Falta o entendimento | O Ministério Público cobra o início das obras de proteção do Cabo Branco, diz o noticiário. (PB)

E já não era sem tempo. O que relegado está ao ritmo da morosidade é uma obra reclamada pelos paraibanos há sucessivas décadas. Nos idos do prefeito Cícero Lucena, a Companhia Docas do Rio de janeiro chegou a ser contratada para o estudo das marés, uma das causas do desgaste da barreira que ainda descortina um dos mais exibidos cartões postais de João Pessoa: a Ponta do Seixas, ponto extremo oriental das três Américas. “Ainda” é termo condizente com a ampliação dos processos erosivos decorrentes, também, de outras causas. Nelas se incluem os ventos e as chuvas, quando incidentes nesse trecho da cidade. Neste último caso, os efeitos estão agravados pela impermeabilização do solo, dada a urbanização da área onde se edificaram condomínios residenciais de grande amplitude e, em pontos mais próximos da barreira, enormes pátios de estacionamento para a clientela da Estação Ciência e dos Centros de Convenção e Cultura. Tratam-se de projetos que, há pouco tempo, animavam a arenga política entre o Governo do Estado e a Prefeitura Municipal, cada um disposto a fazer maior e melhor. Quem não lembra? Pois bem, concluía-se, na primeira gestão de Cícero, iniciada em 1997, que a erosão marinha já encurtava a barreira num ritmo de meio metro por ano. Nos tempos de Cabral, o Cabo Branco, com base nesses estudos, penetraria no mar por mais de 250 metros além do ponto hoje observado. O testemunho atual da trilha de rochas desmoronadas desse recuo confirma o acerto da estimativa dos técnicos da Companhia Docas. A solução inicialmente proposta para a proteção da barreira envolvia, no sopé, um aterro de cota ligeiramente superior à da média histórica das marés – estimada desde o descobrimento – com jardins, iluminação e passagem para veículos pequenos até a Praia do Seixas. O protesto de entidades congregadas, notadamente, por ambientalistas logo impediria esse projeto. E continua a impedir até os dias de hoje, apesar das sucessivas modificações. Perceba-se, então, que não basta apenas atribuir à Prefeitura a inação que ameaça um acidente geográfico invejado em partes diferentes do mundo, dado o interesse para o turismo e suas possibilidades de emprego e renda. Sem que todos se entendam, Ministério Público inclusive, nada sairá do papel.

Fonte: Coluna Opinião | Jornal da Paraíba

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