Obras de enrocamento ameaçam atividade pesqueira em Ponta Negra (RN)
As obras de enrocamento aderente podem ocasionar o desaparecimento dos pescadores que há anos atuam na praia de Ponta Negra. Segundo os pescadores, se a Secretaria Municipal de Obras Públicas e Infraestrutura (Semopi) instalar as pedras do enrocamento, como pretende, na área que utilizam para atracar os barcos, a pescaria no local, que é uma atividade tradicional, ficará inviabilizada. Os pescadores estão revoltados e prometem resistir caso a Prefeitura de Natal insista em estender o enrocamento até a área onde as embarcações ficam guardadas. O Ministério Público do Rio Grande do Norte cobra que o Município tome providências, de modo a garantir o pleno funcionamento da atividade pesqueira na praia de Ponta Negra.
Prefeitura pretende instalar as pedras do enrocamento na área em que os pescadores utilizam para atracar os barcos. | Foto: Heracles Dantas |
A Secretaria Municipal de Obras Públicas e Infraestrutura informou como pretende ordenar o espaço, já que o projeto não contemplou locais para organização da atividade de locadores de equipamentos de praia. Outro problema considerado grave pela Promotoria do Meio Ambiente, e que será abordado, diz respeito à atividade dos pescadores do local.
A Prefeitura de Natal chegou a propor a realização de rampas de acesso para permitir o “estacionamento” dos barcos na parte de cima do enrocamento (próxima à calçada). Segundo o Ministério Público Estadual (MPE), uma vistoria realizada nesta quarta-feira (11), inclusive com registro da chegada das embarcações provenientes do alto mar na área de praia, mostrou que o peso das embarcações dificulta a guarda no local, caso o enrocamento seja executado naquela área como pretende o poder público.
Uma embarcação, como as que são utilizadas pelos pescadores locais, costuma ser retirada do mar com ajuda de seis a oito pessoas e a subida de uma rampa, até a calçada, poderá inviabilizar a atividade de pesca na Praia de Ponta Negra.
O pescador Luciano Leandro da Silva, 64 anos, trabalha na praia de Ponta Negra desde criança. Da praia, ele criou e ainda cria filhos e netos.
Revoltado, Luciano teme o fim da pesca com a obra do enrocamento e acredita que se acabar a pesca na praia de Ponta Negra aumentará o índice de marginalidade. O pescador considera que não há necessidade de a obra de proteção costeira se estender até o local dos barcos, pois a maré alta não chega com intensidade nessa área.
“Toda praia do mundo tem pescador e agora o prefeito quer acabar com os pescadores da praia de Ponta Negra. Disseram que iam fazer uma rampa, mas é mentira. E se fizesse seria impossível subir com um barco por essa rampa. Hoje, são mais de 50 embarcações, cada uma com três pescadores e o prefeito que tirar o pão da boca de, pelo menos, 150 pescadores. Não temos para onde ir. A Barreira do Inferno não autoriza colocarmos a jangada por lá e se não ficarmos aqui não temos para onde ir. Se o prefeito fizer isso vai acabar com o maior cartão postal de Natal, que é a praia de Ponta Negra”, destacou o pescador Luciano Leandro, que vai ao mar quase todos os dias.
O pescador Manoel Pereira da Silva, de 29 anos, trabalha na praia de Ponta Negra há cinco anos e de lá tira o único sustento para a família, a esposa e dois filhos. Ele conta que está apreensivo pela possibilidade de perder o trabalho, sem falar no prejuízo que terá com todo o investimento que foi feito nas jangadas. “Não sabemos nem se essas obras vão terminar, mas estão querendo acabar com o nosso ganha pão”, disse o pescador Manoel Pereira.
Enrocamento
Cerca de dois quilômetros de extensão da avenida Erivan França, em Ponta Negra, recebem o enrocamento, aterramento e recuperação da drenagem e esgotamento sanitário. A obra executada é necessária devido aos desmoronamentos em diversos trechos do calçadão da Praia de Ponta Negra. No entanto, o serviço é provisório. Uma empresa será contratada para estudo sobre possível engodamento da praia, para que fique uma distância de 35 metros em maré alta entre o calçadão e o mar.
O engenheiro Luis Augusto de Góis, sócio da Construtora Camillo Collier, responsável pelas obras de enrocamento na praia de Ponta Negra, explicou que a obra de enrocamento aderente está com o prazo limitado ao repasse de uma verba do Ministério da Integração Nacional, haja vista que foi necessária adequação do projeto.
“Hoje estamos a mercê desse repasse para concluir a obra. Quando este repasse for feito, num prazo máximo de 20 a 30 dias concluiremos o serviço. Hoje, além da população, a maior penalizada é a empresa. Pegamos essa obra no mês de abril, nos comprometemos em entregar em cinco meses e já estamos entrando no oitavo mês. Estou, há dois meses, mantendo uma equipe, estrutura física, equipamentos e com todos os resultados comprometidos por falta de repasse”, afirmou.
A finalização da obra de enrocamento, colocação de pedras para evitar o avanço do mar sobre o calçadão, depende agora de liberação de recursos do Ministério da Integração Nacional. É aproximadamente R$ 1 milhão, referentes à contrapartida do Governo Federal. O dinheiro também servirá para a construção de acessos à faixa de areia da praia. O projeto prevê dez escadas e seis rampas. A obra foi iniciada em abril e pelo cronograma inicial as obras deveriam ser entregues em outubro deste ano, mas não foi o que aconteceu. As obras seguem lentamente.
Fonte: jornaldehoje.com.br
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