Perícia aponta solução emergencial para praia de Ponta Negra, em Natal (RN)

Laudo pericial referente à erosão da praia foi apresentado ao MPE. Engordamento artificial da praia seria a solução imediata, não definitiva.
 
Destruição do calçadão próximos aos hoteis e pousadas da beira mar de Natal
Ao longo de 130 páginas, oito peritos nomeados pelo Ministério Público Estadual, traçaram o perfil geomorfológico e a caracterização físico-oceanográfica da Praia de Ponta Negra, em Natal. O laudo pericial referente à erosão da praia foi apresentado à Promotoria de Defesa do Meio Ambiente e aos representantes da Prefeitura de Natal e do Governo do Estado. Além de detalhar os aspectos relacionados à natureza da praia, o laudo aponta soluções de engenharia emergenciais, que poderão reduzir os danos causados pelo movimento das marés. A falta de areia na praia é o principal problema identificado nesta primeira fase de estudos.

Além da ausência de sedimentos suficientes, os peritos apontaram que o muro de arrimo do calçadão foi construído dentro da faixa dinâmica da praia. "A partir do momento em que as ondas atingem o paramento vertical do muro, elas são refletidas, dobram sua altura e inicia-se um processo hidrodinâmico bastante diverso", analisaram os peritos. Como uma medida emergencial, o corpo técnico formado pelo Ministério Público sugeriu o engordamento artifical da praia, com a colocação de até 180 mil metros cúbicos de areia, divididos em 30 metros cúbicos por metro.
Destruição causada pelo avanço do mar no calçadão da praia de Ponta Negra, cartão postal de Natal | Foto: G1


 
De acordo com o relatório, parte desse montante seria direcionado à região da enseada do Morro do Careca e outra parcela seria deslocada na direção Norte, próximo à Praia de Mãe Luiza. Os peritos confirmaram que as ondas provenientes do sudeste (SE), a cerca de cinco quilômetros ao norte da enseada de Ponta Negra, são aproximadamente 40% maiores do que na área próxima ao Morro. Recomendou-se, analisando-se estes e outros pontos, um engordamento mínimo de 60 mil metros cúbicos e máximo de 180 mil metros cúbicos de areia.

A perícia apontou que a colocação artificial de areia na praia oferece as seguintes vantagens:
  • Pode ser realizada em intervalo de tempo relativamente curto, desde que o projeto seja iniciado logo;
  • Recupera-se a praia, com benefícios ambientais, paisagísticos, sociais e econômicos imediatos;
  • Permite a reconstrução do calçadão e da infraestrutura com equipamento terrestre, sem a incidência de ondas em maré alta ou em qualquer estado de maré, caso a erosão progrida;
  • Em termos construtivos, a construção poderia ser realizada completamente pelo mar, conforme foi executada a recuperação emergencial na praia de Ipanema-Leblon no Rio de Janeiro;
  • Existe evidência suficiente da existência de jazidas de areia média, grossa e muito grossa ao largo de Ponta Negra e ao largo da Ponta de Mãe Luiza, em profundidade da ordem de 10 metros;
  • O volume a ser colocado seria relativamente pequeno, aguardando que se completassem estudos de monitoramento ambiental mais abrangentes;
  • O material colocado em Ponta Negra se distribuiria para Norte, em direção aos hotéis da Via Costeira.
 
Os peritos, entretanto, não recomendaram a construção de obras rígidas, como muros verticais. Eles afirmaram, no relatório, que a "proteção de uma praia com muros verticais (em estacas, de gravidade, entre outros) deve levar em conta a possibilidade de ataque direto das ondas, com arrebentação sobre o muro (caso mais desfavorável)". A perícia destacou que "as fundações de tais obras devem ser cuidadosamente projetadas, de modo a evitar seu solapamento, causado por condições hidrodinâmicas especiais resultantes da reflexão das ondas".

Tal solução não foi recomendada em decorrência dos seguintes fatores: desconhece-se o clima de ondas da região; valoriza-se a manutenção de uma praia em frente ao calçadão, por razões ambientais, sociais, estéticas e paisagísticas; trata-se de obra cujo projeto é mais demorado, especialmente porque demandaria o conhecimento das ondas, do nível de rebaixamento da praia como resultado da reflexão, quantificação de esforços hidráulicos e geotécnicos.

Foi descartada, ainda, a colocação de pedras ao longo da praia como meio de proteção. Visto que, esta modalidade emergencial não tem benefícios claros. Em Recife, por exemplo, uma extensão de cerca de 30 quilômetros de costa foi fixada com auxílio de enrocamento e muros de contenção, com a perda completa da faixa de areia.

Além da sugestão de engordamento artificial da praia, os peritos apontaram as seguintes ações emergenciais:
  • Interromper mobilização mecânicca / manual dos sedimentos;
  • Colocar elementos de baixo custo para dissipação de energia das ondas;
  • Recuperar praia com engordamento artificial com areia D50 maior que nativo;
  • Recuperar saídas de bueiros com dissipadores de energia do fluxo de águas pluviais;
  • Retirar raízes de coqueiro e restos de sacos de areia;
  • Retirar escombros;
  • Utilizar escombros recobertos com areia como proteção temporária do muro;
  • Reempilhar escombros;
  • Colocar sacos de areia para proteger estrutura, escombros, aterro, duna;
  • Inspecionar vazamentos nas redes de água e esgoto instaladas no aterro sob o calçadão;
  • Reconstruir aterro condicionado à recuperação parcial da praia onde houve afundamento;
  • Retirar postes danificados próximoa trechos desmoronados do muro;
  • Direcionar acesso à praia com estruturas leves mais seguras e em número menor;
  • Manter árvores no local ou replantar em outros locais (sombra e paisagem);
  • Recompor o passeio: reassentamento de pedras portuguesas ou deck de madeira (rápida construção);
  • Instalar guarda-corpo na borda do passeio;
  • Reposicionar coletor de lixo.
O laudo será apreciado pela Prefeitura de Natal e Governo do Estado para viabilização das obras.

Fonte: http://m.g1.globo.com/rn

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