Risc-Kit quer prever impacto económico e social de tempestades costeiras (Portugal)

O projeto de investigação é europeu e está previsto para quatro anos. Em Portugal, é a Universidade do Algarve que conduz o estudo do caso da Ria Formosa.

Risc-Kit quer prever impacto económico e social de tempestades costeiras
CIMA, Universidade do Algarve
A ideia é criar um sistema de alerta de riscos costeiros. Inovadora é a integração de aspetos sociais, económicos, culturais e políticos na avaliação do impacto das tempestades e inundações costeiras. Ou seja, quantificar possíveis danos, perdas sociais e económicas, como destruição de casas ou negócios. 
Ainda no último inverno os danos provocados pelo mau tempo na costa portuguesa trouxeram para a ordem do dia os riscos e perdas económicas associadas a estes fenómenos naturais.
Algo de “elevada importância na forma como as sociedades reagem às situações de risco e essencial para desenvolver planos de redução de risco”, uma influência forte para a tomada de decisão quanto à prevenção e ações a desenvolver pelas autoridades para mitigar o risco, garante Zoi Konstantinou, daEurOcean, instituição responsável pela disseminação do projeto.

Até porque o projeto não quer ser apenas científico. Pretende-se desenvolver um instrumento que possa ser utilizado por exemplo pela proteção civil, gestores costeiros e até mesmo população em geral. 
(Reportagem de fevereiro de 2014)Só daqui a um ano é que poderá haver a primeira versão do modelo operacional, que se encontra neste momento em fase de teste e validação. O Risc-Kit já está no terreno há um ano e por agora têm sido feitos levantamentos económicos e sociais como quantos restaurantes existem, quantos hotéis, em que zonas, entre outras informações. Foi ainda avaliada a percepção de risco pelas populações e que medidas elas próprias adotariam.
Em 2010 a tempestade atlântica Xynthia varreu Portugal, Espanha, França, Bélgica, Holanda e Alemanha. Causou cerca de 60 mortos e elevados prejuízos devido às inundações.
Ria Formosa é caso português em estudo
O projeto envolve o estudo de dez locais por toda a Europa e um no Bangladesh. Em Portugal, é a Ria Formosa que será alvo do estudo. É uma das zonas portuguesas com maior risco associado, em Parque Natural. Envolve diferentes atividades, como turismo, conservação da natureza, aquacultura, extração de sal e nas ilhas de Faro e Farol as comunidades residentes estão próximas da duna frontal, enfrentando o efeito direto de tempestades. Os efeitos de fenómenos naturais extremos têm, por isso, impactos e consequências elevados nas populações e economia local.

Em fevereiro e março de 2010, a erosão costeira originada por tempestades associadas a elevados níveis de água do mar levou à destruição de mais de 40 casas e restaurantes em toda a Ria Formosa.
(Ria Formosa, 2010)

De acordo com Óscar Ferreira, especialista em dinâmica costeira na universidade do Algarve e coordenador da parte portuguesa do projeto, o sistema que agora se está a preparar será “reproduzível e relativamente simples de alargar a outras zonas do país”, depois de o modelo e osoftware estarem construídos, necessitando sempre de integração na base de dados de informações específicas de cada zona. 

Os locais mais críticos neste tipo de ameaça são, além da Praia de Faro, a Costa da Caparica, Aveiro, Espinho e Ofir, que, de acordo com Óscar Ferreira, “têm tido no passado erosão costeira ao mesmo tempo que têm uma ocupação populacional elevada”.
Sistema de alerta
O Risc-Kit é uma espécie de upgrade de um outro protótipo de softwareque foi criado e testado a nível europeu, no âmbito do projeto Micore, iniciado em 2008. Permite determinar com uma antecedência que pode chegar a cerca de dois ou três dias o aproximar de uma tempestade e as suas consequências físicas, como por exemplo erosão ou recuo da linha costeira. O que agora se pretende é afinar esses modelos numéricos e juntar a esta análise um modelo de previsão das potenciais perdas económicas e sociais.

Há uma necessidade premente de desenvolver novos sistemas de gestão da costa, para integrar a incerteza cada vez maior dos fenómenos naturais, tentanto minimizar os impactos. A expectativa é que os riscos vão aumentar no futuro próximo devido ao aumento do nível médio das águas do mar, maior densidade populacional da costa e ao potencial de tempestades de maior intensidade, o que significa que o número de pessoas em perigo aumentará 
significativamente. 



Portugal fez também parte desse primeiro projeto. O software baseia-se em modelos de propagação de ondas e de erosão costeira, integrando dados meteorológicos e de morfologia da zona costeira, para se chegar à determinação da erosão. Foi avaliado e validado durante meses no terreno e registou uma “boa capacidade de previsão das consequências físicas de tempestades”, garante Óscar Ferreira.
Alertas à Proteção Civil
O sistema poderá permitir emitir com antecedência alertas à Proteção Civil, ou mesmo à população em geral, que possam mitigar eventuais danos previsíveis de uma tempestade que se avizinha. O projeto anterior, o Micore, era mais científico, necessitando de conhecimento específico para ser utilizado. O Risc-Kit pretende ser “utilizável” por uma comunidade mais alargada.



O objectivo último é criar Planos de Redução de Risco de Desastres (Disaster Risc Reduction Plans) para zonas especialmente ameaçadas, ajudando a elaborar planos de gestão do território. 
IPMA participa
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), sendo um potencial utilizador direto, participa desde o primeiro momento no projeto. Vai estar no início de novembro numa assembleia geral deste consórcio, que vai decorrer em Bolonha e no quanto serão discutidos resultados. 
Serão gastos em dois anos 300 milhões de euros na proteção do litoral português, devido à “fragilidade da costa”, diz o ministro do Ambiente. São 300 intervenções para proteção de pessoas e bens.

Embora ainda seja cedo para qualquer decisão sobre o uso ou não desta ferramenta no futuro, certo é que a participação destas entidades é vista como essencial. “A sua experiência nestas matérias é crucial e este interface entre ciência e política fará com que se atinjam planos mais robustos e eficientes para a gestão costeira”, diz Zoi Konstantinou.
Itália já utiliza o Micore
O sistema começou por ser testado numa praia, mas está agora a ser aplicado nos 130 quilómetros de costa da região da Emilia-Romagna e há também uma colaboração com instituições, por exemplo, nos Estados Unidos.

A ideia é que o Micore e o seu upgrade, o Risc-Kit sejam exportáveis. Ou seja, que o formato possa ser aplicado em todo o mundo.
Fonte: www.rtp.pt

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