Mar avança sem controle no litoral paraibano.
Quando lembra da infância na Praia do Poço, o pescador Elimax Cardoso, de 28 anos, recorda que a faixa de terra entre sua residência e o mar era pelo menos 20 metros maior do que é hoje. Isso tem acontecido por conta do avanço do oceano, que, segundo especialistas, ainda não recebe a devida atenção dos administradores públicos, impossibilitando, assim, ações para diminuir os problemas gerados pelas ondas.
Pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), José Marengo alerta: esse tipo de pesquisa é urgente pois sem ela não há como conhecer objetivamente os impactos e mudanças gerados pelas alterações marítimas.
“Há pouca coisa porque faltam observações do nível do mar. Existem alguns na costa do Rio de Janeiro e São Paulo, mas no Norte e Nordeste ainda não há estudos. Se pensamos uma cidade como João Pessoa, por exemplo, não achamos muita coisa a respeito, faltam dados. Isso cria uma lacuna de conhecimento. Sem dados fica meio difícil pensarmos em ações”, disse.
Com estudos e mapeamentos das áreas, destaca o especialista, essas ações podem ser pontuais e efetivas. “Os governos precisam construir diques ou estruturas físicas para conter o avanço na população. Isso tem um custo e precisa ser assumido. Os governantes precisam dar mais atenção à causa, pois muitas vezes as pessoas não conhecem e não sabem como agir”, destacou.
Efeitos. “Nos últimos sete anos o mar tem avançado muito. Eu pesco e também faço passeios turísticos. Minha mãe tem um barzinho em frente ao mar. Tanto eu como ela vemos o movimento de turista cair porque quando ele chega nessa região encontra muita construção derrubada pelas ondas, sem contar que em dia de maré alta quase não se tem faixa de areia”.
Água dá prejuízo
Em Ponta de Campina, Litoral Norte, o avanço do mar tem gerado prejuízo aos empresários. Gerente de um restaurante naquela praia, Williams da Silva destaca que nos últimos anos o nível do mar tem deixado os comerciantes em constante alerta.
“No último mês de março tivemos uma maré de 2.3 que avançou para dentro do restaurante e queimou uma freezer nossa, prejuízo de mais de R$ 400. O vento forte piora isso. A água às vezes invade quase 11 metros salão adentro. E leva tudo: mesa, cadeira, guarda-sol. A gente tem que ficar de olho, se a maré sobe nós mudamos tudo de lugar para não gerar mais prejuízos”, disse. Nesses dias de maré alta, o número de clientes cai em média 30%.
Robustas edificações da região também foram afetadas e precisaram passar por mudanças por conta do avanço do mar, como o Clube dos Médicos, que saiu da beira-mar para o outro lado da Avenida Governador Argemiro de Figueiredo. Segundo informações da administração do local, o avanço do mar foi à principal razão para alteração de endereço. “Em dias de maré alta era comum a onda invadir o antigo clube, inclusive parte dele caiu por causa da força do mar”, disse a secretária administrativa, Raiane Lacerda.
No outro extremo da Grande João Pessoa, também é possível encontrar diversos problemas gerados pela força das ondas. Antônio da Cruz, 68 anos, é um dos 20 comerciantes da Praia do Seixas, Litoral Sul de João Pessoa. Ele diz que, na falta de ações do poder público, a população tem construído paliativos para conter o avanço do mar.
“Desde a Praça do Seixas até os bares estão prejudicados. Desde 1997 existe essa discussão com a prefeitura para que eles ajudem, mas nada foi feito. Tem comerciante que coloca pedra e estaca de madeira na frente dos bares, pra tentar diminuir a força das ondas, mas ainda assim quando o mar está cheio ele invade e quebra tudo”, disse.
Fonte: Correio da Paraíba
Comentários
Postar um comentário