Avanço do mar destrói barracas em Cascavel (CE)

Restos de paredes e pneus complicam o banho de mar, e movimentação no local está reduzida

Devastação: Uma espécie de barreira de areia com cerca
de um metro complica o acesso à beira do mar. Barracas foram
destruídas e, agora, os barraqueiros tentam reconstruí-las.
Os moradores do local afirmam que o fenômeno do avanço do
mar começou a ser observado em setembro do ano passado.
Desde então, a quantidade de frequentadores tem diminuído
cada vez mais. | Foto: Kid Júnior
Durante os últimos 12 meses, o mar avançou cerca de 20 metros na praia da comunidade do Balbino, distrito de Cascavel, a 63 Km de Fortaleza, destruindo todas as seis barracas de praia que existiam naquele local. Desde então, os barraqueiros perderam quase tudo que tinham e, agora, pretendem recomeçar a vida, mas ainda não sabem como.

O cenário no local é de devastação, por conta de toda a erosão marinha. Enormes pedaços de paredes estão espalhados por toda a orla e uma grande quantidade de tocos de árvores surgiram enterrados na beira do mar. Pneus e sacos de areia utilizados para tentar conter a força das águas também ficam largados. Por conta disso, tomar banho ou um simples passeio a pé ficam bastante complicados.

Para chegar até a beira do mar, é preciso descer uma espécie de barreira de areia com cerca de um metro, ou seja, ruim para crianças e idosos. Para subir, o problema é maior ainda, pois fica fácil de alguém cair.

Em algumas barracas, restam apenas as cobertas feitas de palha. Em outra parte da cozinha, apenas uma delas está de pé. Até mesmo o palco onde as bandas se apresentavam se perdeu. Por isso, os estabelecimentos estão completamente vazios e com as mesas e cadeiras empilhadas.

Desde 1997 o empresário Francisco Edielson Faustino é dono de uma barraca na Praia do Balbino. Nesses 18 anos, ele nunca imaginou que ficaria nesse tipo de situação. "Tiramos o sustento para nossas famílias daqui. A comunidade tem dois meios de sobrevivência: pesca e barraca", explicou.

Ele explicou que, em setembro do ano passado, foi possível notar o início do fenômeno. "Nesse curto tempo, o mar avançou 20 metros e destruiu tudo o que tinha pela frente. Na última semana foi algo assustador".

Devido ao problema, a movimentação de clientes só diminuiu nos últimos meses, relatou. "Já no ano passado, sentimos a redução. As pessoas chegam aqui, veem a situação e vão embora", lamentou.

Portanto, o prejuízo foi total para os barraqueiros. Já que eles perderam a estrutura, os clientes não voltam. Mesmo assim, eles querem reconstruir tudo. "Todo o trabalho da minha vida foi embora. Coloquei muito trabalho e dinheiro na minha barraca. Nunca imaginei passar por uma situação dessa", disse, emocionado.

Há 19 anos o autônomo Miguel Ferreira ergueu sua barraca usando apenas palha. Com o passar do tempo e o sucesso que fez, foi fazendo melhorias na estrutura. Montou uma parte só de alvenaria para os clientes se abrigarem melhor e, depois, aumentou a cozinha para garantir mais qualidade e higiene.

No último domingo (1), ele estava planejando iniciar as novas obras. No entanto, antes disso acontecer, o mar derrubou tudo que restava.

"Faz um ano que a situação está ruim, mas no domingo a erosão veio forte e acabou com tudo", lamentou.

Nem mesmo os 170 sacos de areia que ele havia colocado há alguns meses resistiram a maré. "A situação piorou desde que aterraram e construíram o espigão na Caponga", alertou.

Ocupação

Segundo o professor de pós-graduação do Curso de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jeovah Meireles, a erosão na praia do Balbino ocorre devido à ocupação irregular das praias e dunas da Caponga.

São casas, pousadas, barracas, muros e até espigões ocupando setores que seriam de domínios das ondas. "As ondas transportam a areia para outros espaços. Só que, devido às ocupações, ela não tem de onde tirar a areia, então o fenômeno acaba acontecendo nas praias próximas", frisou o professor.

Para ele, a solução mais adequada é não construir mais espigões ou muros de contenção, principalmente porque isso acaba com a balneabilidade das praias, dificulta o acesso dos barcos e transfere o problema para outra região.

A assessoria de comunicação da Prefeitura de Cascavel informou que ainda não existe nenhuma obra programa para a orla da comunidade do Balbino. Além disso, o titular da Secretaria de Obras daquele município não atendeu as ligações até o fechamento dessa edição.

FIQUE POR DENTRO

Erosão consiste no desgaste do solo pelo mar

A erosão marinha é um dos tipos mais comuns e constantes de erosão em todo o planeta.
Trata-se do desgaste do solo através das ações do mar. Ela também destrói as pedras e pode deslocá-las.

A água desgasta o solo quimicamente, resultando em reações que causam alterações nas formações rochosas. A força da água é capaz de quebrar, lascar e transportar esses pedaços do solo para outros lugares.

No primeiro momento, a ação erosiva do mar forma grandes paredões íngremes, chamados de falésias. Após isso, ocorre o recuo da praia, onde o sedimento removido pelas ondas é transportado lateralmente pelas correntes de deriva litoral.

O resultado dessa erosão é a variação na largura da faixa de areia da praia e a diminuição de paredões rochosos na região litorânea. Nas cidades costeiras, os danos causados vão da destruição de habitações e infraestruturas e até problemas ambientais.








Fonte: Diário do Nordeste

Comentários

Mais visitados