O que está na origem de derrocadas das arribas? (Portugal)

ANDRÉ VIDIGAL / GLOBAL IMAGENS
A costa portuguesa é em grande parte constituída por falésias e arribas, que estão expostas a inúmeros fatores de desgaste e erosão

O que está na origem de derrocadas das arribas?

Não há uma única causa para estas situações. A própria natureza geológica das arribas tem influência na maior ou menor estabilidade das falésias e acaba por ser um dos fatores que determinam a ocorrência de derrocadas. A costa portuguesa é em grande parte constituída por falésias e arribas, que estão expostas a inúmeros fatores de desgaste e erosão, como é o caso dos ventos, da chuva, das marés e da ondulação, das grandes oscilações de temperatura e até a atividade sísmica que, em conjunto, contribuem para a sua desagregação material e consequente instabilidade. Na prática, estas derrocadas fazem parte da evolução natural das falésias, que não pode ser evitada.

É possível prever ocorrências deste tipo?

Não, de acordo com os especialistas, o estado atual da ciência não tem ainda capacidade para prever a data ou o local da derrocada de uma arriba. Ou seja, o nível de previsão de um fenómeno deste tipo é semelhante ao da previsão sísmica: não se sabe quando vai acontecer.

Qual é relação entre a erosão costeira e este tipo de fenómenos?

Na verdade, os segundos decorrem do primeiro. Ou seja, a erosão costeira está intimamente ligada à ocorrência de desmoronamentos de arribas e falésias, com o consequente recuo da linha de costa. Acresce que neste tempo de alterações climáticas em curso devido à ação antropogénica o nível do mar está numa tendência de subida, nesta altura a uma taxa média anual de três a quatro milímetros, embora haja regiões onde essa subida é maior e outras onde é um pouco menor. A subida do nível do mar coloca maior pressão na costa e contribui, naturalmente, para o seu recuo.

Qual foi até hoje o acidente mais grave relacionado com a queda de arribas em Portugal?

Foi, justamente, o que ocorreu na praia Maria Luísa há sete anos, em agosto de 2009, quando o desmoronamento de uma arriba causou a morte a cinco pessoas que estavam na sua base. Foi essa tragédia que acabou por consciencializar as pessoas, e de forma bastante brutal, para os riscos de estarem próximas de falésias instáveis na praia.

A derrocada de ontem também foi na praia Maria Luísa? Porque são tão frequentes ali?

Aquelas são, justamente, arribas de substrato frágil e portanto mais instáveis. De um modo geral, todas as arribas do litoral algarvio, desde a zona do barlavento, que têm materiais rochosos facilmente desagregáveis, como é o caso da praia Maria Luísa, têm este risco.

Estes desmoronamentos estão a aumentar na costa algarvia?

Dados da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) mostram que entre julho do ano passado e julho deste ano houve 21 desmoronamentos de arribas no litoral do Algarve, o que é praticamente o dobro da média dos ocorridos na última década, que foi de 12. Segundo a APA, este aumento de desmoronamentos foi uma consequência direta do pico de precipitação ocorrido em novembro do ano passado na zona de Albufeira, que causou inundações na localidade e na região. Essas inundações, por sua vez, terão originado infiltrações no terreno e causado as derrocadas das arribas, cujo aumento neste período aconteceu exatamente na região de Albufeira.

É possível minimizar os riscos de desmoronamentos?

Uma das coisas a fazer é evitar o acréscimo de atividade humana que contribui para a erosão das falésias e arribas, como a construção de edifícios ou de campos de golfe, que contribuem para a infiltração dos terrenos e apressam a desagregação dos materiais, desencadeando as derrocadas. A identificação técnica dos locais em maior risco e a intervenção, para consolidar ou derrubar arribas, consoante os casos, são outra possibilidade.

O que devem as pessoas fazer para não se exporem a riscos nas praias?

Devem acatar os conselhos inscritos nos sinais de alerta existentes nas praias. Isso significa afastarem-se para uma distância segura das arribas. Essa distância é em geral calculada em relação à altura da arriba. A distância segura é 1,5 vezes a altura da arriba.

Fonte: dn.pt

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