Mar avança e 'engole' praias no RN
Em Ponta Negra, praia mais famosa do Rio Grande do Norte, a força das águas está destruindo o calçadão. Foto: Rodrigo Sena |
Mesmo com todos os avisos de estudiosos e os inúmeros prejuízos financeiros já registrados ao longo do litoral potiguar, o poder público não tem qualquer projeto que vise amenizar os efeitos do avanço do mar no Rio Grande do Norte. Estudos apontam há décadas que o problema é sério e só tende a piorar. Além de Ponta Negra - que está em estado de calamidade devido a destruição do calçadão - outras 16 praias do litoral têm situação crítica em relação à erosão. A TRIBUNA DO NORTE visitou algumas dessas praias e mostra o cenário de destruição e as tentativas frustadas de impedir o avanço das águas.
Sem projetos para conter o avanço do mar
Os sábios afirmam que contra a força da natureza não há muralha, obra de engenharia ou invenção tecnológica que resista, quando aquela se manifesta de forma abrupta. Seja através dos ventos, tempestades ou pelo movimento das marés, as ações naturais, em alguns casos, causam devastação e alertam populações quanto ao desenfreado e irresponsável crescimento das cidades em áreas irregularmente ocupadas. Especialistas afirmam que o cenário de guerra que se formou na praia de Ponta Negra nos últimos dias é a prova de inúmeras ações humanas inconsequentes.
Esta realidade, porém, não se resume somente a um dos mais conhecidos cartões postais do Rio Grande do Norte. Os processos erosivos afetam mais de 60% das praias potiguares e causam, além de tristeza e frustração, prejuízos econômicos aos moradores que assistem suas casas serem levadas pelas águas do mar. "Se tivesse sido só a casa, tudo bem. A gente construiu outra. Mas são lembranças de uma vida", relembrou o pescador aposentado Emanoel Joaquim Filho, de 67 anos. Debaixo do que restou da estrutura do antigo Mercado Público de Caiçara do Norte, às margens do mar, ele aponta onde era sua casa, distante cerca de 50 metros praia adentro. "O mar foi avançando e destruindo tudo. Nós tivemos que ir recuando. E continua avançando", adverte Emanoel.
Ao longo de 50 anos, três ruas foram levadas pelas marés naquele município. Os 14 gabiões - estruturas de pedra bruta revestida por telas de proteção - de 45 metros comprimento e quatro de altura, erguidos a partir de 1986 com o intuito de reduzir o impacto da quebra das ondas, não impede que o mar avance cidade a dentro nos períodos de ressaca, entre os meses de dezembro e fevereiro. "As primeiras destruições causadas pelo avanço das marés ocorreram nos anos 80. Existia uma faixa de quase 100 metros para chegar no mar, hoje tem menos da metade", comenta o presidente da Colônia de Pescadores de Caiçara do Norte, Godofredo Nunes Cacho. O processo de erosão que ocorre em Caiçara do Norte atinge pelo menos mais quatro praias potiguares de forma severa - Graçandú, São Bento do Norte, Touros e Macau - e, coincidentemente, todas localizadas no litoral setentrional (parte Norte do estado).
PROCESSO
De acordo com o professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Marcelo dos Santos Chaves, o avanço do mar é um processo geológico milenar e que tem ligação direta com a mudança do eixo da Terra. "Em alguns milhões de anos, já foram identificados 16 processos de aquecimento e resfriamento global. O aumento ou diminuição do nível do mar é cíclico e a culpa do que está atualmente ocorrendo é do homem, que constrói em locais inadequados e não respeita a legislação", afirma. O professor faz referência à Lei 9.760 de 1946, que discorre sobre os terrenos de marinha, que compreendem uma faixa de 33 metros de terra a contar da preamar média de 1831 no sentido da costa. Esta quantidade de metros corresponde, segundo relatos históricos, a 15 braças, que seria a largura suficiente para um exército marchar em defesa do Rei de Portugal.
Nas regiões mais povoadas ou cobiçadas do litoral potiguar, seja pelas belezas naturais ou pelo potencial turístico, além do trecho de marinha não ser respeitado, os bancos de areia foram reduzidos em até 180 metros com o avanço do mar. "Em menos de 10 anos, o mar já invadiu quase 200 metros na praia da Soledade, em Macau", relata o professor Marcelo Chaves. Ele destaca, entretanto, que o avanço do mar é um processo lento e gradual que não ocorre do dia para a noite. "Há inúmero pontos de erosão no RN que são pouco conhecidos", alerta. A erosão costeira atinge hoje cerca de 57% das praias de todo o planeta e os custos para a recuperação dos trechos erodidos são bilionários. A União Europeia, por exemplo, gastou cerca de 3,2 bilhões de euros em 2003 na tentativa de recuperar as praias.
Sem projetos para conter o avanço do mar
Os sábios afirmam que contra a força da natureza não há muralha, obra de engenharia ou invenção tecnológica que resista, quando aquela se manifesta de forma abrupta. Seja através dos ventos, tempestades ou pelo movimento das marés, as ações naturais, em alguns casos, causam devastação e alertam populações quanto ao desenfreado e irresponsável crescimento das cidades em áreas irregularmente ocupadas. Especialistas afirmam que o cenário de guerra que se formou na praia de Ponta Negra nos últimos dias é a prova de inúmeras ações humanas inconsequentes.
Esta realidade, porém, não se resume somente a um dos mais conhecidos cartões postais do Rio Grande do Norte. Os processos erosivos afetam mais de 60% das praias potiguares e causam, além de tristeza e frustração, prejuízos econômicos aos moradores que assistem suas casas serem levadas pelas águas do mar. "Se tivesse sido só a casa, tudo bem. A gente construiu outra. Mas são lembranças de uma vida", relembrou o pescador aposentado Emanoel Joaquim Filho, de 67 anos. Debaixo do que restou da estrutura do antigo Mercado Público de Caiçara do Norte, às margens do mar, ele aponta onde era sua casa, distante cerca de 50 metros praia adentro. "O mar foi avançando e destruindo tudo. Nós tivemos que ir recuando. E continua avançando", adverte Emanoel.
Ao longo de 50 anos, três ruas foram levadas pelas marés naquele município. Os 14 gabiões - estruturas de pedra bruta revestida por telas de proteção - de 45 metros comprimento e quatro de altura, erguidos a partir de 1986 com o intuito de reduzir o impacto da quebra das ondas, não impede que o mar avance cidade a dentro nos períodos de ressaca, entre os meses de dezembro e fevereiro. "As primeiras destruições causadas pelo avanço das marés ocorreram nos anos 80. Existia uma faixa de quase 100 metros para chegar no mar, hoje tem menos da metade", comenta o presidente da Colônia de Pescadores de Caiçara do Norte, Godofredo Nunes Cacho. O processo de erosão que ocorre em Caiçara do Norte atinge pelo menos mais quatro praias potiguares de forma severa - Graçandú, São Bento do Norte, Touros e Macau - e, coincidentemente, todas localizadas no litoral setentrional (parte Norte do estado).
PROCESSO
De acordo com o professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Marcelo dos Santos Chaves, o avanço do mar é um processo geológico milenar e que tem ligação direta com a mudança do eixo da Terra. "Em alguns milhões de anos, já foram identificados 16 processos de aquecimento e resfriamento global. O aumento ou diminuição do nível do mar é cíclico e a culpa do que está atualmente ocorrendo é do homem, que constrói em locais inadequados e não respeita a legislação", afirma. O professor faz referência à Lei 9.760 de 1946, que discorre sobre os terrenos de marinha, que compreendem uma faixa de 33 metros de terra a contar da preamar média de 1831 no sentido da costa. Esta quantidade de metros corresponde, segundo relatos históricos, a 15 braças, que seria a largura suficiente para um exército marchar em defesa do Rei de Portugal.
Nas regiões mais povoadas ou cobiçadas do litoral potiguar, seja pelas belezas naturais ou pelo potencial turístico, além do trecho de marinha não ser respeitado, os bancos de areia foram reduzidos em até 180 metros com o avanço do mar. "Em menos de 10 anos, o mar já invadiu quase 200 metros na praia da Soledade, em Macau", relata o professor Marcelo Chaves. Ele destaca, entretanto, que o avanço do mar é um processo lento e gradual que não ocorre do dia para a noite. "Há inúmero pontos de erosão no RN que são pouco conhecidos", alerta. A erosão costeira atinge hoje cerca de 57% das praias de todo o planeta e os custos para a recuperação dos trechos erodidos são bilionários. A União Europeia, por exemplo, gastou cerca de 3,2 bilhões de euros em 2003 na tentativa de recuperar as praias.
Fonte: Tribuna do Norte
Comentários
Postar um comentário