Processo de erosão afeta 40% do litoral do Ceará
Os 60% restantes podem ser salvos, mas dependem de ações urgentes realizadas por municípios
A Barraca Canarinho, no Icaraí, foi arrastada pelo mar, na semana passada. Locais como Icapuí, Morro Branco, Prainha do Canto Verde, Cascavel, Águas Belas, Itarema, Caponga, Batoque, Balbino também têm sido afetados. | Foto: Helene Santos |
Problemas como os enfrentados em consequência da ressaca do mar por moradores de áreas litorâneas, como os que ocorreram recentemente em Icapuí, Morro Branco (Beberibe) e Arpoeiras (Acaraú), não são de hoje e apontam processos de erosão críticos. As armações são de pesquisadores da Rede Braspor, que reúne especialistas de 22 instituições brasileiras e internacionais, entre elas, o Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Estadual do Ceará (Uece) e a Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA).
Segundo eles, 40% do litoral cearense estão comprometidos, em especial atenção para locais como Icapuí, Morro Branco, Prainha do Canto Verde, Cascavel, Águas Belas, Itarema, Caponga, além do Batoque,Balbino, Icaraí. Especialistas afirmam que se não houver planejamento adequado, os 60% restantes deverão sofrer as mesmas dificuldades e impactos ambientais severos, sobretudo de ecossistemas como manguezais, dunas, restingas, falésias, praias e estuários. Ao todo, o Estado do Ceará possui 573 km de costa.
Paisagem
De acordo com as informações da vice-diretora do Instituto de Ciências do Mar e integrante da Braspor, Lidriana Pinheiro, o litoral brasileiro, assim com o cearense, vem se caracterizando por profunda alteração e antropização (interferência humana) da paisagem, acarretando prejuízos tanto ambientais quanto econômicos.
As ressacas do mar ao longo da faixa litorânea no Ceará têm consequência direta na erosão das praias e dunas. Para ela, as variações sazonais de direção do vento, ondas, a configuração de marés altas em swells (ondulações), o barramento de corredores eólicos, e ocupação inadequada são as principais causas dos processos erosivos.
A elevação do nível do mar e o aquecimento global também são responsáveis pela degradação. Fortaleza, pelas estimativas, deve sofrer aumento de 50 centímetros na linha do preamar até 2050. "É preciso medidas urgentes para evitar o pior", alerta o geógrafo na área, Davis Pereira de Paula. A erosão é potencializada, sobretudo, porque as medidas adotadas, como a construção de paredões, espigões, não são adequadas por bloquearem sedimentos que se acumulam nas estruturas marinhas.
Porto
De acordo com estudo publicado pelo Ministério do Meio Ambiente, os impactos da construção do Porto do Mucuripe e dos sucessivos espigões na orla de Fortaleza foram observados nas praias de Caucaia. "Estes efeitos associados ao aumento da especulação imobiliária promoveram o recuo de, aproximadamente, 200 metros da linha de costa nas Praias de Iparana, Pacheco e Icaraí", salienta a professora Lidriana.
Na Praia da Caponga, no município de Cascavel, frisa Lidriana Pinheiro, a ocupação das áreas a sotamar do pontal de arenitos de praia promoveu o recuo de 150 da linha de costa. Os efeitos disto foram a destruição de casas de veraneio, barracas e da avenida litorânea.
O assunto é um dos destaques da VI Reunião Anual da Rede Braspor, que prossegue até amanhã, dia 27, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, na cidade de Fortaleza. Com o tema "O homem e o litoral: transformações na paisagem ao longo do tempo", o evento propõe uma reflexão sobre as transformações que o litoral vem sofrendo e suas repercussões na sociedade, sendo objeto de estudo das mais diferentes áreas do saber.
A reunião conta com palestras que propõem uma discussão integrada dos impactos provocados pelo homem no litoral, a importância da gestão costeira participativa e as ações governamentais, individuais e coletivas de proteção e adaptação dos litorais ante as mudanças climáticas. A Braspor é uma rede informal que visa fomentar a cooperação e a divulgação entre investigadores brasileiros e portugueses, de várias áreas do saber, que se dedicam ao estudo dos sistemas costeiros.
Mais informações
A VI Reunião Anual da Rede Braspor continua até amanhã
Local: Rua Dragão do Mar, 81, Praia de Iracema
Fonte: Diário do Nordeste
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