Erosão marinha forma paradoxo em Atafona (RJ)

Com a elevação as ondulações invadem a praia e quebram bem próximas às ruas de Atafona | Isaías Fernandes
Da Redação, com Agência Brasil

A preocupação do governo de São João da Barra (SJB) com o assoreamento do Paraíba do Sul, na foz do rio, em Atafona, vem de longos anos. É um fenômeno que já tomou todo o pontal e parte da localidade, um dos pontos turísticos mais atraentes do interior do Estado, tanto antes de ser invadido pelo mar, quanto agora. Por mais triste que possa parecer, o quadro forma um paradoxo, com o cenário definido pelas constantes ondas elevadas proporcionadas pelas ressacas.

A cena é conhecida dos brasileiros. De tempos em tempos, o mar fica agitado e fortes ondas atingem a costa do país. Junto com a elevação das marés, as ondulações invadem as praias e quebram próximas às ruas e de construções na orla. Quando recuam, boa parte da areia da praia é levada para o fundo do mar (ou outros pontos do litoral), ameaçando a integridade dos calçadões, ruas e casas.

No interior do Estado, não raramente, a Região dos Lagos vivencia o fenômeno: erosão marinha. Farol de São Thomé, também tem estado em cena, mas, em Atafona os efeitos geram mais prejuízos, levando SJB a ser incluído entre os 18 municípios em situação de emergência reconhecida pelo Ministério da Integração Nacional, por causa do fenômeno.

40% do litoral do país sofrem erosão

De acordo com um estudo de 2006 do Ministério do Meio Ambiente, os 17 estados litorâneos do Brasil sofrem com erosão em algum grau. O pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Dieter Muehe, especialista em geomorfologia, estima que cerca de 40% do litoral do país sofram erosão. Ele cita como um dos exem-plos Atafona, que vem sofrendo bastante com o avanço do mar. Várias casas e até prédios foram destruídos pela erosão.

Pela projeção de Muehe, no futuro, com as mudanças climáticas e a elevação do nível dos oceanos, os moradores do litoral enfrentarão mais problemas com a erosão marinha. "O aumento do nível do mar vai provocar um ajuste da linha de costa. De um modo grosseiro, se o nível do mar subir um metro, a linha de costa tende a recuar 50 metros. A linha de costa é uma linha instável. O mais certo é manter uma faixa de segurança, de não edificação", avalia.

Na conclusão de pesquisas realizadas pelo oceanógrafo Pedro Pereira, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a erosão marinha é simplesmente um processo natural. Mas ele ressalta que o problema é quando há ocupação e intervenção humanas do litoral. "Urbanização de faixas de areia, construção de píeres e quebra-mares sem critérios técnicos e intervenções em cursos de rios contribuem para piorar a erosão".

Sedimentos da praia mudam de lugar

O oceanógrafo explica que os sedimentos da praia são móveis, ficam toda hora mudando de lugar. Ora fica dentro da água, ora fica fora. "Mesmo quando vem um swell (ondulação oceânica) forte, a praia perde areia, mas depois recupera. Quando você ocupa essa área, quebra essa mudança de sedimentos. O sedimento deveria estar livre, se movimentando de acordo com as marés e as ondas. No momento que a gente constrói, a gente quebra essa balança natural".

Maior atividade erosiva: início em novembro

Estudos que compõem o Projeto Caminhos Geológicos, elaborados por geógrafos e geólogos sobre o fenômeno da erosão em Atafona, apontam que desde os anos 50, a praia sanjoanense vem sofrendo um processo de erosão das praias que atinge, também, as residências. "Desde aquela época, a ação do mar derrubou 183 construções em 14 quadras, destruindo uma igreja, uma escola, um posto de gasolina, diversas casas de comércio, dois faróis da marinha e moradias", diz.

"A área atingida corresponde ao tamanho de 40 campos de futebol. A velocidade de erosão é variável ao longo do ano e pode ser mais intensa em alguns anos e menos em outros. A maior atividade erosiva ocorre de novembro até março. Nos outros meses a praia pode até aumentar temporariamente. O mar avança quase três metros por ano sobre Atafona. Esta velocidade de erosão não é igual para toda a área, ou seja, as áreas mais baixas são erodidas com maior velocidade do que as mais elevadas".

No âmbito nacional, a erosão marinha tem motivado uma série de estudos aprofundados. No entanto, a situação de Atafona figura entre os casos especiais e é tema de estudos articulados em parcerias assinadas pelo poder público municipal. Os desdobramentos parecem ainda não estar bem formatados, mas a definição é apresentar, através de mapas temáticos, a evolução dos processos de erosão e progradação (processo natural de ampliação das praias provocado pelo mar), "como subsídio para interpretações geológicas e geomorfológicas".
 
Fonte: http://www.odiariodecampos.com.br 

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