E a praia se refaz lentamente (PE)

Estudo da área de cartografia da UFPE mostra que alguns trechos de Boa Viagem se recuperam da erosão



O termômetro para medir a qualidade de uma praia bem que poderia ser o tamanho da sua faixa de areia. O comportamento da costa litorânea é uma preocupação dos pesquisadores e o vai e vem da areia pode significar a recomposição da praia ou a perda de sedimentos e a consequente erosão. Boa Viagem, por exemplo, tem seus altos e baixos. Mais altos do que baixos, segundo uma pesquisa feita no departamento de cartografia da UFPE. A pesquisa traduz em números o que a gente observa na prática, mas sem ter a devida dimensão.

Enquanto a erosão corrói e amplia trechos próximos aos paredões de pedra, trazendo estragos e angústias, a praia está se recompondo, naturalmente, em outras áreas e já passou a exibir dunas e vegetação.

O renascimento  da praia
A movimentação da areia foi medida pela pesquisadora Luciana Maria da Silva. Matemática, ela decidiu fazer mestrado na área de engenharia cartográfica utilizando o método fuzzy como subsídio para a espacialização da vulnerabilidade costeira. A pesquisa foi feita em 14 quilômetros entre as praias do Pina e Piedade, no período de 2009 a 2012, tendo como base o ano de 2007. O trecho foi dividido em cinco setores identificando onde houve perda e ganho de areia. “A vantagem desse método é a precisão das variáveis decodificada em números”, revelou a pesquisadora.

No setor 1, entre o Pina e Boa Viagem, em 2009, a recomposição da faixa de areia foi de 62 centímetros. No ano passado, o mesmo trecho teve um aumento de 86 centímetros de areia. Já nos trechos onde a perda de sedimentos era maior, houve redução. Enquanto em 2009, o trecho após o 3º jardim até o cruzamento da Rua Bruno Veloso, a perda de areia chegou a 1,41 metros, em 2012, essa perda foi de 18 centímetros. Do cruzamento da Rua Bruno Veloso até cerca de 400 metros antes do enrocamento (paredão de pedras artificial), a perda de areia que foi de 1,63 metros em 2009, caiu para 0,03 metros em 2012.

Dos cinco setores mapeados o único que teve aumento de perda da faixa de areia foi o setor 4, após o enrocamento da praia de Boa Viagem até 2.088 metros da praia de Piedade. Em 2009, a perda de areia foi de 54 centímetros e em 2012 foi de 79 centímetros. Segundo o oceanógrafo Pedro Pereira do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco, quanto maior a ocupação da faixa de praia, menor será a capacidade de recuperação. “Antes a ocupação crescia cerca de 5 metros e a praia conseguia se recompor em seis metros. Depois chegou um momento que a ocupação interferiu no equilíbrio. Essa recomposição, agora, em alguns trechos é positiva.

Melhor seria se fosse em todo o litoral, mas com a ocupação fica difícil a natureza fazer esse trabalho sozinha”, revelou. A pesquisa também mostra a incapacidade de recuperação natural nas áreas que já sofreram erosão.

A engorda artificial da praia será feita pelo governo do estado nas praias do Recife, Olinda, Paulista e Jaboatão dos Guararapes. Este último já iniciou as obras de recuperação. São cerca de R$ 330 milhões para recuperar 29,6 quilômetros de orla nos quatro municípios. A empresa norte-americana Coasta está elaborando o projeto-executivo dos três municípios e também fez o de Jaboatão.

ENTREVISTA  | LUCIANA MARIA, MATEMáTICA E PESQUISADORA
"O resultado é otimista"
O que a motivou a fazer essa pesquisa na faixa costeira, sendo graduada em matemática?
Eu sou graduada em matemática e estava fazendo mestrado em ciência geodésica, que estuda a forma da Terra. Eu estava atuando especificamente na área costeira e a ideia foi trabalhar uma modelagem que reunisse a matemática com a cartografia costeira. O propósito era verificar se esse tipo de modelagem era válida E o resultado é otimista.

O que esse método tem de diferente do que já vinha sendo feito pelo Departamento de Oceanografia?

Não tenho acesso ao que eles estão trabalhando, mas pelo que entendo da modelagem fuzzy, ela é criteriosa porque consegue trabalhar em áreas de incertezas. Ela vai de zero a um e todos os números que existem entre zero e um.

Esse formato facilitou a realização da pesquisa?
Sim. Permite que a gente pegue cada uma das variáveis e fazer quantas classificações forem necessárias de acordo com área de estudo.

Qual a leitura que se pode fazer dos números?
Dos cinco setores apenas um apresentou um decréscimo de areia. De uma certa forma, podemos ficar mais otimistas, mas desde que haja um gerenciamento costeiro e a manutenção que se precisa fazer. Aí sim podemos ficar cada vez mais otimistas.

Fonte: Diario de Pernambuco

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