Atraso nas obras do enrocamento na orla de Ponta Negra causa transtorno (RN)
Paralisação no serviço foi causada
por atrasono repasse de recursos
pelo Ministério da Integração. Foto: Heracles Dantas |
A conclusão das obras de enrocamento, que se refere à colocação de uma barreira de pedras para conter o avanço da água do mar sobre o calçadão da praia de Ponta Negra, está atrasada devido a uma paralisação nos serviços no mês passado em um dos lados das frentes de trabalho causada pelo atraso no repasse da terceira parcela da verba para continuidade da obra. Na manhã deste sábado (5), apenas uma escavadeira hidráulica dava prosseguimento aos trabalhos de enrocamento, nas proximidades do Morro do Careca. Enquanto as obras não são concluídas, boa parte do calçadão de Ponta Negra, localizado na avenida Erivan França, continua interditada, causando transtorno para os banhistas e pedestres que se arriscam em meio aos destroços.
Próximo ao local onde as máquinas estão operando um trecho da faixa da praia foi interditado para limitar o acesso da população a esta área. No entanto, as cordas e as placas não conseguem impedir o passeio dos banhistas pelo local, e o risco de acidente é iminente, pois os caminhões, carregados de pedras, passam pelo local em alta velocidade. Além disso, as mesas e cadeiras foram colocadas entre as cordas, fazendo com que as pessoas tenham que passar pela área interditada para ter acesso ao mar.
O engenheiro Tomaz Neto, titular da Secretaria Municipal de Obras Públicas e Infraestrutura (Semopi) informou que a redução na celeridade nas obras do calçadão de Ponta Negra foi motivada por duas questões: primeiro a orientação do Ministério Público Federal do RN, por entender que era necessária a redução no trabalho realizado na parte sul da obra, a parte do lado do Morro do Careca e, segundo, pelo atraso no repasse da segunda parcela da verba pelo Ministério da Integração Nacional para continuação das obras.
O comerciante Francisco Joaquim Lucas trabalha há 20 anos com sua barraca na praia de Ponta Negra, nas proximidades do Morro do Careca. Ele conta que o último ano amargou o pior período de vendas durante as duas décadas de trabalho. “Todo esse cenário de destruição teve um impacto muito grande sobre as vendas. Só sabe o quão difícil foi quem vive isso aqui diariamente”, afirmou. O comerciante também reclamou da falta de acessibilidade da praia. “Mesmo com as obras, hoje o turista ou natalense tem muita dificuldade de chegar a praia, pois é pedra para todos os lados”. Em relação aos acessos, o secretário Tomaz Neto disse que das dez escadas que serão construídas, cinco já foram instaladas.
Atualmente, as mesas e cadeiras de seu Francisco estão em meio às pedras do enrocamento. Ele conta que sabe dos riscos, mas disse que como a praia é a única fonte de renda é necessário trabalhar para sustentar a família. “Vou trabalhar aqui até eles começarem a fazer os serviços. Enquanto isso, eu venho trabalhar mesmo em meio às pedras. Essas pedras atrapalham também, pois a maioria das pessoas não quer ficar próximo as pedras”, relatou o comerciante. Francisco critica o fato de algumas cadeiras e mesas ficarem próximas das áreas de tráfego dos caminhões. “É muito perigoso, pois os carros passam em alta velocidade. Se acontecer algum acidente é que vão tomar alguma providência”, afirmou.
A turista paulista Noemi Sales está de férias em Natal desde o dia 1º de outubro. Ela conta que fazia dois anos que não visitava a cidade e ficou bastante decepcionada com o “cenário de guerra” que encontrou no maior cartão postal da cidade. “Sempre vim aqui para Natal pelas belezas e Ponta Negra é, sem dúvida, uma das melhores praias do Brasil. Fiquei triste quando vi, mas disseram que vai ficar melhor. Espero que fique e da próxima vez que vier espero ver a praia bela novamente e acolhedora como sempre”, afirmou.
Turista: “Uma cidade tão linda, mas tão mal cuidada”
Durante toda a manhã deste sábado (5), o movimento nas praias urbanas de Natal era bem tranquilo. Mesmo com o feriado prolongado e a presença do sol, pelo menos no início do período, a quantidade de pessoas que se aventurou a encarar as reformas de Ponta Negra ou o abandono da Praia do Meio, por exemplo, era bastante reduzida.
Na faixa litorânea da zona Sul, apesar de tímido, o fluxo de transeuntes era perceptível, ao menos. Com a maré seca, os visitantes se alternavam entre longas caminhadas, um mergulho ou outro no mar e uma água de coco.
A turista pernambucana Zenilda Romualdo está na capital potiguar para acompanhar uma filha que convalesce de cirurgia e contou que já conhecia bem Natal, mas nunca deixou de se encantar pelo local a cada visita. “Aqui é o lugar mais bonito que eu conheço, porém estão fazendo de tudo para destruir as maravilhas que a natureza deu de presente para o Rio Grande do Norte. Frequento Ponta Negra há muitos anos e nunca vi tamanho descaso. Está tudo tomado pelo lixo, o calçadão completamente destruído, vários quiosques abandonados. É triste ver uma cidade tão linda, mas tão mal cuidada”, lamenta.
“Essas obras que estão fazendo aí, já me disseram que não acabam nunca; não sou daqui, então não estou por dentro dos detalhes mais específicos. O que ouvi por aí é que a estrutura que estão montando deve proteger o calçadão do avanço do mar, só que até agora não ouvi ninguém acreditando que isso vai realmente acontecer, o clima de desconfiança é generalizado. Sou natural de Recife e posso afirmar com convicção, basta um mínimo de boa vontade para fazer com que as coisas funcionem. Lá, apesar do grave problema com insegurança, os serviços básicos de atendimento à população estão funcionando a contento. A Educação está muito bem, assim como a Saúde Pública, tudo isso é reflexo de uma administração competente, coisa que o Estado de vocês não vê há muito tempo”, diz a turista.
Mesmo não morando na capital potiguar, Zenilda faz críticas de quem conhece bem Natal. “Aqui só escuto reclamações de que o caos está reinando. Minha filha que mora aqui foi assaltada na porta de casa há duas semanas. Até tiroteio na rua dela teve, no bairro de Candelária. Dizem, também, que não tem hospital e faltam professores nas escolas. É impressionante ver como vocês, potiguares, permitiram que a situação chegasse nesse nível insustentável”, finalizou a turista.
Já na Praia do Meio o movimento era basicamente inexistente, mesmo com a alta temperatura e o mar convidativo, causando desapontamento entre os comerciantes da região. Na praia de Areia Preta, as equipes do Projeto Água Azul, que analisam a qualidade da água das praias do litoral potiguar, além de classificarem o trecho como impróprio para banho, ainda fixaram um aviso esclarecendo que a região recebe esgoto diretamente no mar.
Fonte: jornaldehoje.com.br
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