pela FRELIMO e a RENAMO, assim como o impacto da queda dos preços das matérias-primas.
Os grandes projetos de gás natural no norte do país – que segundo vários especialistas citados na imprensa internacional podem levar Moçambique ao topo da produção mundial de gás – vão começar a operar em 2023 e são uma das esperanças para a economia. Até lá o cenário parece difícil, sendo agora complicado pelos efeitos do ciclone Idai.
Moçambique é o quinto país mais pobre do mundo quando medido em PIB por habitante, segundo dados de 2017 do FMI. A esperança média de vida não chega a 58 anos, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde.  
FONTE: SÁBADO

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