Erosão em faixa de areia da praia pode atingir até o Canal 4 (SP)
Especialistas apontam que ação humana nas praias de Santos é a principal responsável, mas há divergências sobre outras causas
A erosão nas praias de Santos pode chegar ao Embaré e extinguir, com o tempo, a faixa de areia até as proximidades do Canal 4. Especialistas apontam que a ação humana é a principal responsável pelo fenômeno, que deixou de ter apenas a influência da natureza.
No fim de semana, a orla da Aparecida denunciou o que está por vir. A ressaca ocasionada pela passagem de uma frente fria deixou o mar agitado. A força das ondas que chegaram à praia fez com que 50 centímetros de areia dessa região fossem levados ao mar.
Raízes de árvores ficaram expostas na praia da Aparecida, no final de semana, após ressaca |
Quem passa por ali ainda se surpreende: quatro dias depois, tudo permanece igual. Tubulações de água, fiação dos postes de energia e raízes de árvores ficaram à mostra. O farolete da Marinha, que apoia a entrada de navios no estuário, teve a fundação exposta.
1958: esta era a Ponta da Praia, próximo ao Aquário |
“Não sei o quanto de sedimentos saiu dali, nem quanto tenho que pôr de volta”, diz, em tom apreensivo, o secretário de Desenvolvimento Urbano de Santos, Nelson Gonçalves de Lima Junior. Apesar disso, equipes já começaram a levar areia de outros canais para lá.
O oceanógrafo André Luiz Belém responde à dúvida: cerca de 500 caminhões carregados seriam necessários para repor o que o mar levou. Estudioso do fenômeno há 20 anos, diz não ter ficado surpreso. Ele é autor de um estudo, da última década, sobre os riscos de aprofundamento da entrada do canal de navegação, na barra. “Quanto mais fundo ele estiver, mais intensas chegarão as ondas à Aparecida”.
Para a pesquisadora em Erosão e Sedimentação Costeira e Marinha, Mariângela Oliveira de Barros, esse fato se agrava em razão de a orla santista estar ao fundo de uma baía que, apesar de abrigada, está com a “abertura” voltada ao sul, de onde chegam as tempestades.
Isso seria contido se a faixa de areia fosse alimentada naturalmente. Isto é, caso não houvesse hoje o jardim e as avenidas onde, no passado, estava o prolongamento das praias. Segundo ela, os estragos ocasionados por uma ressaca seriam preenchidos dali.
Desde a primeira metade do século passado, quando a orla foi urbanizada, não há mais areia para reposição, destaca a pesquisadora do Instituto Geológico de São Paulo, Célia Regina de Gouveia Souza – há três décadas pesquisando a erosão em Santos.
Ela descarta o aprofundamento do canal como o responsável pela extinção das praias. Segundo explica, no último meio século, toda a areia que saiu voltou. Para ela, as mudanças climáticas são as vilãs.
Não à toa, o engenheiro Paolo Alfredini prevê a elevação do mar em até 50 centímetros em Santos e região até 2050. O índice foi obtido após a análise de dados históricos entre 1940 e 2014, num estudo do qual ele faz parte na Universidade de São Paulo (USP).
Para reverter os efeitos da maré alta, que agravaria as ressacas, Alfredini defende a instalação de estruturas que dividam o canal de navegação e o restante da baía. Isso reduziria a necessidade de dragagem e conteria a erosão na Ponta da Praia e no entorno.
Fonte: A Tribuna
Comentários
Postar um comentário