Ferramenta vai ajudar especialistas a prever problemas causados por construção de portos e marinas

Cerca de 40% da costa brasileira sofre algum tipo de erosão
(Rodrigo Soldon/Creative Commons)
Brasília – Cerca de 40% da costa brasileira sofre algum tipo de processo de erosão. Apesar de se tratar de um fenômeno natural, a ação humana pode agravar a situação em algumas regiões. A construção de um porto, sem um planejamento que considere todas as condições locais, por exemplo, pode acelerar a degradação de praias e afetar corais.

Ainda não existem formas de prever ou medir o quanto essas interferências afetam o litoral. A expectativa entre especialistas brasileiros é que até o final do ano seja possível simular essas situações com mais precisão. Alguns pesquisadores e técnicos começam a estudar, a partir da semana que vem, um novo programa que é utilizado pelo governo espanhol e está sendo adaptado para a realidade brasileira.

“Essa ferramenta vai apoiar a identificação de critérios e melhorar a construção de obras de engenharia costeira como portos, marinas e píer e apontar ações para enfrentar os problemas de erosão que é o maior problema da nossa costa”, explicou Márcia Oliveira, bióloga do Departamento de Zoneamento Terrestre do Ministério do Meio Ambiente.

A ferramenta inclui uma espécie de banco de dados, com informações sobre marés, ondas, e sobre as condições de um determinado local. A partir desses dados, especialistas vão conseguir simular situações já estabelecidas ou projetos que ainda estão sendo cogitados, como obras de infraestrutura no litoral.

A costa brasileira é uma das mais extensas do mundo, com 7,4 mil quilômetros de praias. A gestão adequada desse patrimônio, com um planejamento prévio, poderia evitar impactos irreversíveis e asseguraria a preservação de grande parte da biodiversidade presente nesses locais.

Professores e especialistas de universidades federais no Rio Grande do Norte, de Pernambuco, de São Paulo, do Espírito Santo e de Santa Catarina e de órgãos de governo, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), serão os primeiros a receber orientações sobre a ferramenta. A partir desse curso, os grupos vão desenvolver cinco estudos de casos para as primeiras avaliações.

“Vamos identificar erros e, no final do ano, afinar a ferramenta e disponibilizar gratuitamente para todas as instituições e universidades”, explicou a bióloga.

A expectativa é que, no início do ano que vem, pesquisadores contem com um software que indique vulnerabilidades como a possibilidade de alteração na direção de correntes marítimas, transporte de sedimentos ou mudanças na dinâmica das praias. “O modelo tenta apresentar cenários do que alteraria uma nova estrutura nesse pedaço do litoral. Você tenta simular porque, a partir desses estudos de tendências, é possível melhorar os projetos ou criar alternativas para mitigar o impacto”, explicou.

Representantes do governo brasileiro também acreditam que, a partir dos cursos de formação no Sistema de Modelagem Costeira (SMC), novos especialistas se formem no país. A análise desse tipo de impacto depende, hoje, de consultorias caras. “Temos poucos engenheiros de costa no Brasil. E você pode ter problemas imensos com essas obras e muitas vezes não tem capacidade técnica para fazer projetos que consideram todas as dinâmicas envolvidas, como ondas e marés”, acrescentou Márcia.

Fonte: www.ebc.com.br

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