Avanço do mar deixa saguis ilhados no povoado da Barra Nova
Saguis são alimentados por Zé Borges |
A relação inusitada de um homem com a natureza foi revelada nesta quinta-feira (18), na edição do Jornal da Pajuçara Noite, em reportagem de Rachel Amorim e belas imagens de Deocleciano Passos. Carpinteiro aposentado e pescador nas horas vagas, José Borges assumiu, há seis meses, uma missão admirável, mas que pode ser prejudicial a quem ele ama. Quase diariamente, ele atravessa a Lagoa Manguaba só para alimentar as famílias de saguis que vivem nos bancos de areia formados na Barra Nova.
É sempre o mesmo ritual. Durante vários dias na semana, seu José desce da canoa na restinga e se encarrega de abastecer com comida e água os bichos, nos locais onde vivem. O aposentado acredita que existam cerca de 30 saguis nessas áreas – uma população que já está bem acostumada com a rotina, e aí pode estar o problema.
É sempre o mesmo ritual. Durante vários dias na semana, seu José desce da canoa na restinga e se encarrega de abastecer com comida e água os bichos, nos locais onde vivem. O aposentado acredita que existam cerca de 30 saguis nessas áreas – uma população que já está bem acostumada com a rotina, e aí pode estar o problema.
Seu Zé Borges alimenta os saguis |
Seru Zé Borges dá comida e água diariamente aos saguis |
O avanço do mar provocou mudanças impressionantes na Barra Nova. Áreas de restinga, que são bancos de areia ocupados por manguezais, foram formadas e os saguis ficaram ilhados nesses locais. Ao flagrar um deles lutando pelo pouquinho de água doce que restou na folha de uma árvore depois da chuva, seu Zé Borges decidiu agir.
“Eu vi quando o sagui subiu bem devagar pelo galho, aí ele juntou a folha com as duas mãos, pra sugar aquela gotinha de água que estava lá. Aí eu percebi que aquilo era sede. A partir daí, já no dia seguinte, eu comecei a fazer esse trabalho”, disse o pescador.
"E quando eu não puder fazer?"
O cuidado de Zé Borges com os saguis chamou a atenção de outros moradores da Barra Nova, que passaram a contribuir, doando frutas. São pelo menos três dúzias de bananas e cerca de trinta laranjas distribuídas por dia. Os animais atendem ao chamado dele, um assobio fino parecido com o ruído produzido pelos bichos.
Mas esse exemplo de amor à natureza traz consequências, e seu Zé Borges sabe disso. “Eu acredito que estou fazendo uma coisa certa e ao mesmo tempo errada, porque estou querendo proteger. Mas e quando eu não puder fazer? Quem é que vai fazer por mim?”, indaga, preocupado.
Alimento natural é deixado de lado
O biólogo Iremar Barros explicou que as erosões são fenômenos naturais; a formação de restingas sempre vai ocorrer na natureza e os animais tendem a se adaptar, ainda mais os saguis.
“Esses animais são uma espécie generalista que se alimenta de praticamente tudo, como nós seres humanos. Eles se alimentam de ovos de pequenos pássaros, de insetos, de crustáceos, moluscos, de resinas, de folhas, então o que aparecer na frente dele, ele come”, falou o biólogo.
O que acontece é que agora, com a dependência gerada pela boa-vontade de Zé Borges, os saguis da Barra Nova ficaram mal-acostumados. Até alimentos naturais já começaram a ser deixados de lado. “Eles se alimentam do que está no ambiente deles. Roem as plantas do mangue, caju e naturalmente eles conseguem na natureza o alimento. Mas quando a gente começa a dar alimentos e fornecer água, eles deixam esses recursos naturais e vão se alimentar apenas do que o homem dá”, comentou Barros.
No entanto, mesmo cometendo um erro, embora de forma inconsciente, esse aposentado dá uma lição e tanto. “Se Deus me dá tanta coisa e eu não der um pouquinho do que Deus me dá, estou sendo egoísta demais, não é? Deus me dá muito, um pouquinho que eu dou a alguém ou a algo que precisa não vai me fazer falta nunca. Quem dá amor recebe amor”.
Fonte: http://tnh1.ne10.uol.com.br
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