Prefeitura quer que Exército reconstrua o calçadão de Ponta Negra (Natal - RN)

Comerciantes e frequentadores ignoram destruição e interdição da praia. Prefeitura não tem conseguido garantir isolamento da área. Foto: Heracles Dantas
Diante da demora na resolutividade do problema no calçadão de Ponta Negra, da inexistência de projetos a curto, médio e longo prazo para conter o avanço do mar e temendo mais estragos com as marés de agosto, tidas como as mais altas do ano, a Prefeitura vai se reunir nos próximos dias com o comandante do Batalhão de Engenharia do Exército Brasileiro para solicitar que o Exército assuma a totalidade da obra, caso tenha a tecnologia necessária para reconstrução do calçadão. “Este é o desejo da Prefeitura”, afirmou o secretário de Serviços Urbanos de Natal (Semsur), Luis Antônio Lopes.

Além do Exército, a Marinha também está engajada em ajudar na reconstrução do calçadão de Ponta Negra. A assessoria de imprensa do Comando do 3º Distrito Naval informou que a Marinha do Brasil está sensibilizada com o problema no calçadão da Praia de Ponta Negra e foi solicitada pela Prefeitura do Natal para contribuir na solução. “O problema não é de fácil e rápida solução. Será fundamental a participação de especialistas em engenharia costeira, na elaboração de um estudo e projeto para a área”, diz a nota da Marinha do Brasil. A Marinha acredita que a Prefeitura, com determinação, conseguirá resolver este problema e está disposta a apoiar no que estiver ao seu alcance.

Luis Antônio Lopes esteve reunido na manhã de hoje com representantes da Marinha do Brasil e do trade turístico para discutir como será a participação de cada um nas atividades de intervenção que estão sendo planejadas para conter o avanço do mar, visando às marés de 2 e 3 de agosto. “Estamos fazendo visitas e monitoramento diários. Na reunião de hoje discutimos como será feito o trabalho para colocar os sacos de areia (big bags), o que deve começar amanhã, como propôs o trade. Como a Marinha não dispõe de tecnologia em curto prazo para fazer uma contenção mais eficaz, ela irá nos ajudar com material humano no trabalho de ensacamento”, explicou o secretário.

O titular da Semsur conta que os sete quiosques que precisam ser relocados por estarem em áreas de risco, começaram a ser transferidos de local na manhã desta quinta-feira (19). A previsão, segundo o titular da Semsur, é que em três dias todos os quiosques sejam relocados para uma área que não tenha sido atingida. O primeiro quiosque a ser retirado foi o de número 13. No quiosque 14 a situação é bem complicada, pois a área no entorno da estrutura já foi destruída e pó alicerce do quiosque está completamente comprometido e sob o risco de desabamento a qualquer momento.

Entretanto, nem todos os comerciantes concordam com a relocação dos quiosques. Francisco Canindé de Lima, proprietário do quiosque 12, há 34 anos trabalha em Ponta Negra. Ele relembrou que apenas em 1972 o mar avançou e trouxe prejuízo à população. De lá para cá, segundo ele, é a primeira vez que o mar destrói o calçadão com esta intensidade. Mesmo com seu quiosque correndo risco de desabamento, ele prefere ficar parado a ter que ser transferido para outro local. “Sou contra esta transferência. Conheço os riscos, mas mudar para outro lugar, significa perder toda a nossa estabilidade, freguesia e estrutura que hoje temos”, disse. Canindé.

Mas, o secretário Luis Antônio Lopes garantiu que a relocação dos quiosques será feita, provisoriamente, para um ponto próximo de instalação elétrica e hidráulica, para tentar manter, a mínima estrutura necessária para funcionamento.

O comerciante conta ainda que a maré não causou mais prejuízos ao quiosque, pois no primeiro dia que a maré começou a causar estragos, ele colocou tabuas e pedras para conter o avanço do mar. “A água batia e amortecia e por isso não tive mais prejuízos. Acredito que a prevenção é a melhor saída e confio que as iniciativas que estão sendo tomadas possam conter a ação das marés de agosto”, disse Francisco Canindé.

Interdição

Durante todo dia, apenas três agentes da Defesa Civil fazem o trabalho de orientação à população a respeito do perigo de transitar pela região afetada. Porém, este trabalho não tem surtido efeito, pois não tem impedido que os pedestres caminhem livremente pelos destroços. Na praia, na região onde não deveria ter nenhuma barraca, mais parece que nada aconteceu. Ontem, enquanto a retroescavadeira fazia a barreira de contenção de areia, os barraqueiros foram orientados a retirar as barracas, mas hoje pela manhã, eles já haviam armados as barracas novamente. Hoje, a retroescavadeira continuou o trabalho de contenção formando barreiras de areia para proteger o calçadão. No entanto, por conta da cheia da maré, o trabalho, que começou por volta das 9h, só pode ser feito até às 11h.

Iolanda dos Santos é comerciante em Ponta Negra há oito anos. Ela conta que foi orientada a não montar sua barraca em local próximo a área destruída, mas disse que se arrisca em trabalhar em meio aos destroços, pois é a única fonte de renda. “Houve a orientação para que não colocássemos as nossas barracas nessa região, mas precisamos então temos que nos arriscar para poder ter o nosso ganha pão. Ainda assim, o fluxo de turista nessa região é muito pequeno. Há três dias que não vendemos quase nada. Falam muito, mas não tenho esperança de que possam resolver esse problema novo, pois a maré está avançando e levando tudo de novo”, afirmou a comerciante.
Além disso, hoje pela manhã, dezenas de garis da Companhia de Serviços Urbanos de Natal (Urbana) realizaram um mutirão de limpeza pela orla da praia, pois como as marés altas batem no calçadão, carregam pela praia, os destroços e os restos que sobrou do calçadão de Ponta Negra. Nenhum fiscal da Semurb e da Semsur estava no local durante o período em que a reportagem do jornal esteve na praia.

Raimundo Lourenço trabalha como vendedor ambulante há 12 anos em Ponta Negra criticou a demora da Prefeitura em buscar uma solução rápida e eficaz para o problema. Raimundo teme que as próximas marés possam trazer mais problemas. “Sonhei que a próxima maré iria destruir todo o calçadão e não precisa de sonho, pois é uma coisa bem previsível e não fazem nada. O que estão fazendo (o muro de contenção de areia) não adianta muita coisa, pois eles fazem e o mar desfaz”, disse.
 
Fonte: http://jornaldehoje.com.br

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