Avanço do mar destrói barracas no litoral de Cascavel (CE)

Na praia de Balbino, restos de imóveis destruídos pela força das águas reduz a atratividade de lugar para os turistas. Prefeitura de Cascavel promete apoio para as famílias, com alimentos e até imóveis do Minha Casa, Minha Vida
Na praia de Balbino, restos de imóveis destruídos
pela força das águas reduz a atratividade de lugar
para os turistas. Prefeitura de Cascavel promete
apoio para as famílias, com alimentos e até imóveis
do Minha Casa, Minha Vida
Cascavel - A modesta e pacata comunidade do Balbino, distrito deste município, é considerada um verdadeiro paraíso natural. Porém, a calmaria de viver naquele local muito se opõe à ferocidade do mar que está levando, a cada dia, o sustento de inúmeras famílias.
Na areia da praia, logo dá para avistar os escombros meio soterrados das barracas que a maré extensa derrubou.
Ao total, sete barracas foram destruídas pela força do mar. Entre os maiores prejuízos está a dúvida do que acontecerá dali pra frente. "Foi tudo muito rápido. O mar começou a ganhar força na última semana. É desesperador. Um dia, temos tudo. No outro, não sobrou nada. Não sei o que será dessas famílias", relata o presidente da Associação do Povoado de Balbino, Edielson Faustino.
Proprietária de um dos estabelecimentos levados pelas águas, Fabrícia Pereira, conta que nenhuma das famílias têm condições de construir tudo novamente. "Daqui tiramos o nosso sustento. Ninguém tem como fazer outra barraca se o local onde tirávamos nosso sustento acabou. O último pedaço de parede se foi na segunda-feira. A última esperança é a ajuda dos órgãos públicos".
Faustino explica que é necessário que as pessoas se resguardem contra esse tipo de ação natural. Para ele, que também é proprietário de uma das poucas barracas que ainda permanecem funcionando, os órgãos públicos devem avisar a comunidade, dar apoio para que não haja nenhum dano às pessoas que sobrevivem do comércio. "Não podemos fazer nada contra a natureza, mas podemos nos prevenir. Sabendo dessa possibilidade de maré extensa, o poder público poderia disponibilizar máquinas para aterrar a frente das barracas formando uma barreira e dificultando que a onda comprometa a estrutura do local".
Sobrevivendo da pesca, Miguel Ferreira Faustino, mais conhecido na comunidade por Mestre Miguel, lamenta a situação. O pescador, que também teve a barraca da família destruída, conta que, a princípio, os estabelecimentos foram construídos a quase 200 quilômetros de distância da costa.
Ajuda
"O mar era tão distante daqui. É triste lembrar que levamos uma vida pra construir um bem para oferecer o sustento da família, e tudo é destruído", lamenta, sem colocar culpa na natureza. "É isso mesmo. Às vezes, o mar fica assim. Depende da fase da lua. Minha profissão me ensinou sobre isso", disse Mestre Miguel.
Após longa conversa sobre como os astros podem influenciar na ação das águas, os olhos emocionam-se. "Estamos esperando ajuda. Qualquer órgão que puder estender a mão. Estamos precisando muito. A minha família se alimenta aqui. É difícil, preocupante, ficamos até sem conseguir dormir pensando no pior".
Além da situação difícil que a comunidade está passando, alguns banhistas se recusam a ficar no local, já que só restam entulhos das barracas que frequentavam. Quase imerso na areia, destroços de tijolos, telhas e troncos impedem que as pessoas caminhem na orla ou tomem banho no mar, o que acaba prejudicando o comércio local.
O auxiliar de serviços gerais, Adriano da Silva Sales, frequenta a praia há mais de 20 anos e afirma nunca ter visto a comunidade desse jeito. "O sentimento é de total tristeza em ver a praia desse jeito. Nunca vi isso acontecer aqui".
Outra frequentadora da praia é a vendedora Valdejane Benício. Ela conta que todos os finais de semana visita a comunidade e se entristece com o que vê. "É muito difícil para eles que vivem exclusivamente disso. Eles ficam apreensivos, com medo mesmo. Sem saber se, no outro dia, ainda irá restar algo do que construíram. E tudo vai virando ruína, os sonhos de um futuro estão desmoronando".
A reportagem entrou em contato com a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), que afirmou não fazer parte das competências do órgão, sendo responsável apenas por fiscalização, licenciamento e monitoramento.
Já a Prefeitura de Cascavel, por meio da Secretaria da Fazenda, informou que o modelo mais viável e de curto prazo para impedir a violenta ação do mar é a construção de espigões. O secretário Rocha Neto garante que essa solução já foi encaminhada ao governo federal e aguarda a aprovação do projeto e a contemplação do recurso federal.
"O avanço da maré é uma briga que não temos como vencer, apenas podemos amenizar. A Prefeitura não tem recurso suficiente. Estamos tentando sensibilizar o governo federal para que, com o Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC), a comunidade do Balbino seja beneficiada com a construção dos espigões".
Sobre os entulhos que estão quase soterrados na areia da praia, Rocha Neto assegurou que, a partir da próxima semana, serão deslocadas máquinas para a remoção do material.
Além disso, para ajudar as famílias que perderam o meio de sustento para o mar, equipes de Assistência Social irão ao local para fazer um levantamento dos maiores prejudicados. "Vamos oferecer programas assistenciais àquelas pessoas, como a distribuição de cestas básicas ou, até mesmo, dependendo do recurso federal, o Programa Minha Casa Minha Vida".
No ano passado, a comunidade também sofreu com mais um grande problema. A seca assolou a região, atingindo até mesmo a área de manguezais, transformando a em uma grande salina. O fenômeno atingiu cerca de 250 famílias que sobreviviam da pesca de crustáceos e mariscos. Moradores da comunidade explicaram que o rio secou e, por isso, a barragem natural das dunas, que impedia a passagem da água do mar.

ENQUETE
Como enfrenta a situação?
"Daqui deste comércio na praia tiramos o nosso sustento. Ninguém tem como fazer outra barraca se o local acabou. O último pedaço de parede se foi. A última esperança é a ajuda dos órgãos públicos"
Fabricia Pereira | Proprietária de barraca
"O mar era tão distante daqui. É triste lembrar que levamos uma vida pra construir um bem para oferecer o sustento da família, e tudo é destruído. É isso mesmo. Às vezes, o mar fica assim. Depende da fase da lua"
Miguel Ferreira Faustino | Pescador 
Fonte: Diário do Nordeste

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